28/03/2024
Leia Lucas 22.63-71
Em primeiro lugar, observamos nesses versículos o tratamento vergonhoso que nosso senhor recebeu de seus inimigos. Os homens que o prenderam "zombavam dele, davam-lhe pancadas" e vendaram seus olhos. Não lhes bastou ter aprisionado alguém cuja vida era inculpável e repleta de bondade; eles precisavam acrescentar insultos à sua injúria.
Temos aqui uma demonstração da desesperadora corrupção da natureza humana. Os excessos de malignidade selvagem praticados muitas vezes pelos ímpios e o intenso prazer que sentem em pisotear os mais corretos e mais puros dos homens quase justificam a importante afirmação de um falecido teólogo: "O homem entregue a si mesmo possui uma parte animalesca e uma parte demoníaca". Ele odeia Deus e a todos que em si retratam a imagem dele. "O pendor da carne é inimizade contra Deus" (Rm 8.7). Temos pouca ideia do que o mundo poderia tornar-se se não existisse a constante restrição que Deus, misericordiosamente, impõe sobre o mal. Não é exagero afirmar que, se os incrédulos tivessem plena liberdade de seguir seus próprios caminhos, a terra logo se tornaria igual ao inferno.
A calma submissão de nosso Senhor diante dos insultos aqui descritos manifesta a profundidade de seu amor pelos pecadores. Se desejasse, ele poderia ter cessado a insolência de seus inimigos em um momento. Ele, que, com uma palavra, expulsara demônios, poderia ter convocado multidões de anjos para estar ao seu lado e desbaratar aqueles perversos instrumentos de Satanás. Mas o coração de nosso Senhor estava focalizado na grandiosa obra que viera realizar no mundo. Ele se comprometera a comprar nossa redenção por meio de sua própria humilhação e não se esquivaria de pagar o preço, até as últimas consequências. Ele se determinara a beber o cálice amargo do sacrifício vicário para salvar os pecadores e, "em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia" (Hb 12.2); e bebeu todo o cálice de sofrimento.
A paciência que nosso Senhor demonstrou deve ensinar uma lição muito preciosa a todos os verdadeiros crentes. Devemos abandonar toda murmuração, queixas e irritação de espírito quando formos maltratados pelo mundo. O que representam os insultos aos quais às vezes temos de nos sujeitar em comparação aos insultos lançados sobre nosso Senhor? "Ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças" (1Pe 2.21-23). Ele nos deixou o exemplo para que sigamos seus passos. Portanto, devemos agir de maneira semelhante.
Em segundo lugar, observamos nesses versículos a notável profecia anunciada por nosso Senhor em referência à sua segunda vinda. Ele disse aos inimigos que o insultavam: "Desde agora, estará sentado o Filho do homem à direita do Todo-Poderoso Deus". Eles achavam errado que ele tivesse vindo em sua aparência humilde e queriam um Messias glorioso? Um dia, eles o veriam em glória. Seus inimigos julgavam-no fraco, impotente e desprezível porque, naquela ocasião, ele não possuía majestade visível? Um dia haveriam de contemplá-lo na mais elevada posição no céu, cumprindo, assim, a bem conhecida profecia de Daniel, revestido de autoridade em suas mãos para realizar todo julgamento (Dn7.9-10).
Estejamos atentos para que a glória futura de Cristo, sua paixão e sua morte tornem-se um dos artigos de nosso credo. Deve ser um dos mais importantes princípios de nosso cristianismo a verdade de que o Jesus escarnecido, desprezado e crucificado é o mesmo que agora possui toda autoridade "no céu e na terra" e que, um dia, virá na glória de seu Pai, com todos os seus anjos. Se contemplamos apenas a cruz e o primeiro advento de Cristo, estamos vendo somente metade da verdade; é essencial à nossa consolação que vejamos também o segundo advento e a coroação do Senhor Jesus. O mesmo Jesus que compareceu diante do tribunal dos principais sacerdotes e de Pilatos tomará assento em um trono de glória e convocará todos os seus inimigos a comparecer diante dele. Feliz é o crente que preserva com firmeza diante de seus olhos as palavras "desde agora". No presente, os crentes devem contentar-se em participar dos sofrimentos de seu Senhor e, como ele, parecer fracos. Desde agora, porém, também participam de sua glória e, com ele, são fortes. No presente, assim como seu Senhor, não podem ficar surpresos se forem escarnecidos, desprezados e desacreditados. No entanto, "desde agora" estão assentados com ele, nos lugares celestiais.
Por último, devemos observar nesses versículos a completa e ousada confissão de nosso Senhor acerca de seu messiado e de sua divindade. Em resposta à solicitação de seus inimigos: "Logo, tu és o Filho de Deus", Jesus lhes declarou: "Vós dizeis que eu sou". À primeira vista, o sentido dessa sentença curta pode não parecer claro ao leitor. A sentença significa, em outras palavras: "Vocês falaram a verdade. Como disseram, Eu sou o Filho de Deus".
A confissão de nosso Senhor despojou seus inimigos de todas as desculpas para sua incredulidade. Os judeus não podem alegar que Jesus deixou seus antepassados na ignorância a respeito de sua missão, mantendoos em dúvida ou suspense. Na ocasião, vemos nosso Senhor contando-lhes quem ele era, em palavras mais compreensíveis para os judeus do que para nós. Apesar disso, a confissão não surtiu qualquer bom resultado naqueles judeus! Seus corações estavam endurecidos pelo preconceito. Suas mentes estavam entenebrecidas pela cegueira judicial. O véu estava sobre os olhos de seu homem interior. Com indiferença, ouviram a confissão de nosso Senhor e se precipitaram mais profundamente no mais terrível pecado.
A confissão ousada de nosso Senhor tinha o objetivo de se tornar um exemplo para todos os verdadeiros crentes. Assim como ele, não podemos esquivarnos de falar quando a oportunidade exigir nosso testemunho. O temor dos homens e a presença de uma multidão não nos podem fazer calar (Jó 31.34). Não precisamos tocar uma trombeta e sair por todos os lugares proclamando nosso cristianismo. Com certeza, as oportunidades surgirão no caminho diário de nossos deveres, quando, assim como o apóstolo Paulo, a bordo de um navio, poderemos mostrar a quem pertencemos e a quem servimos (At 27.23). Nessas oportunidades, se temos a mente de Cristo, não tenhamos medo de mostrar o que somos. Nosso Senhor aprecia muito os discípulos ousados, que proclamam seu nome. Ele honrará aqueles que o honram, ao viverem em testemunho franco e corajoso, porque esses estão andando em suas pisadas. "Todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus" (Mt 10.32).
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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