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06/07/2024
Leia João 10.1-9
O capítulo que agora consideramos está intimamente relacionado ao anterior. A parábola foi
proferida com uma referência direta aos falsos ensinadores da religião judaica. Os escribas e os fariseus eram as pessoas que o Senhor tinha em vista quando descreveu o falso pastor. Os próprios homens que haviam dito "Nós vemos" foram denunciados, com santa ousadia, como "ladrões e salteadores".
Em primeiro lugar, temos nesses versículos um retrato nítido de um falso ensinador das coisas espirituais. Nosso Senhor disse que o falso ensinador é aquele que "não entra pela porta no aprisco das ovelhas, mas sobe por outra parte". O verdadeiro sentido do vocábulo "porta" tem de ser encontrado na interpretação dada por nosso Senhor. Ele mesmo é a "porta". O verdadeiro pastor das almas é aquele que entra no ministério olhando para Cristo, desejando glorificá-lo, fazendo tudo no poder que ele outorga, pregando sua doutrina, andando em seus passos e se esforçando para trazer homens e mulheres a Cristo.
O falso pastor de almas é alguém que entra no ministério com pouco ou nenhum pensamento a respeito de Cristo, motivado por interesses mundanos e pela autoexaltação, mas não pelo desejo de exaltar Jesus e sua grandiosa salvação. Cristo é o grande fundamento do ministro do evangelho. O homem que possui uma elevada reverência ao Senhor Jesus é um pastor segundo o coração de Deus, que se deleita em honrá-lo. O homem que faz pouco-caso do Senhor Jesus é um impostor, alguém que não entrou pela porta, mas entrou por outro caminho, no sagrado ofício.
Essa afirmação de Jesus é humilhante e constrangedora. Todos somos capazes de perceber que ele estava condenando os ensinadores israelitas de sua época. Não havia qualquer "porta" no ministério deles. Não ensinavam qualquer coisa correta sobre o Messias. Rejeitaram o próprio Cristo quando ele veio ao mundo. Mas nem todos percebem que a afirmativa de Jesus condena milhares de supostos ensinadores cristãos, assim como censurou os líderes e mestres religiosos dos judeus. Muitos dos pastores, no presente, não sabem nada a respeito de Cristo, exceto seu nome. Não entraram pela "porta" e são incapazes de mostrá-la aos outros. Seria bom para o cristianismo se esse fato se tornasse mais conhecido e os crentes o considerassem com maior seriedade! Pastores não convertidos são a ruína da igreja. Quando um cego guia outro cego, ambos caem no barranco. Se desejarmos conhecer o valor do ministério de um pastor, perguntemos: "Onde está o Cordeiro? Onde está a porta? Esse pastor revela a Cristo e dá-Ihe o lugar correto?".
Em segundo lugar, temos nesses versículos uma figura singular dos verdadeiros cristãos. Nosso Senhor os descreveu como ovelhas que ouvem e reconhecem a voz do verdadeiro pastor e "de modo nenhum seguirão o estranho; antes, fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos".
O ensino que encontramos nessas palavras é muito curioso e talvez pareça "loucura" para o mundo. Na maioria dos cristãos genuínos, há um instinto espiritual que os capacita a distinguir entre o verdadeiro e o falso ensino. Quando ouvem
lições espirituais incorretas, algo em seu íntimo lhes diz: "Isso está errado". Ao ouvirem a autêntica verdade de Jesus, em seu espírito algo responde: "Isso está correto'. O descuidado homem mundano pode não ver qualquer diferença entre um pastor e outro, entre um sermão e outro. Em geral, a mais simples ovelha de Cristo fará a distinção, embora não seja capaz de explicar porquê.
Estejamos atentos a não desprezar esse instinto espiritual. Não importa o que diga o mundo escarnecedor, esse instinto é uma das características especiais da habitação do Espírito Santo. O apóstolo João referiu-se de maneira especial a esse instinto quando afirmou: "E vós possuís a unção que vem do Santo e todos tendes conhecimento" (1Jo 2.20). Oremos para que essa unção se manifeste diariamente, a fim de sermos protegidos da influência de falsos pastores. Perder toda a capacidade de distinção entre o amargo e o doce é um dos piores sintomas de enfermidade física. Ser incapaz de perceber a diferença entre a lei e o evangelho, a verdade e o erro, o protestantismo e o papismo, a doutrina de Cristo e o ensino do homem é uma prova segura de que ainda estamos mortos e precisamos de conversão.
Por último, nesses versículos, temos a mais instrutiva figura da pessoa de Cristo. Ele pronunciou uma das mais preciosas frases, que deve ser amada por todos os verdadeiros crentes. Aplica-se tanto ao povo como aos ministros do evangelho: "Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará, e sairá, e achará pastagem".
Por natureza, estamos separados e distantes de Deus. O pecado, tal como uma elevada muralha, ergue-se entre nós e o Criador. O sentimento de culpa nos deixa com medo dele. A percepção da santidade de Deus nos mantém distantes dele. Nascidos com um coração que está em inimizade contra ele, tornamo-nos cada vez mais alienados de Deus por causa das práticas em que vivemos. A primeira questão a que precisamos responder é esta: "Como poderei me aproximar de Deus? De que modo poderei ser justificado? Como é possível a um pecador como eu ser reconciliado com meu Criador?".
O Senhor Jesus Cristo providenciou a resposta a todas essas importantes perguntas. Por meio de seu sacrifício na cruz, em nosso favor, ele abriu uma passagem através daquela grande muralha de separação, conseguindo perdão e paz para os pecadores. O Senhor Jesus "morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos", para nos conduzir a Deus. Ele abriu o caminho para o Santo dos Santos, através de seu sangue, pelo qual podemos nos aproximar de Deus, com ousadia e sem temor. Agora ele é poderoso para salvar até o fim todos aqueles que, por intermédio dele, achegam-se a Deus. Em sentido mais amplo, ele é a "porta". Ninguém pode vir ao Pai se não por meio de Jesus.
Estejamos atentos para entrar pela porta e não apenas permanecer do lado de fora, olhando para ela. É uma porta gratuita e aberta ao maior dos pecadores. Se alguém entrar por ela, será salvo. É a porta que, ao entrar, encontraremos pleno e constante suprimento para cada necessidade de nossas almas. Descobriremos que podemos entrar e sair, desfrutando liberdade e paz. Chegará o dia em que essa porta será fechada, e os homens se esforçarão para entrar, mas serão incapazes. Portanto, estejamos seguros de nossa própria salvação. Não demoremos do lado de fora, hesitando entre duas opiniões. Entremos e sejamos salvos.
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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