18/06/2024
Leia João 6.66-71
Esses versículos fazem parte da triste conclusão do famoso discurso de Cristo, em João 6, e fornecem uma prova lamentável da corrupção e da dureza do coração humano.
Ainda que o pregador fosse o próprio Filho de Deus, parece que muitos o ouviram em vão.
Inicialmente, podemos observar, nessa passagem, que o pecado da apostasia é antigo. Após o Senhor Jesus ter explicado o que significava comer a sua carne e beber o seu sangue, "à vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele".
Sem dúvida, a graça de Deus é uma possessão eterna. Depois de tê-la recebido, o homem jamais se afastará dela. "O firme fundamento de Deus permanece" (2Tm 2.19). "As minhas ovelhas (...) jamais perecerão" (Jo 10.27-28). Mas, na igreja na qual existe a graça, também encontramos a falsa espiritualidade e a graça não genuína; e, dessa, os homens realmente se apartam. Assim como os ouvintes cujos corações são comparados ao solo rochoso, na parábola do semeador, muitos não "têm raiz, creem apenas por algum tempo e, na hora da provação, se desviam". Nem tudo que reluz é ouro. Nem toda flor torna-se um fruto maduro. Nem todos os de Israel são, de fato, israelitas. Os homens são capazes de seguir uma religião e manifestar bons sentimentos, desejos, convicções, esperanças, alegrias, remorsos e, apesar disso, não experimentar a verdadeira graça de Deus. Durante certo tempo, podem andar bem na vida cristã, pensando que alcançarão o céu; mas, posteriormente, acabam voltando para o mundo, como Demas, Judas Iscariotes e a mulher de Ló.
Não devemos ficar surpresos ao ver e ouvir a respeito de casos semelhantes em nossos dias. Se isso aconteceu nos dias do Senhor Jesus a pessoas que receberam seu ensino, podemos esperar que ocorra muito mais em nossos dias. Acima de tudo, essas coisas não devem abalar nossa fé ou nos desencorajar na jornada. Antes, temos de conservar em nosso coração o fato de que, na igreja, sempre haverá pessoas se afastando, enquanto ela permanecer neste mundo. A pessoa infiel e escarnecedora, que defende sua incredulidade, apontando-nos os que se afastaram, precisa encontrar um argumento mais convincente do que o mau exemplo. O incrédulo esquece que sempre haverá moedas falsas no meio das verdadeiras. Também podemos observar, nessa passagem, a nobre declaração de Pedro. Quando muitos dos discípulos de nosso Senhor o abandonaram, ele perguntou aos doze: "Quereis (...) vós outros retirar-vos?". Imediatamente, Pedro respondeu com seu zelo e fervor característicos: "Senhor, para quem iremos? Tu tens a palavra da vida eterna; e nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus".
É notável a afirmação contida nessas palavras. Vivendo em um país que se professa cristão e rodeados pelos privilégios outorgados aos crentes, dificilmente formaremos uma ideia adequada sobre o real valor dessa afirmação. Mas, considerando que os escribas, os fariseus e os saduceus rejeitaram Jesus, essa declaração de um humilde judeu foi um grande ato de fé: "Tu tens as palavras da vida eterna (...) tu és o santo de Deus". Não nos admiramos que o Senhor Jesus tenha dito em outra ocasião: "Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue quem to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus" (Mt 16.17).
A pergunta do apóstolo Pedro foi tão notável quanto sua afirmação: "Senhor, para quem iremos?", indagou o apóstolo que possuía um coração sincero. Com isso, ele estava dizendo: A quem seguiremos? A que Mestre nos submeteremos? Onde encontraremos outro semelhante a ti, que nos guie ao céu? O que ganharemos em te abandonar? Que escriba, fariseu, saduceu, sacerdote ou rabino pode revelar-nos as palavras de vida eterna, assim como tu o fazes?
Todo crente verdadeiro deve fazer essa mesma indagação quando se sentir tentado e pressionado a abandonar a vida cristã e voltar para o mundo. Para os que odeiam a religião, é fácil apontar defeitos em nossa conduta, fazer objeção às nossas doutrinas e mostrar erros em nossos atos. Torna-se difícil, às vezes, dar-lhes qualquer resposta. Mas, afinal de contas, "Para quem iremos?" se desistirmos de seguir Jesus? Onde encontraremos paz, esperança e firme consolação, como aquelas que encontramos no serviço de Cristo, mesmo que sirvamos a ele de maneira tão imperfeita? Porventura nos tornaremos pessoas melhores se o abandonarmos e voltarmos para nossos velhos caminhos? É óbvio que não! Portanto, permaneçamos firmes e perseveremos no caminho em que estamos.
Por último, podemos observar, nessa passagem, que alguns obtêm pouco benefício de seus privilégios espirituais. Lemos que o Senhor disse: "Não vos escolhi eu em número de doze? Contudo, um de vós é diabo". E a passagem continua: "Referia-se ele a Judas, filho de Simão Iscariotes".
Se já houve um homem que desfrutou grandes privilégios e oportunidades, esse foi Judas Iscariotes. Ele foi um discípulo escolhido, andou constantemente na companhia de Cristo, testemunhou os milagres que ele realizou, ouviu suas mensagens, foi comissionado a pregar o reino de Cristo e teve Pedro, Tiago e João como amigos. Seria impossível imaginar para qualquer alma uma posição mais favorável do que a de Judas Iscariotes. Todavia, se já houve um homem que se lançou desesperadamente no inferno e sucumbiu por toda a eternidade, esse homem foi Judas. Seu caráter deve ter sido realmente corrupto, a ponto de o Senhor Jesus dizer a respeito dele: "Um de vós é diabo".
Estejamos inteiramente certos de que apenas possuir privilégios espirituais não é motivo suficiente para ter a alma salva. O lugar, as companhias e as oportunidades não são as coisas imprescindíveis para o homem tornar-se um crente, mas, sim, a graça de Deus. Com essa graça, podemos servir a Deus nas circunstâncias mais difíceis, assim como Daniel, em Babilônia; Obadias, na corte do rei Acabe; e os santos que viviam no palácio de Nero. Sem essa graça verdadeira, podemos viver diante da glória do Senhor Jesus e, assim como Judas, ser miseravelmente rejeitados. Não descansemos enquanto a graça de Deus não estiver reinando em nossas almas. Ela é concedida ao que busca. À direita de Deus está aquele que disse: "Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis" (Mt 7.7). O Senhor Jesus está sempre mais disposto a concedê-la ao homem do que este a buscá-la. Se os homens não a possuem, é porque não a buscam.
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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