23/03/2024
Leia Lucas 22.24-30
Essa passagem nos mostra como o orgulho e o amor a proeminência estão firmemente arraigados no coração de homens bons. Os discípulos "suscitaram entre si uma discussão sobre qual deles parecia ser o maior" Esse tipo de discussão havia sido reprovada por nosso Senhor em ocasião anterior. A ordenança que os discípulos haviam acabado de receber e as circunstâncias nas quais se reuniram tornavam desagradável a discussão. Contudo, na última oportunidade em que poderiam ficar tranquilos ao lado de seu Senhor, antes de sua morte, o pequeno rebanho iniciou uma contenda a respeito de quem seria o maior! Assim é o coração do homem, sempre fraco, iludido e disposto, mesmo em seus melhores momentos, a se voltar para aquilo que é mau. São pecados muito antigos. Ambição, autoestima e presunção se encontram nas profundezas do coração de todos os homens; e, com frequência, nós as acharemos no coração daquelas pessoas que são menos suspeitas. Milhares imaginam que são humildes, mas não podem tolerar que um semelhante seja mais honrado e favorecido do que eles mesmos. Existem poucos que realmente se regozijam, de coração, com a promoção de seu próximo sendo colocado acima deles mesmos. A quantidade de inveja e ciúmes que contemplamos no mundo é prova notável da predominância do orgulho. Os homens não invejariam seu próximo se não tivessem um pensamento íntimo de que seus méritos são maiores do que os dele.
Se confessamos servir a Cristo, devemos vigiar contra uma enfermidade tão dolorosa. Não podemos calcular o dano que ela tem causado à Igreja de Cristo. Aprendamos a nos alegrar com a prosperidade dos outros e estejamos contentes em ocupar nossas posições humildes. Devemos ter sempre em mente o princípio recomendado aos filipenses: "Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo" (Fp 2.3). O exemplo de João Batista é uma brilhante ocorrência do tipo de espírito que devemos almejar. Ele disse a respeito de nosso Senhor: "Convém que ele cresça e que eu diminua" (Jo 3.30).
Em segundo lugar, essa passagem nos mostra a notável descrição feita por nosso Senhor em referência à verdadeira grandeza cristã. Ele disse aos seus discípulos que o padrão mundano de grandeza consiste no exercício de senhorio e autoridade. "Mas vós", afirmou ele, "não sois assim; pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve". Em seguida, Jesus reforçou o princípio utilizando o poderoso fato exemplificado em sua própria vida: "Pois, no meio de vós, eu sou como quem serve".
Ser útil ao mundo e à Igreja, ter humilde prontidão para fazer qualquer coisa e colocar nossas mãos em qualquer boa obra, ter alegre disposição para ocupar qualquer posição, embora humilde, e realizar qualquer ofício, ainda que seja desagradável, se tão somente isso promover alegria e santidade na terra, essas são verdadeiras evidências da grandeza de um crente. O herói do exército de Cristo não é aquele que ocupa elevada posição, que tem títulos, dignidade, armamentos e um grupo de soldados que seguem adiante dele; é aquele que não visa aos seus próprios interesses, e sim aos de outros. É aquele que se mostra amável, gentil e prudente para com todos, demonstrando possuir uma mão para ajudá-los e um coração disposto a sentir as aflições de todos. É aquele que se gasta e se deixa gastar para diminuir o pecado e a miséria do mundo, a fim de fortalecer os corações quebrantados, ser amigo dos que não têm amigos, consolar os tristes, iluminar os ignorantes e socorrer os pobres. Esse é o homem verdadeiramente grande aos olhos de Deus. O mundo pode achar ridículos seus esforços e negar a sinceridade de seus motivos. Mas, enquanto o mundo escarnece, Deus fica satisfeito. Esse é o homem que está andando com mais exatidão nos passos de Cristo.
