07/12/2024
Leia João 20.11-18
Esses versículos descrevem algo peculiar ao evangelho de João: a conversa de nosso Senhor com Maria Madalena, um diálogo que ocorreu logo após a sua ressurreição. Os outros evangelistas não foram inspirados a escrevê-la. De todos os relatos de aparição de nosso Senhor após a sua ressurreição dentre os mortos, nenhum outro talvez seja tão comovente quanto esse. Se o lemos sem achá-lo interessante, talvez sejamos pessoas com um coração insensível e apático.
Em primeiro lugar, esses versículos nos mostram que desfrutam muitos privilégios da parte de Cristo aqueles que o amam com bastante perseverança e diligência. Um fato emocionante, que podemos observar com cuidado, foi a atitude de Maria Madalena em não se retirar de perto do sepulcro quando Pedro e João retornaram para casa. O amor por seu gracioso Senhor não permitiria que ela abandonasse o lugar no qual o haviam colocado. Onde ele estava e o que lhe havia acontecido, isso ela não sabia. Porém, o amor a fez demorar-se no lugar onde Nicodemos e José de Arimateia o haviam colocado. O amor levou-a a honrar o último lugar no qual o precioso corpo de seu Senhor fora visto por olhos humanos. Maria Madalena fora a primeira a vê-lo, após ter ressuscitado dentre os mortos. Seu amor colheu uma grande recompensa. Ela viu os anjos que não foram observados por João e Pedro. Foi a primeira a contemplar nosso Senhor ressuscitado, a ouvir sua voz e conversar com ele. Alguém duvida de que isso foi escrito para nosso ensino? Onde quer que o evangelho tem sido pregado, em todo o mundo, este pequeno incidente testifica: os que honram a Cristo serão honrados por ele.
Assim como aconteceu na manhã do primeiro domingo da Páscoa, também acontecerá durante toda a história da Igreja: o grande princípio contido nessa passagem continuará nos provendo o bem, até que o Senhor retorne. Os crentes não têm, todos, o mesmo grau de fé, esperança, conhecimento, sabedoria e coragem; e em vão esperamos que assim seja. Porém, este é um fato inquestionável: aqueles que amam Cristo com mais fervor e se achegam a ele com mais intimidade desfrutarão de maior comunhão com ele e perceberão mais o testemunho do Espírito em seus corações. Será àqueles que esperam no Senhor, da mesma maneira que Maria Madalena, que ele se revelará mais plenamente, fazendo-os saber e perceber mais do que outros. Conhecer Cristo é algo muito bom; no entanto, "ter certeza de que o conhecemos" é muitíssimo melhor.
Em segundo lugar, esses versículos nos mostram que os temores e as tristezas dos crentes frequentemente são desnecessários. Somos informados de que Maria Madalena "permanecia junto à entrada do túmulo, chorando", como se não houvesse consolo para ela. Enquanto chorava, os anjos lhe perguntaram: "Mulher, por que choras?". E ainda continuava, quando o Senhor também lhe perguntou: "Mulher, por que choras?". Sua queixa era a mesma: "Levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram". Todavia, durante todo esse tempo, seu Senhor ressurreto estava ali, em carne, ossos e em todos os aspectos que se referem à plenitude da natureza humana. As lágrimas e a ansiedade de Maria Madalena eram desnecessárias. Assim como Hagar no deserto, ela tinha uma fonte de água ao seu lado, mas não podia vê-la.
Qual crente não percebe nesse incidente uma figura da experiência de muitos crentes? Quantas vezes ficamos ansiosos quando não existe qualquer motivo para a ansiedade! E frequentemente lamentamos pela falta de coisas que, na realidade, já possuímos ou temos bem perto de nós. Dois terços de tudo que tememos jamais acontece, e dois terços de nossas lágrimas são desperdicadas ou derramadas em vão. Oremos para que tenhamos mais fé e paciência, permitindo que haja mais tempo para o completo desenvolvimento dos propósitos de Deus.
Creiamos que existem coisas que frequentemente estão cooperando para nossa paz e nossa satisfação, coisas que parecem constituir-se apenas de aflição e tristeza. Em certo momento de sua vida, Jacó disse: "Todas estas coisas me sobrevêm" (Gn 42.36). No entanto, ele viveu o suficiente para ver José novamente, em prosperidade e riqueza, e agradecer a Deus por tudo que havia acontecido. Se Maria Madalena tivesse encontrado o sepulcro ainda fechado com o selo e, em seu interior, o corpo de seu Senhor, com certeza poderia chorar! A ausência do corpo que a fez chorar era uma prova de bondade e um motivo de alegria para ela e toda a humanidade.
