20/12/2024
Leia João 21.15-17
Esses versículos descrevem a notável conversa entre nosso Senhor Jesus Cristo e o apóstolo Pedro. Para o leitor atento que recorda ter Pedro negado o Senhor por três vezes, essa passagem constitui uma porção profundamente interessante das Escrituras. Seria bom para a Igreja de
Cristo se todas as conversas vespertinas entre os crentes fossem tão edificantes e úteis quanto esta. Em primeiro lugar, devemos notar a pergunta do Senhor Jesus dirigida a Pedro: "Simão, filho de João, amas-me mais do que estes outros?". Por três vezes, o Senhor fez a mesma pergunta. Parece mais provável que essa tripla repetição tinha o objetivo de recordar ao apóstolo as três vezes em que ele negara o Senhor. Pelo menos na primeira ocasião, encontramos um acréscimo à pergunta: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes outros? É razoável supor que as três palavras "mais do que" tinha o propósito de recordar a Simão Pedro sua confiante declaração: "Ainda que todos se escandalizem, eu, jamais". Era como se nosso Senhor estivesse dizendo-lhe: "Agora você se exaltará acima dos outros? Você ainda não aprendeu a sua própria fraqueza?".
"Tu me amas?", essa talvez pareça ser uma indagação simples. Em certo sentido, realmente é. No entanto, "Tu me amas?" é, na verdade, uma pergunta perscrutadora. Podemos fazer, declarar, saber, falar, dar, progredir e demonstrar muitas coisas em nossa vida religiosa, mas, apesar de tudo isso, podemos estar mortos para Deus, faltando em nós o amor para com ele, e, por fim, seremos lançados na condenação eterna. Amamos a Cristo? Essa é a grande questão. Sem isso, não há vitalidade em nosso cristianismo; não somos melhores do que estátuas de cera e animais empalhados de um museu ou do que o bronze que ressoa e o címbalo que retine. Não existe vida onde não existe amor.
Estejamos atentos para que haja sentimentos em nossa vida espiritual. Conhecimento, ortodoxia, opiniões corretas, uso regular de formalidades e uma vida moral respeitável - nada disso produz um verdadeiro cristão. Temos de manifestar verdadeiro amor por Cristo. Sem dúvida, os sentimentos, quando sozinhos, são coisas inúteis e sem valor; podem estar presentes num dia e não no outro. Porém, a completa ausência de sentimentos em nossa vida espiritual é um péssimo sintoma e denuncia o mau estado da alma de uma pessoa. Os homens e as mulheres para os quais o apóstolo Paulo escreveu suas epístolas tinham sentimentos e deles não se envergonhavam. Havia alguém nos céus a quem eles amavam; era Jesus Cristo, o Filho de Deus. Esforcemo-nos para ser semelhantes a eles e tenhamos sentimentos verdadeiros em nosso cristianismo, se temos a esperança de compartilhar dessa recompensa.
Em segundo lugar, devemos notar a resposta de Pedro à indagação do Senhor Jesus. Três vezes o apóstolo disse: "Senhor, tu sabes que te amo". E uma vez ele afirmou: "Senhor, tu sabes todas as coisas". Também uma vez encontramos a comovente observação de que Pedro "entristeceu-se por ele lhe ter dito, pela terceira vez: Tu me amas?". Não duvidemos de que nosso Senhor, à semelhança de um médico habilidoso, intencionalmente provocou essa tristeza. Ele desejava tocar a consciência do apóstolo e ensinar-lhe uma lição solene. Se Pedro ficou triste por ter sido questionado, quanto mais deve ter-se entristecido nosso Senhor por ter sido negado!
A resposta que o humilde apóstolo deu é uma explicação que os verdadeiros servos de Cristo podem oferecer, em todas as ocasiões, no que se refere à sua vida espiritual. Um servo de Cristo pode ser fraco, instável, temeroso, ignorante e falho em diversas coisas, mas, afinal de contas, ele é sincero e verdadeiro. Pergunte-lhe se é convertido, se é um crente, se desfruta de graça, se está justificado, se é um eleito ou um filho de Deus - faça-lhe qualquer uma dessas perguntas e talvez ele responda que não sabe muito bem. Mas pergunte-lhe se ama Cristo, e ele responderá: "Sim, eu o amo". Provavelmente acrescentará que não o ama tanto quanto deveria; no entanto, jamais dirá que não o ama de maneira alguma. Esse princípio se mostrará verdadeiro com poucas exceções. Onde existe a verdadeira graça de Deus, ali também há um amor consciente a Cristo.
Afinal de contas, qual é o grande segredo de amar a Cristo? É um sentimento íntimo de haver recebido dele o perdão dos pecados. Amam intensamente a Cristo aqueles que se sentem muitíssimo perdoados. Aquele que, com todos os seus pecados, veio a Jesus, experimentou a bênção do perdão gratuito e completo, esse é o homem que terá um coração repleto de amor para com seu Salvador. Quanto mais compreendemos que Cristo sofreu por nós e pagou nosso débito diante de Deus e que somos justificados e lavados por meio do sangue de Cristo, mais o amaremos por nos ter amado e entregue sua própria vida por nós. Podemos ter um conhecimento imperfeito das doutrinas: nossa habilidade para defender nossas opiniões através de argumentos pode ser insignificante. Mas não podemos ser impedidos de ter nossos sentimentos; e estes
podem ser semelhantes aos do apóstolo Pedro: "Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo". Por último, devemos notar a ordem que o Senhor Jesus deu a Pedro. Por três vezes, encontramos o Senhor ordenando a Pedro: "Apascenta as minhas ovelhas". Podemos duvidar de que esse encargo, repetido por três vezes, estava repleto de significado? Tinha o objetivo de novamente comissionar Pedro a realizar a obra de um apóstolo, apesar de seu recente tropeço. Mas isso era apenas uma parte do significado, que tinha como alvo ensinar a Pedro e a toda a Igreja a majestosa lição de que ser útil aos outros é a grande prova de amor, e de que trabalhar para Cristo é a grande comprovação de que realmente o amamos.
A evidência de que alguém é um verdadeiro discípulo de Cristo não é o falar com entusiasmo ou a simples afirmação de que cremos nele, nem o zelo impetuoso e ocasional, tampouco a prontidão de pegar a espada e lutar; é o persistente, árduo e paciente esforço para fazer o bem às ovelhas de Cristo espalhadas por este mundo pecaminoso. Esse é o segredo genuíno da grandeza de um cristão. Está escrito: "Quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Mt 20.26-28).
Esse último encargo entregue por nosso bendito Senhor deve permanecer em nossas consciências e tornar-se uma prática de nossa vida diária. Podemos estar certos de que não foi em vão que essas coisas foram relatadas para nosso ensino, pouco antes de nosso Senhor ter deixado o mundo. Devemos almejar uma religião repleta de amor, realização, utilidade, serviço árduo, altruísmo e bondade despretensiosa. Nosso desejo diário deve ser pensar nos outros, cuidar deles, fazer-lhes o bem, a fim de amenizar a tristeza e aumentar a alegria deste mundo pecaminoso. Agir desse modo equivale a cumprir o grande princípio que nosso Senhor, por meio dessa ordem, tencionava ensinar a Pedro. Trabalhando e procurando conduzir nossas vidas desse modo, descobriremos que são abundantemente verdadeiras as seguintes palavras: "Mais bem-aventurado é dar que receber" (At 20.35).
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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