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02/08/2024
Leia João 13.16-20
Se desejamos entender o significado completo desses versículos, devemos observar com cuidado sua posição no contexto do capítulo. Eles seguem imediatamente o notável relato sobre Jesus lavando os pés dos discípulos.
Estão em íntima conexão com a solene ordem de Cristo, ao dizer a seus discípulos que o imitassem fazendo como ele havia feito. Após essa ordem, temos os cinco versículos que agora consideramos. Nesses versículos, somos instruídos de que os crentes nunca devem envergonhar-se de fazer qualquer coisa que seu Mestre fez. Ele disse: "Em verdade, em verdade vos digo que o servo não é maior do que seu senhor, nem o enviado, maior do que aquele que o enviou". Sem dúvida, nosso Senhor, que vê todas as coisas, percebeu em seus discípulos uma crescente indisposição para fazer coisas triviais semelhantes àquela que ele acabara de realizar. Ensoberbecidos por sua expectativa quanto a tronos e um reino neste mundo, intimamente satisfeitos com sua posição como amigos de nosso Senhor, esses galileus ficaram chocados com a ideia de lavar os pés de outras pessoas! Eles não podiam acreditar que servir ao Messias envolvia uma tarefa desse tipo. Não eram ainda capazes de admitir a sublime verdade de que a grandeza do verdadeiro crente consiste em fazer o bem aos outros. Por conseguinte, precisavam de uma advertência da parte do Senhor. Se ele não se tivesse humilhado a ponto de realizar serviços humildes, seus discípulos teriam hesitado em imitá-lo nesse aspecto.
Precisamos sempre recordar essa lição. Manifestamos grande tendência para rejeitar qualquer atividade que parece envolver dificuldade, renúncia e o ato de descer ao nível de nossos inferiores. Estamos sempre prontos a delegar aos outros esse tipo de servico, desculpando-nos: "Não tenho condições de fazer isso". Quando surgem atitudes desse tipo em nosso coração, devemos recordar as palavras e o exemplo de nosso Senhor nessa ocasião. Jamais devemos pensar que demonstrar bondade às mais insignificantes pessoas é algo que nos humilhe. Não devemos fechar nossas mãos simplesmente porque os obietos de nossa amabilidade são ineratos ou indignos. Essa não foi a maneira de pensar de nosso Senhor, que tanto lavou os pés de Judas Iscariotes como os de Pedro. Aquele que não pode humilhar-se para andar no exemplo de seu Senhor demonstra pouca evidência de possuir a humildade e o amor verdadeiros.
Também aprendemos nesses versículos que o conhecimento das coisas espirituais destituído de sua prática é inútil. O Senhor Jesus disse: "Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes". Essas palavras soam como uma advertência de nosso Senhor aos seus discípulos, notificando-os de que nunca seriam realmente felizes, no serviço dele, se ficassem contentes em possuir um conhecimento infrutífero de seus deveres e não vivessem de acordo com tal conhecimento.
Essa lição merece ser constantemente lembrada por todo crente verdadeiro. É muito comum as pessoas afirmarem a respeito das doutrinas e de seus deveres: "Nós a conhecemos; nós os sabemos", ao mesmo tempo que demonstram desobediência e incredulidade. Essas pessoas parecem iludir a si mesmas com a ideia de que o conhecimento é digno de confiança e traz redenção, ainda que não resulte em qualquer fruto na vida e no caráter. No entanto, a verdade é exatamente o contrário. Saber aquilo em que devemos crer e o que devemos fazer e, mesmo assim, não sentirmos afetados por tal conhecimento apenas aumenta nossa culpa diante de Deus. Estar ciente do fato de que os crentes devem ser humildes e amáveis, mas, apesar disso, continuar demonstrando orgulho e egoísmo, apenas intensifica nossa condenação, a menos que nos arrependamos. A prática é a própria essência da vida espiritual. "Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando" (Tg 4.17).
