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16/07/2024
Leia João 11.17-29
Nessa passagem há uma grande simplicidade quase sempre esquecida pelos expositores da
Bíblia. Comentá-la assemelha-se a dourar ouro ou embranquecer lírios. Entretanto, tal simplicidade
esclarece um assunto que nunca podemos entender bem: o verdadeiro caráter do povo de Deus.
As figuras que retratam o crente na Biblia são fiéis, apresentando-o como ele realmente é.
Em primeiro lugar, aprendemos que existe uma estranha mistura de graça e fraqueza no coração dos verdadeiros crentes. Vemos isso admiravelmente ilustrado na linguagem utilizada por Marta e Maria. Essas duas mulheres crentes demonstraram ter fé suficiente para dizer: "Senhor, se estiveras aqui, não teria morrido meu irmão". Mas nenhuma delas pareceu recordar que a morte de Lázaro não dependera da ausência de Cristo e que nosso Senhor, se julgasse conveniente, poderia ter impedido aquela morte, servindo-se apenas de uma palavra, sem viajar até Betânia. Marta tinha conhecimento suficiente para dizer: "Sei que, mesmo agora, tudo quanto pedires a Deus, Deus to concederá (...) que ele há de ressurgir na ressurreição, no último dia (...) eu tenho crido que tu és o Cristo, o Filho de Deus". Porém, ela não pôde ir adiante. Seus olhos turvos e suas mãos trêmulas não eram capazes de assimilar a grande verdade de que ali, bem diante dela, estava aquele que tem as chaves da vida e da morte, e de que nele "habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade" (C12.9). Ela viu realmente, porém com lentes obscuras; sabia, mas apenas em parte. Ela creu, mas sua fé estava misturada com incredulidade. No entanto, tanto Marta como Maria eram autênticas filhas de Deus e verdadeiras crentes.
Esses fatos foram graciosamente escritos para nosso aprendizado. É bom lembrar o que os verdadeiros crentes realmente são. Diversos e grandes são os erros em que as pessoas caem por formular estimativas erradas a respeito do caráter do crente. Muitas foram as coisas amargas já escritas contra os crentes, por imaginarem que eles não podem cometer erros neste lado da vida. Gravemos em nossas mentes o fato de que os santos na terra não são anjos perfeitos, mas, sim, pecadores convertidos. Sem dúvida, são pecadores renovados, transformados, santificados, mas ainda são pecadores e o serão até o dia de sua morte. Assim como Marta e Maria, a fé dos verdadeiros cristãos frequentemente está mesclada com incredulidade, e sua graça, cercada por bastante deficiência. Feliz é o filho de Deus que entende essas coisas e aprendeu a julgar corretamente tanto a si mesmo como os outros. Na verdade, é raro encontrarmos um crente que não precise orar: "Senhor, eu creio. Ajuda-me em minha incredulidade".
Em segundo lugar, aprendemos que muitos crentes necessitam ter opiniões claras a respeito da pessoa, do ofício e do poder de Cristo. Esse assunto foi obrigatoriamente ressaltado na famosa sentença que nosso Senhor proferiu a Marta. Em sua resposta à vaga e insegura afirmação de crença na ressurreição do último dia, Jesus proclamou esta gloriosa verdade: "Eu sou a ressurreição e a vida. Eu mesmo, teu Senhor, sou Aquele que possui em suas mãos as chaves da morte e da vida". Em seguida, ensinou-lhe de novo a antiga lição que ela já ouvira tantas vezes e nunca compreendera totalmente: "Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente".
Aqui, há um assunto que exige consideração especial da parte de todos os verdadeiros crentes. Muitos reclamam de sua falta de sensível consolo na vida espiritual. Não sentem a paz interior que desejam. Saibam eles que opiniões vagas e imprecisas a respeito de Cristo são frequentemente a causa de sua perplexidade. Precisam esforçar-se para ver com mais clareza o grande objeto sobre o qual descansa sua fé. Precisam assimilar com maior firmeza o amor e o poder de Cristo para com eles, que creem, e as riquezas espirituais que ele entesoura nesta vida para os verdadeiros crentes. Infelizmente, muitos de nós somos semelhantes a Marta. Um simples conhecimento geral da pessoa de Cristo como Salvador é tudo que possuímos. No entanto, temos experimentado nada ou pouco da plenitude, da ressurreição, do sacerdócio, da intercessão e da infalível compaixão de Cristo. Há muitos crentes para os quais o Senhor poderia indagar, assim como fez a Marta: "Crês nisso?". Jamais nos envergonhemos de confessar o nome de Cristo, ainda que saibamos pouco a respeito dele. Que direito temos de nos admirar ao desfrutarmos pouco consolo em nosso cristianismo? Nosso conhecimento superficial e imperfeito de Cristo é a verdadeira causa de nosso desconforto. Já passamos bastante tempo como alunos negligentes na escola de Cristo; nos dias vindouros, sejamos mais diligentes em procurar conhecê-lo, bem como "o poder da sua ressurreição" (Fp 3.10). Se os verdadeiros crentes se esforçarem, assim como Paulo recomenda, para "compreender, com todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade (...) e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento", ficarão admirados das descobertas que farão. Logo descobrirão, assim como Hagar no deserto, que existem fontes de água bem próximas a eles, acerca das quais não tinham qualquer conhecimento. Descobrirão que, na terra, há mais para desfrutar do céu, mais do que podiam imaginar. A raiz de toda vida espiritual feliz é um claro, evidente e bem definido conhecimento de Jesus Cristo. Um maior conhecimento dele teria poupado Marta de muitas lágrimas e murmúrios. Sem dúvida, apenas o conhecimento, se não for santificado, "ensoberbece" (1Co 8.1). Entretanto, sem um entendimento claro da pessoa de Cristo, em todos os seus ofícios, não esperemos permanecer firmes na fé e perseverantes nos tempos de necessidade.
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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