Em terceiro lugar, esses versículos nos mostram que as mentes dos discípulos de Cristo podem nutrir pensamentos insignificantes e terrenos a respeito dele. Parece impossível não extrair essa lição das palavras que Maria Madalena ouviu de nosso Senhor, ao dizer: "Não me detenhas; porque ainda não subi para meu Pai". Sem dúvida, essa linguagem é um pouco misteriosa e precisa ser considerada com cuidado e reverência. Porém, é razoável supor que a surpresa inicial e a mudanca de grande tristeza para intensa alegria eram mais do que Maria Madalena poderia suportar. Ela era apenas uma mulher, embora fosse santa e piedosa. É muito provável que, em seu primeiro ímpeto de alegria, ela se tenha atirado aos pés do Senhor, dando demonstração de sentimentos mais do que eram convenientes. Talvez ela se tenha comportado como alguém que imaginava que tudo estaria bem se tivesse a presença física de seu Senhor, e errado, se não tivesse aquela presença. Ela não demonstrou o mais elevado tipo de fé. Em resumo, Maria Madalena agiu como quem esquecera que seu Senhor era Deus e, ao mesmo tempo, homem. Ela subestimou a divindade de Jesus e valorizou em excesso sua humanidade; por isso, despertou a gentil repreensão de nosso Senhor: "Não me toques; essa excessiva demonstração de sentimentos é desnecessária. Em quarenta dias, eu subirei ao Pai. Seu dever agora não é demorar-se aos meus pés, e sim procurar meus irmãos e contar-lhes que ressuscitei. Pense nos sentimentos dos outros, bem como nos seus próprios".
Antes de mais nada, devemos confessar que os crentes estão sempre propensos a cometer a mesma falta cometida por essa mulher piedosa. Em todas as épocas, tem havido, no coração de muitos crentes, essa tendência a valorizar excessivamente a presença física de Cristo, esquecendo que ele não é apenas um amigo terreno, mas também o "Deus bendito, para sempre". A pertinácia com que os romanistas e seus aliados se apegam à doutrina da presença real de Cristo na Ceia é apenas outra demonstração de sentimentos iguais ao de Maria Madalena, quando ela desejava a presença física de Cristo, e não o próprio Cristo.
Oremos suplicando um discernimento correto a respeito desse assunto, bem como de todos os demais sobre a sua pessoa. Estejamos contentes em possuir Cristo habitando pela fé em nosso coração, e presente quando dois ou três estiverem reunidos em seu nome, e satisfeitos em esperar a verdadeira presença física de Cristo quando ele retornar. Não foi sem motivo que o Espírito escreveu: "O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida" (Jo 6.63); "Assim que, nós, daqui por diante, a ninguém conhecemos segundo a carne; e, se antes conhecemos Cristo segundo a carne, já agora não o conhecemos deste modo" (2Co 5.16).
Por último, esses versículos nos mostram a maneira graciosa e gentil de nosso Senhor falar sobre seus discípulos. Ele ordenou que Maria Madalena levasse a mensagem aos "seus irmãos". Disse que lhes contasse que seu Pai e Deus era igualmente o Pai e Deus de seus discípulos. Três dias antes, eles o haviam abandonado vergonhosamente e fugido. Apesar disso, esse misericordioso Senhor falou como se tudo estivesse perdoado e esquecido. Seu primeiro pensamento foi restaurar os errantes, sarar as feridas de suas consciências, revigorar sua coragem e restaurá-los à posição anterior. Esse é, sem dúvida, um amor que excede todo entendimento. Confiar em pessoas que o abandonaram e mostrar confiança em relação aos errantes foram demonstrações de compaixão que dificilmente podemos entender. Muitíssimo verdadeiras são as palavras de Davi: "Como um pai se compadece de seus filhos, assim o SENHOR se compadece dos que o temem. Pois ele conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó" (S1 103.13-14).
Terminemos nossas considerações sobre essa passagem com o estimulante pensamento de que o Senhor nunca muda. Ele é o mesmo, ontem, hoje e para sempre. De maneira semelhante àquela como ele lidou com seus discípulos errantes na manhã da ressurreição, o Senhor Jesus lidará com todos os que o amam e confiam nele. Quando nos afastamos do caminho, ele nos traz de volta. Se caímos, ele nos levanta novamente; pois jamais deixará de cumprir sua palavra fiel: "Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora" (Jo 6.37). De todo o coração, os santos na glória terão um hino para cantar em uníssono: "Não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui consoante as nossas iniquidades" (S1 103.10).
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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