27/11/2024
Leia João 19.28-37
Essa parte da narrativa do evangelho de João contém assuntos de profundo
interesse que foram deixados de lado por Mateus, Marcos e Lucas. Não sabemos o motivo. Basta lembrar, tanto no que eles relataram como no que deixaram de narrar: todos os quatro evangelhos foram escritos por inspiração divina.
Inicialmente, devemos observar nesses versículos o frequente cumprimento das Escrituras proféticas em todos os aspectos da crucificação de nosso Senhor. Três profecias em particular são mencionadas (Êxodo, Salmos e Zacarias) e tiveram sua realização na cruz. Conforme qualquer leitor bem informado percebe, outras profecias podem ser facilmente identificadas. Todas essas profecias se combinam para comprovar a mesma coisa. Demonstram que a morte de nosso Senhor Jesus Cristo no Gólgota foi algo previsto e predeterminado por Deus. Centenas de anos antes da crucificação, todos os aspectos daquela solene transação foram dispostos no conselho divino, e os detalhes foram revelados aos profetas. Do início ao fim, a crucificação era conhecida antecipadamente, e todos os seus aspectos estavam em consonância com um plano e um desígnio já determinado. Em sentido mais amplo e profundo, "Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras" (1Co 15.3).
Não podemos duvidar de que tal cumprimento das Escrituras constitui uma grande evidência da autoridade divina da Palavra de Deus. Os profetas anunciaram antecipadamente não apenas a morte de Cristo, mas também os detalhes relacionados à sua morte. É impossível explicar com base em teorias a realização de tantas circunstâncias profetizadas. Falar sobre acaso, sorte, coincidências como explicações satisfatórias é presunção e absurdo. A única explicação racional é a inspiração divina. Os profetas que predisseram os detalhes da crucificação foram inspirados por aquele que, com antecedência, vê o fim desde o começo; e os livros que os profetas escreveram não devem ser lidos como obras humanas, e sim divinas.
Sem dúvida, aqueles que procuram negar a inspiração da Bíblia encontram muita dificuldade. Uma pessoa necessita de mais fé para ser um incrédulo do que para ser um verdadeiro cristão. Com certeza, é bastante ingênua a pessoa que considera resultado do acaso, e não de um plano determinado, os minuciosos cumprimentos de profecias a respeito da morte de Cristo, tais como as referentes às suas vestes, sua sede, seu lado traspassado e seus ossos.
Em segundo lugar, devemos observar nos versículos a solene declaração proveniente dos lábios de nosso Senhor, antes de morrer. O apóstolo João relata que, após beber o vinagre, Jesus disse: "Está consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito" (Jo 19.30). Não é exagero afirmar que, das sete famosas declarações de Jesus na cruz, nenhuma é mais notável do que esta; e somente João a relatou.
O significado exato da maravilhosa expressão "Está consumado" é algo que o Espírito Santo achou melhor não revelar. Todos devemos perceber instintivamente que existe, nessa expressão, um significado tão profundo que aos homens faltam palavras para explicá-lo. Entretanto, não demonstramos irreverência ao imaginar os pensamentos que estavam na mente de nosso Senhor ao pronunciar essas palavras. A consumação de todos os sofrimentos que conhecemos e desconhecemos, os quais ele suportou como nosso Substituto; a consumação da lei mosaica, que ele viera cumprir, tornando-se o verdadeiro sacrifício pelos nossos pecados; a consumação de muitas profecias, que ele viera concretizar; a consumação da grande obra de redenção do homem, a qual agora estava quase concluída - tudo isso, sem dúvida, nosso Senhor tinha em mente quando disse: "Está consumado!". Havia algo mais, nós o sabemos. No entanto, ao considerar essas palavras de alguém como nosso Senhor, em uma ocasião como esta, diante de uma crise tão misteriosa de sua vida, é melhor sermos cautelosos. O lugar em que estamos pisando "é terra santa".
