12/03/2024
Leia Lucas 20.20-26
Em primeiro lugar, devemos observar nestes versículos o disfarce da bondade utilizado por alguns inimigos de nosso Senhor, ao se aproximarem dele.
Lucas nos relata que os inimigos de Cristo enviaram "emissários que se fingiam de justos"; em seguida tentaram engana-lo com palavras bajuladoras: "Mestre, sabemos que falas e ensinas retamente e não te deixas levar de respeitos humanos, porém ensinas o caminho de Deus segundo a verdade". Parecia ser uma afirmação excelente. Qualquer ouvinte sem discernimento poderia dizer: "Esses homens estão realmente procurando conhecer a verdade!". Mas eram palavras vazias e superficiais. Esses emissários assemelhavam-se a lobos vestidos de ovelhas, motivados pela ideia vã de que poderiam ensinar o pastor. "A sua boca era mais macia que a manteiga, porém no coração havia guerra" (S1 55.21).
Enquanto o mundo existir, o verdadeiro servo de Cristo tem de esperar defrontar-se com pessoas dessa natureza. Nunca faltarão aqueles que, por interesses e motivos sinistros, professarão amar a Cristo com seus lábios, enquanto em seu coração o negam. Sempre haverá aqueles que, "com suaves palavras e lisonjas", procurarão enganar o coração dos simples (Rm 16.18). A união entre "os lábios amorosos e o coração maligno é muito comum (PV 26.23). Existem muitas igrejas que têm algumas pessoas semelhantes a "vaso de barro coberto de escórias de prata" (Pv26.23).
Aquele que não deseja ser constantemente enganado neste mundo precisa recordar com atenção essas palavras. Temos de exercitar um cuidado prudente enquanto viajamos pela estrada da vida, e não desempenhar o papel de pessoa simples que "dá crédito a toda palavra' (Pv 14.15). Não podemos confiar facilmente em toda pessoa que se dispõe a trabalhar para Jesus, nem apressadamente ter como certo o fato de que são realmente bons todos os que falam como pessoas boas. A princípio, tal cuidado parece esquisitice e falta de amor. Entretanto, quanto mais vivermos, mais perceberemos que isso se faz necessário. Por experiência própria, descobriremos que nem tudo que reluz é ouro e que nem todos os que professam ser crentes necessariamente o são. A linguagem do verdadeiro cristão é aquilo que o falso cristão acha mais fácil de imitar. A maneira de viver de uma pessoa, e não seu falar, é um teste seguro de seu caráter. Observemos também nesses versículos a plena sabedoria da resposta de nosso Senhor aos seus inimigos. Uma pergunta difícil e sutil foi proposta a ele: "É lícito pagar tributo a César ou não?". Foi uma pergunta eminentemente dirigida com o objetivo de embaraçar qualquer pessoa que tentasse responder a ela. Se nosso Senhor tivesse respondido que não era lícito pagar tributo a César, teria sido acusado diante de Pilatos como um rebelde contra o Império Romano. Se nosso Senhor tivesse respondido que era lícito pagar tributo a César, teria sido denunciado diante do povo como alguém que não se importava com os direitos e os privilégios da nação judaica. À primeira vista, parecia difícil encontrar uma resposta que não colocaria nosso Senhor em dificuldade. Mas aquele que é chamado "a sabedoria de Deus" encontrou uma resposta que silenciou seus inimigos. Ordenou-lhes que mostrassem a moeda. Perguntou, então, de quem eram a imagem e a inscrição que estavam na moeda. "Prontamente disseram: De César". O Senhor Jesus utilizou aquela moeda como fundamento de uma resposta da qual até mesmo seus inimigos foram obrigados a se admirar: "Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus".
Deveriam dar "a César o que" era de César. Seus lábios haviam acabado de confessar que César tinha certa autoridade sobre eles. Eles utilizavam o dinheiro que César havia mandado cunhar. Era a moeda corrente nos negócios. Os judeus provavelmente não faziam qualquer obiecão a receber ofertas e pagamentos em moeda romana. Portanto, não pretenderiam afirmar que todos os tributos a César eram ilícitos. De acordo com a própria admissão dos judeus, ele exercia alouma autoridade sobre eles Por conseguinte deviam obedecer a César em todas as coisas temporais Se não recusavam veriam recusar-se a cumprir os deveres para com ele.
Deveriam dar "a Deus o que é de Deus". Havia muitas obrigações que Deus exigia das mãos dos judeus, as quais poderiam cumprir com facilidade, se estivessem dispostos. Honra, amor, obediência, fé, temor e adoração espiritual eram deveres que eles podiam cumprir diariamente e sobre os quais o governo romano não interferia. Os judeus não podiam dizer que César tornava impossível a realização de tais deveres; eles deveriam cuidar de cumprir para com Deus seus deveres espirituais, assim como para com César, seus deveres temporais. Não era necessário haver um conflito entre as exigências de seus dois soberanos: o espiritual e o temporal. Nas coisas temporais, os judeus deveriam obedecer à autoridade dos poderes sob os quais estavam. Nas coisas espirituais, deveriam agir como seus antepassados e obedecer a Deus.
Os princípios estabelecidos por nosso Senhor nessa famosa sentença são profundamente instrutivos. Seria ótimo para a paz do mundo se esses princípios fossem mais atentamente valorizados e mais sabiamente aplicados!
As tentativas dos poderes humanos para controlar a consciência das pessoas, em alguns países, por meio da interferência intolerante, bem como as tentativas da igreja, em outros países, para interferir por meio de ações do poder civil, com frequência têm levado a conflitos, guerras, rebeliões e desordem social. Não têm sido poucas nem insignificantes as injúrias que o verdadeiro cristianismo tem recebido, por um lado, da escrupulosidade doentia e, por outro, da servil subserviência às exigências do Estado. Feliz é aquele que alcançou uma maneira de pensar saudável sobre esse assunto! Estabelecer a correta distinção entre as coisas de César e as de Deus, e cumprir para com cada um deles os legítimos deveres com regularidade e satisfação, é um importante instrumento para uma vida quieta e tranquila.
Oremos com frequência para que tenhamos a sabedoria do alto, a fim de responder corretamente quando formos abordados com perguntas que nos deixem perplexos. O servo de Cristo tem de esperar receber um cálice semelhante ao de seu Senhor. Não deve achar estranho se as pessoas ímpias e mundanas se esforçarem para apanhá-lo "em alguma palavra" e tentarem-no a falar imprudentemente com seus lábios. A fim de estar preparado para essas ocasiões, o servo de Cristo deve pedir frequentemente que Cristo lhe conceda sabedoria e língua discreta. Na presença daqueles que aguardam nosso tropeço, é importante saber o que dizer e como dizer, saber quando ficar calado e quando falar. Bendito seja Deus, pois aquele que silenciou os escribas e os sacerdotes, por meio de suas respostas sábias, continua vivo para ajudar seu povo e detém todo poder para fazê lo. Mas ele aprecia muito que lhe supliquemos ajuda.
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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