11/12/2024
Leia João 20.24-31
A história da incredulidade de Tomé, relatada nesses versículos, é característica do evangelho de João. Por sábias e boas razões, ela não foi mencionada por Mateus, Marcos e Lucas; e provavelmente tornou-se conhecida para o mundo cristão somente depois que Tomé já havia morrido. Essa é uma das narrativas bíblicas que fornece enorme evidência interna no que diz respeito à sinceridade dos autores das Escrituras. Se impostores e enganadores tivessem escrito a Bíblia em busca de vantagem pessoal, jamais teriam contado à humanidade que um dos fundadores da nova religião se comportou da maneira como Tomé agiu nessa ocasião.
Em primeiro lugar, devemos notar que os crentes perdem muito em não assistir regularmente às reuniões do povo de Deus. Tomé estava ausente quando, pela primeira vez, o Senhor Jesus apareceu para os discípulos, após a sua ressurreição; por causa disso, Tomé perdeu uma grande bênção. Evidentemente, não temos uma prova concreta que justificasse a ausência desse apóstolo. Entretanto, naquele momento de grande aflição na vida dos onze apóstolos, parece improvável que ele tivesse algum bom motivo para não estar junto a seus irmãos; é provável que, de alguma maneira, ele tivesse culpa. Uma coisa é certa e evidente: por estar ausente, ele foi mantido em incredulidade e suspense durante uma semana, enquanto todos os outros se regozijavam em pensar no Senhor já ressuscitado. É difícil supor que as coisas teriam sido diferentes se não houvesse alguma culpa da parte de Tomé. Não podemos deixar de pensar que ele estava ausente quando poderia estar presente.
Todos nós devemos sempre lembrar a exortação do autor sagrado: "Não deixemos de nos congregar, como é costume de alguns" (Hb 10.25). Jamais estar ausente da casa de Deus aos domingos, sem ter um motivo justo; nunca faltar à participação na Ceia do Senhor, quando ministrada na igreja, e jamais desprezar os meios da graça - esse é o único meio de sermos crentes saudáveis e fortes. Os sermões que desnecessariamente perdemos podem conter uma palavra preciosa em ocasiões oportunas para nossas almas. Os cultos e as reuniões de oração das quais nos mantemos distantes talvez sejam as reuniões que poderiam confortar, fortalecer e vivificar nossos corações. Pouco imaginamos quanto nossa saúde espiritual depende desses pequenos, regulares e habituais recursos, e quanto sofremos se não os aproveitamos.
O crente deve rejeitar o perverso argumento de que servir-se dos meios da graça não traz qualquer benefício para aqueles que deles se utilizam. Esse argumento pode satisfazer os que estão cegos quanto à sua própria situação e não possuem a graça divina; porém, jamais deve contentar um verdadeiro servo de Cristo. Esse precisa recordar as palavras de Salomão: "Feliz o homem que me dá ouvidos, velando dia a dia às minhas portas, esperando às ombreiras da minha entrada" (Pv 8.34). Acima de tudo, o crente deve arraigar-se à promessa do Senhor Jesus: "Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles" (Mt 18.20). Um homem assim raramente passará por uma experiência semelhante à de Tomé, sentindo frio na desagradável câmara da incredulidade, enquanto os outros estavam aquecidos e felizes. Em segundo lugar, devemos notar quão amável e misericordioso é o Senhor Jesus Cristo para com os crentes insensíveis e lentos. Em nenhuma outra parte dos quatro evangelhos, encontramos esse aspecto do caráter de nosso Senhor tão bem ilustrado quanto no incidente agora relatado. Não podemos imaginar uma atitude tão provocante e desagradável quanto a de Tomé, quando nem mesmo o testemunho de dez irmãos fiéis surtiu qualquer efeito e, com pertinácia, ele declarou: "Se eu não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, e ali não puser o dedo, e não puser a mão no seu lado, de modo algum acreditarei". Porém, é difícil pensarmos em uma atitude mais compassiva e paciente do que a de nosso Senhor ao lidar com esse discípulo frágil. Ele não o rejeitou, não o desprezou, nem o excomungou. Ao final da semana, Jesus aparece de novo e, em especial, para o benefício de Tomé. O Senhor aborda-o de acordo com sua fragilidade, assim como um médico trata uma crianca voluntariosa: "E logo disse a Tomé: Põe aqui o dedo e vê as minhas mãos; chega também a mão e põe-na no meu lado" Se nenhuma outra coisa o satisfaria, exceto a mais gritante e simples evidência fisica, essa lhe seria dada. Certamente essa foi uma demonstração do amor que excede todo entendimento e da paciência que ultrapassa qualquer compreensão.
