20/12/2024
Leia João 21.18-25
Esses versículos constituem a conclusão do Evangelho de João e trazem-nos ao final
do mais precioso livro da Bíblia. Precisamos ter compaixão daquela pessoa que não lê
essa passagem com pensamentos sérios e solenes. Ler esses versículos assemelha-se a ouvir as palavras finais de um amigo que provavelmente não ouviremos outra vez.
Em primeiro lugar, aprendemos que a futura história dos crentes, tanto na vida como na morte, é conhecida de antemão por Cristo. O Senhor Jesus disse a Simão Pedro: "Em verdade, em verdade, te digo que, quando eras mais moço, tu te cingias a ti mesmo e andavas por onde querias; quando, porém, fores velho, estenderás as mãos, e outro te cingirá e te levará para onde não queres". Essas palavras, sem controvérsia, foram uma predição referente à maneira como o apóstolo morreria. Comumente, supõe-se que elas se cumpriram nos anos posteriores, quando Pedro, como mártir, foi crucificado por amor a Cristo. A época, a maneira, as agonias da morte daquele discípulo - tudo foi visto antecipadamente por nosso Senhor. Essa verdade está repleta de consolo para o verdadeiro cristão. Saber com antecedência coisas que acontecerão, em muitos casos, pode ser um triste legado. Estarmos cientes de fatos que nos acontecerão e, ao mesmo tempo, sermos incapazes de evitá-los apenas nos tornaria infelizes. No entanto, é uma indizível consolação lembrar que todo o nosso futuro é conhecido e foi antecipadamente disposto por Cristo. Não há sorte, acaso ou acidente na jornada de nossas vidas. Desde o início até o final, tudo está previsto e disposto por aquele que é infinitamente sábio para cometer algum erro e muitíssimo amável para nos causar qualquer mal.
Entesouremos essa verdade em nossos corações, aplicando-a com diligência em todos os dias de sofrimentos que ainda teremos de viver. Em dias tais, devemos descansar neste pensamento: "Cristo está ciente e sabia dessa circunstância quando me chamou para ser seu discípulo". E tolice lamentar e nos queixar dos problemas daqueles que amamos. Antes, devemos descansar no pensamento de que tudo está sendo bem conduzido pelo Senhor. A rebeldia e a irritação são inúteis quando nós mesmos temos cálices amargos para beber. Pelo contrário, deveríamos dizer: "Isso também procede do Senhor; ele o viu com antecedência e poderia tê-lo impedido, se não contribuísse para o meu benefício". Felizes são aqueles que demonstram a mesma atitude do crente que, em certa ocasião, disse: "Fiz uma aliança com meu Senhor; jamais considerarei errada qualquer coisa que ele faz por mim". Às vezes, temos de andar por lugares escarpados em nossa jornada para o céu. Com certeza, este é um pensamento que nos tranquiliza e acalenta: "Todos os passos de minha jornada eram conhecidos de antemão por Cristo".
Em segundo lugar, aprendemos com esses versículos que a morte de um crente tem por objetivo glorificar a Deus. O Espírito Santo nos revela essa verdade em uma linguagem clara. Ele, graciosamente, interpretou as difíceis palavras que proferiram os lábios de nosso Senhor, mostrando-nos que Jesus falou aquilo "para significar com que gênero de morte Pedro havia de glorificar a Deus".
Esse fato não recebe a devida consideração de nossa parte. Estamos propensos a considerar nosso viver a única maneira de glorificar a Cristo, e nossas obras, o único meio de demonstrar que temos vida espiritual; e esquecemos a morte, reputando-a um doloroso final sem utilidade. Mas isso não deveria ser assim. Podemos viver e morrer para o Senhor; ser sofredores pacientes ou trabalhadores ativos. Assim como Sansão, talvez façamos mais para Deus em nossa morte do que fizemos em nossa vida. É provável que o paciente sofrimento dos mártires reformadores tenha mais efeito sobre a mente das pessoas do que todos os sermões que eles pregaram e todos os livros que escreveram. Uma coisa é certa: o sangue dos mártires é a semente da Igreja.
Podemos glorificar a Deus em nossa morte estando preparados para sua chegada. O crente que está sempre alerta, com seus lombos cingidos, sua lâmpada acesa e seu coração preparado para partir; o homem para o qual a morte repentina, no consenso de todos os seus conhecidos, significa glória imediata - esse é o homem cuja morte glorifica a Deus. Podemos glorificar a Deus em nossa morte, ao suportar com paciência suas aflições. Podemos glorificá-lo na morte ao testificarmos aos outros o conforto e o amparo que encontramos na graça de Cristo. É uma atitude sublime alguém ser capaz de afirmar, assim como Davi: "Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum" (S1 23.4). O crente que, à semelhança do personagem Perseverança (em O Peregrino, de John Bunyan), é capaz de permanecer firme enquanto atravessa o rio e calmamente diz aos seus companheiros: "Meu pé está pisando em terra firme; meus dias de labores acabaram" - esse é o homem cuja morte traz glória a Deus. Mortes desse tipo deixam marcas sobre os que continuam vivendo e levam tempo até ser esquecidas.
