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05/09/2024
Leia João 14.27-31
Não devemos terminar nossas considerações sobre esse maravilhoso capítulo sem observar uma característica notável: a frequência com que nosso Senhor utiliza as expressões "meu Pai" e "o
"o Pai". Nos últimos cinco versículos, nós as encontramos pelo menos quatro vezes. Em todo o capítulo, elas ocorrem no mínimo vinte e duas vezes. Nesse aspecto, João 14 é singular em toda a Bíblia.
A razão para o uso frequente dessas expressões constitui um assunto profundo. Talvez o melhor seja especular e dogmatizar pouco a respeito dele. Nosso Senhor jamais pronunciou uma palavra sem significado e, sem dúvida, há significado no fato de ter ele utilizado essas expressões no final desse capítulo. Não devemos, com reverência, imaginar que o Senhor pretendia incutir na mente de seus discípulos uma grandiosa impressão sobre a unidade existente entre ele e o Pai? Exceto nesse discurso, há poucas passagens bíblicas em que vemos nosso Senhor reivindicando tão sublime dignidade e poder de outorgar e providenciar conforto à sua igreja. Não era conveniente, em seu constante ensino aos discípulos, recordar-lhes que, em todas as suas dádivas, ele era um com o Pai? Mas isso é apenas uma hipótese.
Por um lado, devemos observar o último legado de Cristo ao seu povo. Ele disse:
"Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize".
A paz de Cristo é um dom especial, superior a riquezas, vida tranquila e prosperidade. Na melhor das hipóteses, essas possessões são bastante questionáveis. Com frequência, causam mais danos do que benefícios à alma, agindo como fardos e obstáculos à nossa vida espiritual. A paz interior, na consciência, proveniente do sentimento de perdão dos pecados e da reconciliação com Deus, é uma bênção extremamente superior. Essa paz é um patrimônio de todos os verdadeiros crentes, sejam de classe alta ou baixa, sejam ricos ou pobres.
A paz que o Senhor Jesus outorga, ele a chama de "minha paz". Pertence de maneira especial a ele, porque a comprou com seu próprio sangue, por meio de seu sacrifício vicário, e porque o Pai determinou que ele a conceda ao mundo que está a perecer. Assim como José foi ungido e comissionado para alimentar os famintos egípcios, também o Senhor Jesus foi especialmente designado, nos eternos conselhos da Divindade, para outorgar paz à humanidade.
Cristo não concede sua paz da mesma maneira que o mundo a dá. O que o Senhor Jesus dá o mundo jamais pode dar; e ele o faz espontânea, abundante e permanentemente. Cristo está mais disposto a conceder sua paz do que o mundo se mostra disposto a recebê-la. Suas dádivas são outorgadas para todo o sempre; ele nunca as toma de volta. O Senhor Jesus está disposto a dar muito mais abundantemente do que tudo que pedimos ou pensamos. Ele disse: "Abre bem a tua boca, e a encherei" (S1 81.10).
Devemos admirar-nos de que esse legado foi apresentado tendo por trás de si a enfática exortação: "Não se turbe o vosso coração"? Cristo pode suprir toda a nossa falta de consolo se tão somente viermos a ele, crendo e recebendo-o. O maior dos pecadores não tem motivos para ficar temeroso. Se apenas olharmos para o verdadeiro Salvador, encontraremos alívio para todas as aflições de nossos corações. Metade dos temores e das dúvidas que temos surge de nossa compreensão imperfeita sobre a verdadeira natureza do evangelho de Cristo.
Por outro lado, devemos observar a perfeita santidade de Cristo. Ele disse: "Aí vem o príncipe do mundo; e ele nada tem em mim". Essas palavras notáveis admitem apenas uma interpretação. Nosso Senhor desejava que seus discípulos soubessem que Satanás, "o príncipe do mundo", estava prestes a fazer seu último e mais cruel ataque contra ele. Satanás estava reunindo todas as suas forças para uma investida mais violenta. Ele viria com sua extrema malícia para tentar o segundo Adão, no jardim de Getsêmani e na cruz do Calvário. Todavia, nosso Senhor declarou: "Ele nada tem em mim". "Satanás não pode conseguir nada comigo, pois não há erro ou pecado em mim. Tenho guardado os mandamentos de meu Pai, consumei a obra que ele me confiou. Portanto, Satanás não pode vencer-me, lançar qualquer acusação contra mim ou condenar-me. Sairei da tentacão como alguém mais do que vencedor".
Devemos notar a diferenca entre Cristo e qualquer outro ser humano. Ele foi o único em quem Satanás não encontrou nenhuma culpa. Ao abordar Adão e Eva, o diabo encontrou fraqueza. Ao tentar Noé, Moisés, Davi e todos os demais santos, ele encontrou imperfeição. Ele veio a Jesus e não conseguiu "nada'. O Senhor Jesus era o cordeiro "sem defeito e sem mácula", o sacrifício adequado para os pecadores, o Cabeça para uma raça redimida.
Sejamos gratos a Deus porque temos um Salvador perfeito e imaculado, que possui uma justiça integra e uma vida pura. Em nós mesmos e em nossos atos, encontramos apenas imperfeicão; e, se não tivermos qualquer outra esperança, além de nossa própria bondade, devemos ficar realmente desesperados. Entretanto, em Cristo temos um perfeito e imaculado Representante e Substituto. Podemos declarar, juntamente com o triunfante apóstolo: "Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus" (Rm8.33). O Senhor Jesus morreu e sofreu em nosso lugar. Estamos escondidos nele. Embora sejamos indignos, o Pai nos vê em Cristo e, por amor a ele, fica satisfeito.
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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