26/03/2024
Leia Lucas 22.47-53
Inicialmente, esses versículos nos ensinam que o pior e mais ímpio ato pode ser praticado como uma demonstração de amor a Cristo. Quando judas Iscariotes trouxe os inimigos de Cristo para prendê-lo, ele o traiu "com uns beijo". Judas simulou afeição e respeito no momento em que entregaria seu Senhor aos inimigos mortais.
Infelizmente, é um tipo de comportamento comum entre os homens. As páginas da História relatam muitos casos de grande impiedade realizada sob a máscara de cristianismo. Com frequência, o nome de Deus tem sido utilizado a serviço de perseguição, traição e crime. Quando Jezabel desejou matar Nabote, ordenou que apregoassem "um jejum" e que falsas testemunhas o acusassem de haver blasfemado "contra Deus e contra o rei" (1Rs 21.9-10). Quando o conde de Montfort dirigiu uma cruzada contra os albigenses, ordenou que esses fossem saqueados e mortos como um serviço à Igreja de Cristo. Quando a Inquisição espanhola torturou e queimou hereges suspeitos, justificou seus atos abomináveis confessando que havia sido uma manifestação de zelo pela verdade de Deus. Tudas nunca ficou sem imitadores ou sucessores. Sempre tem havido homens dispostos a, "com um beijo", trair o Senhor Jesus e prontos para, sob a aparência de respeito, entregar o verdadeiro evangelho aos inimigos.
Esse tipo de conduta, sem dúvida, é completamente abominável aos olhos de Deus. Causar injúria ao cristianismo em qualquer circunstância é um grave pecado, mas trazer-lhe injúria, enquanto simulamos demonstrar bondade, é o mais perverso de todos os pecados. Trair Cristo em qualquer época é o cúmulo da impiedade; porém traí-lo "com um beijo" comprova que aquele indivíduo se tornou filho do inferno.
Em segundo lugar, esses versículos nos ensinam que é mais fácil contender por Cristo do que suportar dificuldades, ser preso e morto por amor a ele. Quando os inimigos de nosso Senhor se aproximaram para prendé-lo, um de seus discípulos "feriu o servo do sumo sacerdote e cortou-lhe a orelha direita". Porém, o zelo do discípulo teve vida curta. Sua coragem logo desapareceu. O temor dos homens o venceu. Ao ser levado preso, nosso Senhor foi sozinho; o discípulo que se mostrou tão disposto a lutar por ele, realmente o abandonou e fugiu.
É uma licão profundamente instrutiva. Sofrer com paciência por Cristo é mais difícil do que trabalhar ativamente por ele. Permanecer quieto e suportar com tranquilidade a aflição é muito mais difícil do que sentir-se estimulado e envolver-se na batalha. Os soldados sempre serão em maior número do que os mártires. As virtude passivas do cristianismo são mais raras e preciosas do que as ativas. Trabalhar para Cristo pode acontecer por motivos espúrios, tais como empolgação, entusiasmo, partidarismo ou desejo por louvor. Sofrer por Cristo raramente será suportado, exceto por um motivo: a graça de Deus. Faremos bem ao recordar essas características, quando comparamos as virtudes de muitos crentes professos. Muitas vezes, erramos ao supor que são mais dignos de honra aos olhos de Deus aqueles que realizam obras vistas por muitos, pregam, falam, escrevem bem e emocionam as pessoas. Tais pessoas, às vezes, são menos estimadas por Deus do que um crente simples e desconhecido que, por muito tempo, permanece doente, em uma cama, suportando dor sem murmurar. É possível que aquelas obras vistas pelos homens tragam menos glória para Cristo do que a paciência e as orações do crente sofredor. O grande teste da graca divina é o sofrer paciente. O Senhor Jesus disse sobre o apóstolo Paulo: "Eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome" (At 9.16). Podemos estar certos de que Pedro fez menos benefício ao sacar sua espada e cortar a orelha de um homem do que ao testemunhar calmamente, na ocasião em que estava preso: "Não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos" (At 4.20).
Por último, esses versículos nos ensinam que Deus limita e estabelece o tempo em que permite o mal triunfar. Nosso Senhor disse aos seus inimigos quando o prenderam: "Esta [...] é a vossa hora e o poder das trevas".
A soberania de Deus sobre tudo que será realizado na terra é absoluta e completa. As mãos dos ímpios estão impedidas de agir até que ele o permita. Os ímpios nada podem fazer sem a permissão divina. Mas isso não é tudo. As mãos dos ímpios não podem mover-se enquanto Deus não permitir, e agirão somente até quando ele ordenar que parem. Os piores instrumentos de Satanás estão agindo com as mãos algemadas. Ele não pôde tocar nas propriedades e nos parentes de Jó até que Deus lhe permitiu. Não foi capaz de impedir o retorno da prosperidade de Jó, quando Deus planejou que isso acontecesse. Os inimigos de nosso Senhor não puderam prender e matá-lo enquanto não chegou a "hora" de seu sofrimento, determinada pelo Pai. Tão pouco eles puderam impedi-lo de ressuscitar, quando chegou a hora em que foi declarado Filho de Deus com poder, por meio de sua ressurreição dentre os mortos (Rm 1.4). Quando ele foi conduzido ao Calvário, aquela foi a "hora" de seus inimigos; mas sua vitoriosa ressurreição foi a sua "hora".
Esses versículos esclarecem a história dos crentes, desde os dias dos apóstolos até o presente. Com frequência, eles foram severamente oprimidos e perseguidos; contudo, a mão de seus inimigos nunca teve permissão de prevalecer por completo. Em geral, a "hora" de suas provações foi seguida por um tempo de expansão do evangelho. O triunfo de seus inimigos jamais foi completo. Os inimigos dos crentes têm sua "hora", porém um dia nunca mais a terão. Após a perseguição de Estêvão, ocorreu a conversão de Paulo. Após o martírio de John Huss, aconteceu a Reforma na Alemanha. Após as perseguições da rainha Maria, na Inglaterra, veio o estabelecimento do protestantismo inglês. Os invernos mais intensos foram seguidos pela primavera. As tempestades mais severas foram sucedidas pelo céu azul.
Confortemo-nos nas palavras de nosso Senhor, ao pensarmos no futuro de nossa própria vida. Se seguimos Cristo, teremos a nossa "hora" de provações; e talvez ela seja demorada. Mas podemos descansar seguros de que a escuridão não prevalecerá um momento sequer além do que Deus achar conveniente para nós. No seu devido e bom tempo, ela se desvanecerá.
Confortemo-nos com as palavras de nosso Senhor, ao anteciparmos a história futura da Igreja e do mundo. Nuvens e trevas poderão assediar a arca de Deus. Perseguições e aflições talvez assaltem seu povo. Os últimos dias da Igreja e do mundo provavelmente serão os piores dias. Mas a "hora" da provação, embora seja bastante severa, terá um fim. Mesmo nos piores momentos, podemos dizer com ousadia: "Vai alta a noite, e vem chegando o dia" (Rm13.12).
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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