13/03/2024
Leia Lucas 20.27-40
Em primeiro lugar, vemos nesses versículos que a incredulidade é um pecado muito antigo. Dirigiram-se a nosso Senhor "alguns dos saduceus, homens que dizem não haver ressurreição". Mesmo entre os judeus, com homens de fé como Abraão, Isaque, Jacó, Moisés e Samuel, Davi e os profetas, percebemos que existiam incrédulos ousados, destemidos e descarados. Se esse tipo de incredulidade existia em meio ao povo peculiar de Deus, qual deveria ser o estado espiritual dos outros povos? Se tais coisas existiam na árvore verde, o que dizer sobre a condição da árvore seca? Nunca devemos ficar surpresos quando ouvimos falar de infiéis, hereges, deístas e pensadores livres que surgem no meio da Igreja e atraem após si muitos seguidores. Não devemos considerá-los uma coisa rara e estranha. É apenas uma das muitas provas de que o ser humano é uma criatura caída e corrupta. Desde o dia em que Satanás disse a Eva: "É certo que não morrereis" (Gn 3.4), e ela acreditou, nunca faltou uma constante sucessão de formas de incredulidade. Não há novidade em nenhuma das teorias modernas de incredulidade. Todas são uma antiga enfermidade servindo-se de um novo nome. Todas são cogumelos que brotam espontaneamente na estufa da natureza humana. Na realidade, não é algo admirável que se levantem tantas pessoas questionando a veracidade das Escrituras. Admirável é que, neste mundo caído em pecado, a seita dos saduceus possua um número tão reduzido.
Confortemo-nos com o pensamento de que, com o passar dos anos, a verdade sempre prevalecerá. Aqueles que a defendem podem ser insignificantes, e seus argumentos, bastante frágeis; mas existe um poder inerente na própria causa que a mantém viva. Incrédulos ousados, como Porfírio, Juliano, Hobbes, Hume, Voltaire e Paine, surgem ocasionalmente e produzem agitação no mundo. No entanto, esse tipo de homem não causa uma impressão duradoura. Desaparecem como os saduceus, indo para seu próprio lugar. As grandes evidências do cristianismo permanecem, tais como as pirâmides, firmes e inabaláveis. As portas do inferno não prevalecerão contra a verdade de Cristo (Mt 16.18).
Em segundo lugar, vemos nesses versículos que os incrédulos utilizam acontecimentos hipotéticos como sua arma favorita. Os saduceus apresentaram a nosso Senhor a dificuldade proveniente de uma mulher que se casara sucessivamente com sete irmãos. Eles confessaram seu desejo de saber de quem ela seria esposa "no dia da ressurreição". A intenção da pergunta é clara e evidente. Eles pretendiam desdenhar de toda a doutrina da vida vindoura. Não podemos imaginar que as coisas referidas sobre a mulher realmente tenham acontecido. Existem elevadas probabilidades de que a história tenha sido inventada para aquela ocasião, a fim de criar dificuldade e suscitar um argumento contra Jesus.
Sempre encontraremos um tipo de raciocínio semelhante se convivermos com pessoas que têm um modo de pensar céptico. Algumas dificuldades e complicações imaginárias, em especial aquelas provavelmente vinculadas ao estado das coisas no mundo vindouro, com frequência constituirão os fortes argumentos de um incrédulo. Ele "não pode entender"; "não é capaz de harmonizá-la. Para ele, essa doutrina parece "revoltante e absurda". Ofende seu bom senso. Essa é a linguagem que, habitualmente, os incrédulos empregam.