Sigamos esse tipo de grandeza se desejamos provar que somos servos do Senhor Jesus. Jamais nos contentemos em possuir um conhecimento intelectual nítido, lábios que fazem afirmações altissonantes, percepção habilidosa em lidar com controvérsias e um ardente zelo por coisas de nosso próprio interesse. Tenhamos certeza de que ministramos às necessidades de um mundo sobrecarregado de pecado e fazemos o bem ao corpo e à alma das pessoas. Bendito seja Deus, a grandeza que Cristo recomendou nessa ocasião está ao alcance de todos! Nem todos os servos de Cristo têm cultura, dons ou dinheiro. No entanto, todos eles podem ministrar a felicidade àqueles que os cercam, por meio de virtudes ativas ou passivas. Todos podem ser úteis e amáveis. Existe uma grande realidade em demonstrarmos bondade constante. Ela faz com que a pessoa do mundo comece a pensar.
Em terceiro lugar, essa passagem nos mostra o amável elogio que nosso Senhor proferiu a respeito de seus discípulos. Ele disse: "Vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas tentações". Existe algo bastante admirável nessas palavras de apreciação. Conhecemos a fraqueza e a imperfeição dos discípulos de Cristo durante todo o seu ministério terreno. Com frequência, vemos o Senhor Jesus reprovando-lhes a ignorância e a incredulidade. Ele sabia muito bem que, em poucas horas, seus discípulos haveriam de abandoná-lo. Mas agora nós o vemos a ressaltar graciosamente um aspecto de sua conduta, destacando-o para que a Igreja o observasse perpetuamente. Apesar de todas as suas falhas, os discípulos haviam sido fiéis ao seu Senhor. Seus corações haviam estado em retidão, embora cometessem muitos erros. Os discípulos se apegaram ao Senhor nos dias de sua humilhação, quando os grandes e os nobres estavam contra ele; haviam "permanecido" com ele em suas tentações.
Descansemos nossas almas no confortável pensamento de que Cristo é sempre o mesmo. Se somos verdadeiros crentes, estejamos certos de que ele está atento às nossas virtudes, mais do que às nossas faltas; ele tem compaixão de nossas falhas e não nos tratará de acordo com nossos pecados. Nunca qualquer outro senhor possuiu servos tão fracos e insignificantes quanto os crentes têm sido para o Senhor Jesus; porém, nenhum outro servo teve um senhor tão compassivo e amável quanto o Senhor Jesus Cristo! Com certeza, não podemos amá-lo como ele merece. Em diversas coisas ficamos muito aquém do que ele deseja. Falhamos em conhecimento, coragem, fé e paciência. Muitas vezes, tropeçamos. Mas uma coisa sempre devemos fazer: amar o Senhor Jesus com todo nosso coração, alma, força e entendimento. Não importa o que os outros façam, devemos permanecer com Jesus, apegando-nos a ele com um coração resoluto. Feliz é aquele que pode dizer, assim como Pedro, humilhado e sentindo vergonha: "Senhor, tu sabes que te amo" (Jo 21.15).
Por último, essa passagem nos mostra a gloriosa promessa que nosso Senhor fez aos seus fiéis discípulos. Ele disse: "Assim como meu Pai me confiou um reino, eu vo-lo confio, para que comais e bebais à minha mesa no meu reino; e vos assentareis em tronos para julgar as doze tribos de Israel".
Era o legado final de nosso Senhor ao seu pequeno rebanho. Ele sabia que, em poucas horas, seu ministério entre os discípulos terminaria. Ele o concluiu com uma maravilhosa afirmativa de coisas boas entesouradas para seus discípulos. Talvez não possamos compreender o pleno significado de cada parte da promessa. Basta-nos saber que nosso Senhor prometeu aos seus onze fiéis discípulos glória, honra e recompensas que excederiam qualquer coisa que fizeram por ele. Haviam trilhado uma pequena jornada com ele, assim como Barzilai o fizera com Davi, e realizado poucas coisas por Jesus. Ele assegurou aos onze que teriam no mundo vindouro uma recompensa digna de um rei.
Ao findar nossa meditação sobre essa passagem, tenhamos o estimulante pensamento de que as recompensas que Cristo outorgará ao seu povo crente serão excessivamente superiores ao que fizeram por ele. Suas lágrimas serão achadas no odre de Cristo. Seus mais insignificantes desejos para fazer o bem serão relembrados. Seus frágeis esforços para glorificá-lo estarão escritos no livro de recordações de Cristo. Nenhum copo de água fria perderá sua recompensa.
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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