Oremos, enquanto estamos vivendo com saúde, para que glorifiquemos a Deus em nossa morte. Permitamos que Deus escolha a época e a maneira pela qual deixaremos esta vida. Apenas supliquemos que nossa partida glorifique a Deus. O homem sábio é aquele que aceita o conselho de John Bunyan e preserva constantemente em seus pensamentos a ocasião da morte, tornando-a um amigo inseparável. Quando alguém apontou erros e falhas nas doutrinas metodistas, John Wesley afirmou com muita dignidade: "Apesar disso, as pessoas de nosso grupo morrem muito bem".
Em terceiro lugar, aprendemos, nesses versículos, que, antes de nos preocupar com a condição espiritual dos outros, devemos pensar a respeito de nossa própria condição. Quando Pedro indagou, curiosa e ansiosamente, sobre o futuro do apóstolo João, recebeu de nosso Senhor uma resposta de profundo significado: "Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa? Quanto a ti, segue-me". Ainda que seja difícil entender alguma parte dessa afirmativa, ela contém uma lição prática que não podemos menosprezar. Essas palavras de Jesus ordenam que, em primeiro lugar, todo crente examine seu próprio coração e pense em sua própria família.
É claro que nosso bendito Senhor não deseja que sejamos negligentes em nos preocupar com as almas dos outros ou em não demonstrar interesse pela condição espiritual deles. Tal atitude equivaleria a insensível egoísmo e, evidentemente, comprovaria que não possuímos a graça divina. O servo de Cristo demonstrará que possui um coração tão amável e sensível quanto o de seu próprio Senhor e desejará tanto a felicidade presente como a felicidade eterna daqueles que o cercam. Ele almejará e se esforçará para amenizar as tristezas e aumentar a alegria de todos que estiverem ao seu alcance. O amor e a verdadeira religião precisam ser demonstrados inicialmente aos nossos familiares.
É inútil negar que essa advertência solene de nosso Senhor ao seu impetuoso discípulo é bastante necessária em nossos dias. A fraqueza do caráter humano é tão profunda que até mesmo os verdadeiros crentes estão constantemente sujeitos a cair em extremos. Alguns parecem estar tão completamente absorvidos em suas próprias experiências e nos conflitos de seus corações que esquecem o mundo ao seu redor. Outros se mostram tão ocupados em fazer o bem ao mundo que não se lembram de suas próprias almas. Ambos estão errados e precisam enxergar um caminho mais excelente. No entanto, ninguém causa tanto dano à
sua própria alma quanto a pessoa que está muitíssimo preocupada com a salvação dos outros e negligencia sua própria alma.
Que essas palavras de nosso Senhor nos guardem de tal armadilha! Não importa o que fazemos em benefício dos outros (e podemos fazer bastante), jamais nos esqueçamos de nosso homem interior. Infelizmente, a noiva de Cantares não era a única que tinha motivos para lamentar: "(...) e me puseram por guarda de vinhas; a vinha, porém, que me pertence, não a guardei" (Ct 1.6).
Por último, aprendemos, nesses versículos, a quantidade e a grandeza das obras do Senhor Jesus durante seu ministério terreno. O apóstolo João concluiu seu evangelho com estas notáveis palavras: "Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez. Se todas elas fossem relatadas uma por uma, creio eu que nem no mundo inteiro caberiam os livros que seriam escritos. É lógico que não devemos distorcer essas palavras ao lhes atribuir um sentido excessivamente literal. Supor que o evangelista pretendia afirmar que o mundo não conteria os volumes escritos narrando as obras de Cristo é algo irracional e absurdo. A única interpretacão correta tem de ser espiritual e figurada.
Somente foram relatadas as obras e palavras de Cristo que as mentes dos homens podem assimilar. Não seria bom para o mundo ter mais narrativas sobre ele. A mente humana, assim como o corpo, pode digerir apenas certa quantidade de informações. O mundo não poderia conter mais, porque não conseguiria assimilar. Foram relatados tantos milagres, parábolas, sermões, diálogos, palavras bondosas, atos de misericórdia, encontros, orações, advertências e promessas quanto o mundo poderia exigir. Se mais tivesse sido narrado, com certeza teria sido jogado fora. Existem relatos suficientes para tornar o incrédulo indesculpável, para mostrar o caminho do céu àquele que o procura, para satisfazer o coração de todo crente sincero, para glorificar a Deus e condenar todo aquele que não se arrepender e crer. Os maiores vasos podem conter apenas certa quantidade de líquido. A mente de todos os homens não apreciaria saber mais a respeito de Cristo, se tivesse sido escrito. Temos o bastante e ainda sobra. Esse testemunho é verdadeiro. Neguemo-lo, se pudermos.
Agora devemos terminar nossas considerações sobre esse evangelho demonstrando sentimentos de humildade e gratidão profundas. Com certeza, tornamo-nos humildes quando pensamos quanto somos ignorantes e quão pouco compreendemos sobre os tesouros que esse evangelho contém. Seremos gratos a Deus quando refletirmos sobre a clareza e a nitidez dos ensinos que o apóstolo nos dá, em seu evangelho, sobre o caminho da salvação. A pessoa que o lê de maneira proveitosa é aquela que, lendo-o, crê que Jesus é o Cristo e, crendo, tem "vida em seu nome". Nós realmente cremos? Jamais descansemos até que sejamos capazes de responder corretamente a essa questão!
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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