23/11/2024
Leia João 19.17-27
A pessoa que lê essa passagem sem demonstrar um profundo sentimento de sua própria dívida
para com Cristo deve ser alguém que possui um coração insensato e endurecido.
Grande foi o amor de Cristo pelos pecadores quando, voluntariamente, suportou esses sofrimentos em favor deles. Imensa é a pecaminosidade do pecado, que exigiu tanto sofrimento vicário a fim de proporcionar sua expiação.
Em primeiro lugar, devemos observar na passagem que nosso Senhor teve de levar sua cruz quando dirigiu-se da cidade para o Gólgota. Sem dúvida, há um significado profundo em todas essas circunstâncias. Por um lado, elas faziam parte da humilhação à qual nosso Senhor teve de se sujeitar como nosso Substituto. Um dos castigos infligidos aos mais vis criminosos era que levassem a própria cruz ao caminharem para a execução; e isso foi imposto a nosso Senhor. Em sentido completo, ele foi reputado como pecador e considerado maldição em nosso benefício. Por outro lado, esses acontecimentos eram um cumprimento da figura apresentada na grande oferta pelo pecado instituída na lei mosaica. Estava escrito: "O novilho e o bode da oferta pelo pecado, cujo sangue foi trazido para fazer expiação no santuário, serão levados fora do arraial" (Lv 16.27). Aqueles cegos judeus não imaginavam que, ao instigar furiosamente os romanos a crucificarem Jesus fora de Jerusalém, estavam, de maneira inconsciente, cumprindo a grandiosa oferta pelo pecado. Está escrito: "Por isso foi que também Jesus, para santificar o povo, pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta" (Hb 13.12).
Todos os crentes devem sempre recordar a lição prática que aprendemos com esse fato. Assim como nosso Senhor, precisamos estar contentes em nos retirar para "fora da porta", levando o vitupério de Cristo. Devemos nos retirar do mundo tornando-nos separados e dispostos, se for necessário, a permanecer sozinhos. À semelhança de nosso Senhor, devemos estar prontos para levar nossa cruz todos os dias e para sofrer perseguição, tanto por causa da doutrina como por causa de nosso viver. Seria bom para a igreja se mais da verdadeira cruz fosse visto entre os crentes! Usar uma cruz de madeira ou de outro material como adorno, colocar cruzes em igrejas ou sepulturas - tudo isso é fácil e não envolve qualquer dificuldade. Mas ter a cruz de Cristo no coração, carregar a cruz no viver diário, conhecer a comunhão dos sofrimentos de Cristo, ser conformado à sua morte, crucificando as afeições e viver - tudo isso exige abnegação, e não encontramos com facilidade crentes desse tipo. No entanto, podemos estar certos, esse é o único meio de carregar a cruz que abençoa o mundo.
Em segundo lugar, devemos observar que nosso Senhor foi crucificado como um rei. O título colocado acima da cabeça de nosso Senhor demonstra isso com muita clareza. As pessoas capazes de ler latim, grego ou hebraico não deixariam de ver que, na cruz central, estava alguém que tinha acima de sua cabeça o título de rei. A mão de Deus controlou as coisas de tal maneira que a poderosa vontade de Pilatos sobrepujou, pelo menos uma vez, o desejo dos perversos judeus. Apesar da insistência dos principais sacerdotes, nosso Senhor foi crucificado como "Rei dos Judeus".
Era conveniente e certo que assim acontecesse. Mesmo antes do nascimento de nosso Senhor, o anjo Gabriel dissera a Maria: "Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai, ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim" (Lc 1.32-33). Logo após o seu nascimento, vieram os sábios, indagando: "Onde está o recém-nascido Rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos para adorá-lo" (Mt 2.2). Uma semana antes da crucificação de nosso Senhor, a multidão que o acompanhou em sua entrada triunfal clamou: "Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor e que é Rei de Israel!' (Jo 12.13). A crença de todos os judeus da época era que o Messias, o filho de Davi, viria como rei. O reino de Deus e dos céus foi constantemente proclamado por Jesus durante seu ministério terreno. Na verdade, ele era rei, tal como dissera a Pilatos, rei de um domínio diferente dos reinos deste mundo; porém, era um verdadeiro rei, de um reinado e com súditos autênticos. Na qualidade de Rei, ele nasceu, viveu, foi crucificado; e voltará para governar sobre toda a terra, como Rei dos reis e Senhor dos senhores.
Estejamos certos de que conhecemos Jesus como nosso Rei e de que seu domínio já foi estabelecido em nossos corações. Somente o encontrarão como Salvador no último dia aqueles que obedecem a ele como Rei neste mundo. Tributemos-lhe com alegria o amor, a obediência e a fé que ele valoriza mais do que ouro. Sobretudo jamais tenhamos medo de ser servos fiéis, soldados e seguidores dele, ainda que sejamos muito desprezados pelo mundo. Em breve, chegará o dia em que o Nazareno rejeitado, que foi pendurado na cruz, demonstrará seu grande poder e reinará, colocando debaixo de seus pés todos os inimigos. Os reinos deste mundo, conforme Daniel profetizou, serão aniquilados e surgirá o reino de nosso Deus e de seu Cristo. Por fim, todo joelho se dobrará e toda língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor.
Por último, devemos observar nessa passagem a ternura com que Jesus se preocupou com Maria, sua mãe. Somos informados de que, embora estivesse suportando agonias no corpo e na mente, ele não esqueceu aquela de quem havia nascido. De maneira misericordiosa, o Senhor Jesus lembrou-se da desolação de Maria e do comovente efeito das coisas que ela estava contemplando. Ele sabia que, embora fosse uma mulher santa, Maria era apenas uma mulher e, por isso mesmo, sentia profundamente a morte de um filho como Jesus. Portanto, entregou-a aos cuidados do discípulo que ele mais amava e que também mais o amava, pronunciando estas comoventes palavras: "Mulher, eis aí teu filho". Depois, Jesus disse ao discípulo: "Eis aí tua mãe. Dessa hora em diante, o discípulo a tomou para casa".
Sem dúvida, não precisamos de prova maior do que esta de que Jesus nunca tencionou que Maria, sua mãe, fosse honrada como Deus, ou que orações fossem dirigidas a ela, ou que as pessoas a adorassem e confiassem nela como padroeira dos pecadores. O bom senso nos mostra que, se alguém precisa receber os cuidados e a proteção de outrem, tal pessoa jamais pode ajudar homens e mulheres a chegarem ao céu ou ser, em qualquer sentido, mediadora entre Deus e os homens. Não é exagero afirmar, embora seja desagradável para alguns, que, de todas as invenções da Igreja de Roma, não existe outra tão destituída de fundamento bíblico quanto a doutrina da adoração de Maria.
Voltemo-nos agora para um assunto mais relevante. Sejamos fortalecidos através do pensamento de que temos um Salvador que possui incomparável ternura, simpatia e consideração pelo estado de seu povo. Jamais esqueçamos estas palavras de Jesus: "Qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe" (Mc 3.35). Aquele que, na cruz, condoeu-se por Maria é o mesmo sempre. O Senhor Jesus nunca esquece aqueles que o amam e, mesmo quando estes passam por momentos difíceis, recorda-se de suas necessidades. Não devemos admirar que Pedro tenha dito: "Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós" (1Pe 5.7).
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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