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26/06/2024
Leia João 8.1-11
A história que tem início no capítulo 8 desse evangelho tem um caráter peculiar. Em alguns aspectos, é singular. Não existe algo semelhante em toda a narrativa dos evangelhos. Durante os séculos, pessoas de mentalidade escrupulosa têm tropeçado nessa passagem, duvidando se realmente foi escrita pelo apóstolo João. No entanto, a validade desses escrúpulos não pode ser facilmente comprovada.
É um erro grave supor, como alguns têm feito, que essa história atenua a severidade do pecado de adultério, demonstrando que nosso Senhor não deu importância ao sétimo mandamento. Nessa passagem, nada justifica tal afirmativa. Nenhuma dessas palavras nos autoriza a dizer qualquer coisa desse tipo. Com calma, averiguemos o assunto, examinando o conteúdo da passagem.
Os inimigos de nosso Senhor trouxeram-lhe uma mulher culpada de adultério e indagaram qual a punição que ela merecia. De maneira evidente, o relato nos informa que eles fizeram essa indagação com o propósito de tentá-lo. Esperavam apanhar nosso Senhor dizendo algo de que pudessem acusá-lo. Provavelmente imaginaram que ele, tendo pregado salvação e perdão aos publicanos e meretrizes, seria induzido a afirmar algo contrário à lei de Moisés ou às suas próprias palavras. Nosso Senhor conhecia o coração daqueles homens maliciosos que estavam diante dele e respondeu-lhes com a perfeita sabedoria demonstrada no caso do tributo de César (Mt 22.17). O Senhor Jesus recusou atuar como um juiz e um legislador entre eles, especialmente em um caso que a própria lei deles já havia decidido. A princípio, Jesus não lhes deu qualquer resposta.
Mas, como insistiram na pergunta, ele os silenciou com uma resposta fulminante, que lhes perscrutou o coração: "Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra"; não disse que a mulher não havia adulterado ou que seu pecado era insignificante e desculpável. Porém, lembrou seus acusadores de que, de maneira alguma, eles seriam as pessoas que deveriam trazer acusação contra ela. Seus motivos e suas vidas eram impuros. Eles mesmos não estavam com as mãos limpas ao lidarem com aquele caso. O que realmente desejavam não era vindicar a pureza da lei de Deus, mas, sim, descarregar sua malícia contra Jesus.
Além disso, quando trouxeram aquela infeliz mulher perante o Senhor, retiraram-se, "acusados pela própria consciência". E, com estas solenes palavras, ele despediu a pecadora culpada: "Nem eu tão pouco te condeno; vai e não peques mais". Jesus não afirmou que ela não merecia a punição; mas ele não viera para ser juiz. Assim, na falta de testemunhas e acusadores, nada havia contra ela diante dele. Embora fosse realmente culpada, nosso Senhor a despediu como alguém cuja acusação não fora provada, declarando-lhe: "Vai e não peques mais".
À luz desses fatos simples, é incorreto dizer que o Senhor não deu importância ao pecado de adultério. Em toda essa passagem, nada existe que comprove isso. Em toda a Bíblia, ninguém falou tão severamente contra a quebra do sétimo mandamento quanto nosso divino Senhor: ele mesmo ensinou que este mandamento pode ser transgredido por meio de um olhar, um pensamento ou um ato visível (Mt 5.28). Foi ele quem mais vigorosamente falou sobre a santidade do relacionamento conjugal (Mt 19.5). Em tudo que foi relatado nessa passagem, nada encontramos que seja incoerente com o restante de seus ensinamentos. Ele apenas evitou usurpar o ofício de juiz e pronunciar a condenação sobre uma mulher culpada, para satisfazer seus inimigos mortais. Além disso, não devemos esquecer que a passagem contém duas lições de grande importância. Quaisquer que sejam as dificuldades apresentadas por esses versículos, essas duas lições permanecem evidentes e inconfundíveis.
Por um lado, o texto nos fala sobre o poder da consciência. Somos informados de que os acusadores da adúltera, ao ouvirem a resposta de nosso Senhor, "acusados pela própria consciência, foram-se retirando um por um, a começar pelos mais velhos até aos últimos". Embora empedernidos e ímpios, sentiram algo em seu íntimo que os deixou temerosos. Ainda que a natureza humana seja corrompida, Deus cuida para que cada homem tenha, em seu íntimo, uma testemunha que será ouvida.
A consciência é um dos mais importantes elementos de nosso homem interior e desempenha função proeminente em nossa história espiritual. Ela não pode nos salvar e jamais é capaz de, sozinha, nos conduzir a Cristo. Está cega e sujeita a receber uma orientação errônea. Está aleijada e impotente, não sendo capaz de nos conduzir ao céu. Entretanto, a consciência não deve ser desprezada. É a melhor amiga do ministro do evangelho quando este, do púlpito, se levanta para reprovar o pecado. É a melhor amiga das mães quando estas procuram restringir seus filhos a praticar o mal e impulsioná-los a fazer o bem. É a melhor amiga do professor quando este incute na mente dos rapazes e das moças seus deveres morais. Feliz é aquela pessoa que não abafa sua consciência, mas se esforça para conservá-la sensível! Ainda mais feliz é aquele que ora para que ela seja iluminada pelo Espírito Santo e lavada pelo sangue de Cristo.
Por outro lado, o texto nos fala da natureza do verdadeiro arrependimento. Quando nosso Senhor disse à mulher adúltera: "Nem eu tão pouco te condeno", despediu-a com as solenes palavras "vai e não peques mais". Ele não disse apenas: "Vá para casa e arrependa-se"; mostrou-lhe a principal coisa que o seu caso exigia: a necessidade de abandonar imediatamente seu pecado.
Jamais esqueçamos essa lição. Abandonar o pecado é a própria essência do verdadeiro arrependimento. O arrependimento que consiste apenas em sentimentos, confissão verbal, desejos, significado, esperança e decisão é indigno aos olhos de Deus. Atos constituem a essência do "arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar". Até que um homem cesse de fazer o mal e abandone seus pecados, não terá se arrependido. Se queremos saber se realmente somos convertidos a Deus e se experimentamos tristeza pelo pecado e o arrependimento que causa "júbilo nos céus", examinemo-nos e vejamos se, na verdade, abandonamos o pecado. Não descansemos até que sejamos capazes de dizer, como se estivéssemos na presenca de Deus: "Odeio o pecado e desejo não pecar mais".
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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