Podemos ter certeza de que uma passagem como essa foi escrita para fornecer consolo a todos os verdadeiros crentes. O Espírito Santo sabia muito bem que o tipo mais comum de crente que existe neste mundo perverso são os fracos, indolentes e duvidosos. Ele cuidou em providenciar provas abundantes de que Jesus é riquíssimo em paciência e compaixão e de que suporta as fraquezas de seu povo. Esforcemo-nos para demonstrar a mesma atitude de nosso Senhor e seguir o seu exemplo. Jamais menosprezemos as pessoas, considerando-as perdidas e sem a graça divina, porque seu amor não é intenso e sua fé se mostra inconsistente. Lembremo-nos de como ele lidou com Tomé e sejamos compassivos e misericordiosos. Nosso Senhor tem muitos filhos deficientes em sua família, muitos soldados inexperientes em seu exército e muitas ovelhas mancas em seu rebanho. No entanto, ele suporta todas elas e não as lança fora. Feliz é o crente que aprendeu a lidar de maneira semelhante com seus irmãos. Na igreja, existem muitos que, à semelhança de Tomé, são indolentes e demorados; mas, apesar disso, são verdadeiros servos de Cristo.
Por último, devemos notar que o Senhor Jesus não proibiu nem rejeitou a atitude de um de seus discípulos ao chamá-lo "Deus". A nobre exclamação proveniente dos lábios de Tomé, ao ficar convencido de que o Senhor realmente ressurgira dentre os mortos, "Senhor meu e Deus meu!", admite apenas um significado. Era um testemunho evidente da bendita divindade de nosso Senhor; uma inconfundível e nítida afirmação de que Tomé acreditava ser não apenas homem, mas também Deus a Pessoa que ele havia tocado e visto naquele dia. Antes de tudo, foi um testemunho que nosso Senhor recebeu, sem proibir, e uma declaração sobre a qual ele não pronunciou qualquer palavra de censura. Quando Cornélia se prostrou diante de Pedro e quis adorá-lo, o apóstolo imediatamente recusou essa honra, "dizendo: Ergue-te, que eu também sou homem" (At 10.26). Quando as pessoas de Listra quiseram oferecer sacrifícios ao apóstolo Paulo e Barnabé, estes, "rasgando as suas vestes, saltaram para o meio da multidão, clamando: Senhores, por que fazeis isto? Nós também somos homens como vós, sujeitos aos mesmos sentimentos" (At 14.14-15). Porém, quando Tomé declarou a Jesus: "Senhor meu e Deus meu", não recebeu qualquer palavra de reprovação da parte de nosso Senhor, que é santo e ama a verdade. Temos dúvida de que essas coisas foram escritas para nosso ensino?
Gravemos com firmeza em nossas mentes o fato de que a divindade de Cristo é um das grandes verdades fundamentais do cristianismo; estejamos dispostos a morrer, em vez de renunciar a ela. Visto que o Senhor Jesus é o próprio Deus, existe um propósito para a expiação, a advocacia, a mediação, o sacerdócio e toda a obra de redenção realizada por ele. Essas gloriosas doutrinas seriam blasfêmias inúteis se Cristo não fosse divino. Devemos sempre louvar a Deus porque a divindade de nosso Senhor está ensinada em toda a Escritura e permanece com evidências que não podem ser desprezadas. Acima de tudo, precisamos, com toda confiança, fazer nossas almas descansarem diariamente em Cristo, como aquele que é Deus e homem perfeito. Ele é homem; por conseguinte, é capaz de se comover ao sentir nossas fraquezas. Ele é Deus; "por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus" (Hb 7.25). Não tem qualquer motivo de temor o crente que, pela fé, olha para Jesus e, assim como Tomé, afirma: "Senhor meu e Deus meu". Possuindo um Salvador como Jesus, não precisamos ter medo de começar a genuína vida cristã, pois, com ele, prosseguiremos ousadamente.
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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