-
10/07/2024
Leia João 10.19-30
Nessa passagem, observamos inicialmente as contendas e controvérsias que nosso Senhor causou enquanto estava na terra. Somos informados de que houve uma nova dissensão entre os judeus por causa das palavras de Jesus e "muitos deles diziam: Ele tem demônio e enlouqueceu", enquanto outros tinham uma opinião contrária. A princípio, parece estranho que ele veio anunciar paz entre Deus e o homem, e se tomou motivo de contenda. No entanto, nessa ocasião, suas palavras se cumpriram literalmente: "Não vim trazer paz, mas espada" (Mt 10.34). A culpa não estava em Cristo ou em sua doutrina, mas, sim, na mentalidade carnal de seus ouvintes.
Não fiquemos surpresos por vermos isso acontecer hoje. A natureza humana é sempre a mesma. Enquanto o coração do homem não possui a graça de Deus, devemos esperar que ele continuamente despreze o evangelho de Cristo. Assim como o óleo e a água, os ácidos e os álcalis não se combinam, também a pessoa não convertida é realmente incapaz de gostar do povo de Deus. "O pendor da carne é inimizade contra Deus" (Rm 8.7); "O homem natural não aceita as coisas do Espirito de Deus" (1Co 2.14).
O servo de Cristo não deve achar estranho se tiver de enfrentar a mesma experiência pela qual seu Mestre passou. Com frequência, o crente descobrirá que suas atitudes e opiniões sobre a vida espiritual causam dissensão em sua própria família. Ele terá de suportar o ridículo, palavras ofensivas e perseguição da parte dos filhos deste mundo; e ainda perceberá que é considerado um tolo ou louco por causa do seu cristianismo. Nenhuma dessas coisas devem fazê-lo mudar. O pensamento de que ele é participante dos sofrimentos de Cristo deve fortalecê-lo contra toda provação. "Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais aos seus domésticos?" (Mt 10.25).
Jamais devemos esquecer o seguinte: não precisamos imaginar o pior a respeito das coisas espirituais porque elas suscitam contendas e discórdias. Não temos de encontrar falhas no glorioso evangelho se ele desperta as corrupções dos homens e manifesta "os pensamentos de muitos corações" (Lc 2.35).
Em segundo lugar, observamos o nome que Cristo deu aos verdadeiros cristãos. Ele usou uma expressão figurada que, como toda a sua linguagem, tem profundo significado; chamou-os de "minhas ovelhas". Sem dúvida, a palavra "ovelha" indica algo no caráter e nas atitudes dos verdadeiros discípulos de Cristo. Seria fácil demonstrar que fraqueza, desamparo e inutilidade são aspectos de semelhança entre a ovelha e o crente. Entretanto, a ideia principal na mente de nosso Senhor era a completa dependência que as ovelhas manifestam em relação ao pastor. Assim como as ovelhas escutam a voz de seu próprio pastor e o seguem, também o crente segue a Cristo. Pela fé, ele ouve a chamada, submete-se à orientação e descansa nele, entregando sua alma implicitamente à orientação dele. As atitudes do pastor e de suas ovelhas são a mais vívida ilustração do relacionamento entre Cristo e os verdadeiros crentes.
A expressão "minhas ovelhas" indica a mais íntima relação que existe entre Cristo e os crentes. Estes pertencem a ele porque são uma dádiva do Pai, foram comprados, chamados e escolhidos, e porque, voluntária e conscientemente, submeteram-se a ele. No sentido mais elevado, os verdadeiros crentes são propriedade de Cristo; e, assim como o homem sente especial interesse naquilo que ele mesmo comprou por grande preço e se tornou sua propriedade, também o Senhor Jesus demonstra peculiar interesse por seu povo.
Expressões assim devem ser cuidadosamente entesouradas na mente dos verdadeiros crentes. Eles descobrirão que elas são animadoras e fortalecem o coração em tempos de provação. O mundo não vê qualquer beleza no comportamento de um homem piedoso e, com frequência, o despreza. Mas esse homem, que é uma das ovelhas de Cristo, não tem motivos para se sentir envergonhado. Em seu íntimo, ele tem "uma fonte a jorrar para a vida eterna" (Jo 4.14).
Por último, devemos observar os amplos privilégios que o Senhor Jesus Cristo outorga aos verdadeiros crentes. A respeito deles, o Senhor empregou palavras de singular excelência e vigor: "Eu as conheço (...) Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão". Essas afirmativas assemelham-se ao cacho de uvas que os israelitas colheram em Escol. Dificilmente encontraremos uma forma mais intensa de discurso em toda a Bíblia.
O Senhor Jesus "conhece" seu povo com um especial conhecimento de aprovação, interesse e afeição. Eles são comparativamente desconhecidos pelo mundo ao seu redor, bem como desprezados e rejeitados. No entanto, jamais são esquecidos por Cristo.
Cristo dá "vida eterna" ao seu povo. Ele lhes outorga gratuitamente o direito de entrar no céu, perdoando seus muitos pecados e vestindo-os com sua perfeita justiça. Com frequência, ele sabiamente os impede de possuir riquezas e prosperidade mundana. Mas nunca falha em lhes conceder graça, paz e misericórdia.
O Senhor Jesus declara que suas ovelhas "jamais perecerão. Embora sejam fracas, serão salvas. Nenhuma delas se perderá ou será lançada fora; nenhuma delas deixará de entrar no céu. Se pecarem, serão reconduzidas ao caminho da santidade. Se caírem, serão levantadas. Os inimigos de suas almas são fortes e poderosos; todavia, o Salvador delas é mais poderoso, e ninguém as arrebatará de sua mão.
Essa promessa merece especial atenção. Se as palavras realmente têm significado, essa promessa contém a grande doutrina da perseverança ou da continuação na graça dos verdadeiros crentes. Essa doutrina é literalmente odiada pelos ímpios. Sem dúvida, assim como outras verdades das Escrituras, ela está sujeita a abusos. Mas as palavras de Cristo são muito claras para que nos esquivemos delas. Ele disse e cumprirá: "Minhas ovelhas jamais perecerão".
Não importa o que os homens sejam capazes de afirmar sobre essa doutrina, o filho de Deus tem de se apegar a ela e defendê-la com todas as suas forças. Para todos os que desfrutam em seu íntimo do ministério do Espírito Santo, essa doutrina está repleta de encorajamento e consolação. Uma vez que estejam dentro da arca, eles não mais serão lançados fora. Se foram unidos a Cristo e se converteram, nunca serão cortados de seu corpo místico. Os hipócritas e falsos ensinadores naufragarão eternamente, a menos que se arrependam. Mas as verdadeiras "ovelhas" jamais serão confundidas. Cristo afir-
mou e não pode mentir: "Minhas ovelhas jamais perecerão".
E, quanto a nós, temos nos beneficiado dessa gloriosa promessa? Estejamos certos de que pertencemos ao rebanho de Cristo. Ouçamos a voz de Cristo e o sigamos. O homem que, sob o intenso peso do pecado, refugia-se e confia nele jamais será arrebatado de suas mãos.
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
Comments