É lógico que jamais devemos desprezar o conhecimento. Em certo aspecto, o conhecimento é o início do cristianismo na alma. Enquanto não sabemos qualquer coisa a respeito do pecado, de Cristo, da graça de Deus, do arrependimento, da fé ou da consciência, não somos, obviamente, melhores do que os pagãos. Entretanto, não podemos tributar excessiva importância ao conhecimento, pois este será inútil, a menos que produza resultados em nossa conduta, influencie nossa vida e transforme nossa vontade. Na verdade, o conhecimento sem a prática mantém-nos no estado de criaturas ímpias. Os demônios disseram a Jesus: "Ah! Que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste para perder-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus!". E Tiago afirmou que "os demônios creem e tremem" (Tg 2.19). Satanás conhece a verdade, porém não mostra qualquer disposição em obedecer; por isso, é uma criatura miserável. Aquele que deseja ser bem-sucedido no serviço de Cristo deve não apenas conhecer, mas também praticar.
Esses versículos ainda nos ensinam o perfeito conhecimento que Cristo tem a respeito de seu povo. Ele distingue entre a falsa confissão e a verdadeira graça no coração. A igreja pode ser enganada e reputar como ministros de Cristo homens que se assemelham a Judas Iscariotes. No entanto, Jesus nunca foi enganado, pois é capaz de sondar os corações. E, nessa passagem, ele declarou: "Eu conheço aqueles que escolhi".
Esse perfeito conhecimento de nosso Senhor constitui um pensamento solene e aplica-se de duas maneiras. Em primeiro lugar, deve alarmar o hipócrita e conduzi-lo ao arrependimento. Ele deve lembrar que o Juiz omnisciente já perscrutou completamente seu coração e detectou a falta das vestes nupciais. Se o hipócrita não deseja ser envergonhado quando todos estiverem reunidos no Dia do Juízo final, precisa abandonar a falsa afirmação de ser crente e confessar seu pecado, antes que seja tarde. Por outro lado, os verdadeiros crentes devem pensar com tranquilidade sobre o Salvador, que sabe todas as coisas. Ao serem mal compreendidos e difamados pelo mundo corrupto, podem lembrar-se de que seu Senhor está ciente de todas as coisas. O Senhor Jesus sabe que, embora fracos e imperfeitos, eles são verdadeiros e sinceros. Virá o tempo em que ele os confessará diante de seu Pai e aperfeiçoará o caráter deles, tomando-os mais puros e mais resplandecentes do que o sol de verão ao meio-dia.
Por último, aprendemos nesses versículos a verdadeira dignidade dos discípulos de Cristo. O mundo talvez despreze e ridicularize os seguidores de Cristo porque se preocupam mais com manifestações de amor e humildade do que com o ganhar o mundo. Mas o Senhor ordena que se lembrem de sua comissão e não sintam vergonha. Eles são embaixadores de Deus, e nenhuma de suas questões será rejeitada. O Senhor Jesus declarou: "Em verdade, em verdade, vos digo: quem recebe aquele que eu enviar a mim me recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou".
Essa doutrina é uma fonte de encorajamento. Deve fortalecer e revigorar todos os que se dedicam a fazer o bem, em especial aqueles que fazem o bem aos tristes e necessitados. Esse tipo de atividade recebe pouca apreciação da parte dos homens, e aqueles que a ela se dedicam frequentemente são reputados como entusiastas e enfrentam muita oposição. Mas eles devem continuar nesse serviço, fortalecendo-se nas palavras de Cristo. Gastar-se e deixar-se gastar na tentativa de fazer o bem são atitudes que nos tornam mais dignos de honra, aos olhos de Cristo, do que comandar um exército ou acumular grandes riquezas. As poucas pessoas que servem a Cristo dessa maneira não têm motivo para se sentir envergonhadas. Não devem desanimar se forem zombadas, escarnecidas ou desprezadas pelos filhos do mundo. Virá o dia em que ouvirão estas palavras: "Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo" (Mt 35.34).
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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