Esse tipo de raciocínio nunca deveria abalar-nos, nem mesmo por um instante. Por um lado, não precisamos tributar importância a acontecimentos imaginários ou hipotéticos. Haverá tempo suficiente para discutirmos sobre tais casos, quando eles realmente se realizarem. Para nós, basta conversarmos sobre os fatos como eles ocorrem. Por outro lado, é apenas desperdício de tempo especular sobre dificuldades relacionadas a um estado de existência em uma vida vindoura. Sabemos tão pouco a respeito de qualquer coisa além do mundo visível ao nosso redor que somos juízes tolos no que diz respeito àquilo que é possível ou não no mundo invisível. Milhares de coisas relacionadas à vida além-túmulo têm de ser necessariamente ininteligíveis para nós no momento. Enquanto isso, devemos esperar com paciência. O que não sabemos agora saberemos mais tarde.
Em terceiro lugar, vemos nesses versículos algo do verdadeiro caráter da existência dos santos no mundo vindouro. Nosso Senhor respondeu aos saduceus: "Os que são havidos por dignos de alcançar a era vindoura e a ressurreição dentre os mortos não casam, nem se dão em casamento. Pois não podem mais morrer, porque são iguais aos anjos".
Duas verdades tornam-se evidentes na descrição sobre o estado dos santos na glória. A primeira é que sua felicidade não será carnal, mas, sim, espiritual. "Não casam, nem se dão em casamento." O corpo de glória será muito diferente daquele em que agora vivemos. Não será mais um embaraço nem representará um obstáculo à natureza espiritual do crente. Será uma habitação adequada para uma alma glorificada. A segunda é que a felicidade dos santos será eterna. "Pois não podem mais morrer." Nenhum nascimento será necessário para suprir as constantes lacunas causadas pela morte física. Fraqueza, enfermidades e doenças não mais existirão. A maldição será removida. A morte será aniquilada.
A natureza daquilo que chamamos "céu" é um assunto que, com frequência, deve ocupar nossos pensamentos. Poucos assuntos espirituais são destinados a trazer à luz a completa tolice dos incrédulos e o terrível perigo em que se encontram. Um céu no qual toda a alegria é espiritual realmente não é um céu para uma pessoa não convertida! De modo semelhante, poucos assuntos destinam-se a fortalecer e animar a mente do verdadeiro cristão. A santidade de vida e a espiritualidade que o crente persegue nesta vida serão a própria atmosfera de sua eterna habitação. Sua mente nunca mais será distraída por preocupações com relacionamentos familiares. O temor da morte não mais o trará em servidão. Por isso, o crente deve seguir adiante e levar pacientemente sua cruz. O céu compensará todas as nossas deficiências.
Por último, vemos nesses versículos a antiguidade da crença na ressurreição. Nosso Senhor demonstrou que a ressurreição era crida por Moisés. "E que os mortos hão de ressuscitar, Moisés o indicou no trecho referente à sarça."
A fé na ressurreição e na vida vindoura tem constituído a crença universal de todo o povo de Deus, desde o início do mundo. Abel, Enoque, Noé, Abraão e todos os patriarcas foram homens que olharam adiante, contemplando uma herança melhor do que possuíam na terra. Eles aguardavam "a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador"; anelavam "uma pátria superior, isto é, celestial" (Hb 11.10-16). As palavras seguintes, extraídas das normas de uma igreja, são claras e inconfundíveis: "Não devemos dar crédito àqueles que imaginam que os antepassados contemplavam apenas as promessas transitórias". Esse testemunho é verdadeiro.
Devemos firmar nossa alma na grande verdade fundamental de que ressuscitaremos. Não importa o que dizem os saduceus modernos ou antigos, creiamos com toda a segurança: não somos semelhantes aos animais, que perecem. Também creiamos que "haverá ressurreição, tanto de justos como de injustos" (At 24.15). Recordar essa verdade nos fortalecerá no dia da provação e nos trará conforto na hora da morte. Perceberemos que, embora nos falte a prosperidade terrena, existe uma vida vindoura, na qual as coisas não mudam. Saberemos que, embora os vermes venham a destruir nosso corpo no sepulcro, na carne ainda veremos a Deus (Jó 19.26). Nosso corpo não permanecerá para sempre no sepulcro. Nosso Deus "não é Deus de mortos, e sim de vivos".
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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