30/05/2024
Leia João 6.52-59
Poucas passagens das Escrituras têm sido tão severamente adulteradas e distorcidas quanto essa que
acabamos de ler. Os judeus não foram os únicos que encontraram dificuldade para entender o significado dessas palavras. Elas nunca tiveram o propósito de transmitir o significado que lhes foi atribuído. Ao interpretar a Bíblia, o homem caído no pecado demonstra a infeliz tendência de transformar o alimento em veneno. As coisas que estão escritas em seu benefício, ele frequentemente as usa para cometer pecado.
Inicialmente, consideremos com atenção o que esses versículos não pretendem ensinar. O "comer" e o "beber" referidos por Jesus não têm qualquer significado literal. Além disso, essas palavras não foram pronunciadas em referência à Ceia do Senhor. É possível tomarmos a Ceia e, apesar disso, não comermos o corpo nem bebermos o sangue de Cristo. Também é possível comermos e bebermos de seu corpo e de seu sangue sem participarmos da Ceia do Senhor. Não devemos esquecer isso.
Essa opinião pode surpreender alguém que não tenha considerado atentamente o assunto; todavia, ela está baseada em três fortes razões.
Primeiro, comer e beber literalmente o corpo e o sangue de Cristo seria uma ideia extremamente revoltante para todos os judeus e diretamente contrária a um preceito repetido com frequência em sua lei. Segundo, adotar um ponto de vista literal sobre o comer e o beber significaria interpor um ato físico entre a alma do homem e a salvação. Isso não tem fundamento nas Escrituras. A fé e o arrependimento são as únicas coisas sem as quais não podemos ser salvos. Terceiro, adotar o ponto de vista literal sobre o comer e o beber envolveria grande blasfêmia e consequências profanas. Se assim fosse, o ladrão arrependido não teria entrado no céu. Morreu tempos depois de serem proferidas essas palavras, sem ter literalmente comido ou bebido do sangue e do corpo de Cristo. Quem ousará dizer que ele não obteve a "vida" em Jesus? O comer e o beber no sentido literal introduziriam no céu milhares de pessoas ignorantes e ímpias que participam da ordenança da Ceia em nossos dias. Não há dúvida de que esses comem e bebem no sentido literal! Mas não têm a vida eterna, tão pouco serão levados à glória no último dia. Essas três razões devem ser cuidadosamente ponderadas.
A verdade é que, no homem caído, existe uma doentia ansiedade de atribuir, sempre que possível, um sentido carnal às expressões bíblicas. Ele se esforça ao máximo para transformar a religião em uma questão de formalidades e cerimônias, obras e realizações, sacramentos e ordenanças, restritas ao que podemos ver e sentir. Em seu íntimo, ele não gosta da ênfase do cristianismo que reputa como prioridade a condição do coração do homem e labuta para conservar em segundo plano a obediência às ordenanças. Feliz o crente que se lembra dessas coisas e se mantém atento! Sem dúvida, o batismo e a Ceia do Senhor são ordenanças santas e ricas em bênçãos quando ministradas corretamente. Porém, é inútil tentar vê-las em todas as passagens da Palavra de Deus.
Agora consideremos atentamente o verdadeiro significado dessas palavras. Sem dúvida, é bastante notável a ideia que essas palavras contêm. Procuremos obter um conceito mais claro a respeito de seu significado.
O "sangue e a carne do Filho do Homem" referem-se ao sacrifício do próprio corpo de Cristo, oferecido por ele ao morrer na cruz em favor dos pecadores. A expiação feita através de sua morte; a satisfação realizada por meio de seus sofrimentos como nosso substituto; a redenção que ele consumou, por levar em seu próprio corpo, no madeiro, a penalidade de nossos pecados - tudo isso parece ser a verdadeira ideia que devemos ter em mente.
Os atos de comer e beber, sem os quais não haveria vida em nós, significam receber o sacrifício de Cristo; isso acontece quando o homem crê em "Cristo crucificado", para sua salvação. Esse é um ato íntimo e espiritual, procedente do coração; em nada se relaciona com o corpo físico. Em qualquer momento em que o homem, ao sentir sua culpa e pecaminosidade, busca Cristo e confia na expiação realizada por ele na cruz, nesse mesmo instante esse homem come e bebe o corpo e o sangue do Filho do Homem. Pela fé, sua alma se alimenta do sacrifício de Cristo, assim como na vida física nosso corpo se alimenta de pão. O crer em Cristo significa comer do seu corpo e beber do seu sangue. A expiação dos pecados, realizada pela morte de Cristo na cruz, é a principal coisa da qual o crente come, bebe e obtém benefícios.
As lições práticas que podemos extrair desse trecho bíblico são valiosas e importantes. Após ficar claro que a carne e o sangue mencionados referem-se ao sacrifício de Cristo, e que comer e beber significam crer em Jesus, podemos ver nesses versículos grandes verdades fundamentais do cristianismo.
1. Aprendemos que a fé na expiação realizada por Cristo é essencial à salvação. Assim como no Egito não havia segurança para o israelita que deixasse de comer o cordeiro pascal na noite da morte dos primogênitos, também não há vida para o pecador que não comer a carne de Cristo e beber seu sangue.
2. Aprendemos que a fé na expiação realizada por Cristo nos une ao Salvador, nos mais íntimos vínculos possíveis, outorgando-nos o direito aos privilégios mais elevados. Nossas almas encontrarão a plena satisfação de suas necessidades, pois a carne de Cristo é "verdadeira comida", e seu sangue, "verdadeira bebida". Ele nos garante tudo aquilo de que precisamos, no presente e na eternidade. "Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia."
3. Aprendemos que o ato de crer na expiação consumada por Cristo é um ato pessoal, a ser praticado e desfrutado a cada dia. Ninguém pode comer e beber por nós, assim como nenhuma outra pessoa pode crer por nós. Precisamos de comida diariamente, não apenas uma vez por semana ou por mês; de modo semelhante, devemos exercitar a fé todos os dias. Quando comemos e bebemos o alimento físico, sentimos os benefícios que recebemos, somos fortalecidos, nutridos e revigorados. De igual modo, quando cremos verdadeiramente, sentimos os grandiosos benefícios de esperança e paz em nosso homem interior.
Procuremos não apenas conhecer essas verdades, mas também aplicá-las. O alimento fornecido por este mundo, com o que tantos se preocupam, perece pelo uso e não pode alimentar nossas almas. Somente aquele que se alimenta do pão que desceu do céu viverá eternamente.
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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