Em todos os casos, um estimulante pensamento se destaca com clareza nessa famosa expressão. Nossas almas repousam sobre uma obra consumada se confiamos na obra de Jesus Cristo, nosso Senhor. Não precisaremos temer se Satanás ou a lei procurarem nos condenar no último dia. Podemos descansar no pensamento de que temos um Salvador que fez, pagou e consumou tudo que é necessário para nossa salvação; e apropriar-nos das desafiadoras palavras do apóstolo: "Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós" (Rm 8.34). Quando consideramos nossas próprias obras, certamente podemos sentir-nos envergonhados por causa de suas imperfeições. Mas, quando consideramos a obra consumada de Cristo, sentimos paz. Se cremos, estamos aperfeiçoados nele (C1 2.10).
Por último, devemos observar nesses versículos a veracidade e a realidade da morte de Cristo. O texto bíblico nos diz: "Mas um dos soldados lhe abriu o lado com uma lança, e logo saíram sangue e água". Esse incidente, embora, a princípio, pareça insignificante, fornece provas concretas de que o coração de nosso bendito Senhor havia parado e, consequentemente, sua vida terminara. Ele não apenas desmaiara, perdera todos os sentidos ou entrara em coma, assim como alguns têm ousado insinuar. Seu coração realmente cessou de bater, e ele, de fato, morreu. Sem dúvida, a importância desse acontecimento é imensa. Refletindo por um breve momento, devemos todos perceber que, sem uma verdadeira morte, não haveria um genuíno sacrifício e uma autêntica ressurreição; por conseguinte, sem uma verdadeira morte e ressurreição, todo o cristianismo seria uma casa edificada sobre areia, sem qualquer alicerce. Certamente, aquele imprudente soldado romano não tinha qualquer ideia de que se tornaria um poderoso auxílio para o verdadeiro cristianismo quando, com a lança, traspassou o lado de nosso Senhor.
A expressão "sangue e água", mencionada nessa passagem, tem um profundo significado espiritual. O próprio apóstolo João, em sua primeira epístola, parece referir-se a esses vocábulos como possuindo uma denotação bastante significativa: "Este é aquele que veio por meio de água e sangue, Jesus Cristo" (1Jo 5.6). Durante toda a sua existência, a igreja tem-se mostrado unânime em manter a ideia de que essas palavras são figuras de significado espiritual. Entretanto, o significado exato de "sangue e água" é um assunto sobre o qual os cristãos jamais concordaram e sobre o qual nunca chegarão a um acordo até à volta do Senhor. A teoria de que "sangue e água" significam as duas ordenanças, embora seja plausível e muito popular, pode ser corretamente considerada destituída de fundamento sólido. O batismo e a Ceia do Senhor eram ordenanças já instituídas quando Jesus morreu; por isso, não precisavam ser designadas novamente. Não precisamos encontrar em cada passagem bíblica com o número "dois" uma referência a essas benditas ordenanças (como se o texto tivesse um significado oculto) e insistir em que as pessoas acreditem nisso. Esse tipo de aplicação obstinada de passagens difíceis das Escrituras não favorece nem traz qualquer honra às ordenanças. Podemos questionar se essa aplicação não tende a vulgarizá-las, trazendo-lhes desprezo. O verdadeiro significado de "sangue e água" deve ser procurado na famosa profecia de Zacarias, que disse: "Naquele dia, haverá uma fonte aberta para a casa de Davi e para os habitantes de Jerusalém, para remover o pecado e a impureza" (Zc 13.1). Essa fonte não foi realmente aberta na hora em que Cristo morreu? O sangue e a água não eram reconhecidos pelos judeus como símbolos de expiação e purificação? Por que devemos hesitar em crer que "sangue e água", derramados do lado do Senhor Jesus, constituíram uma declaração significativa para o povo judeu de que a verdadeira fonte para a purificacão dos pecados iá estava aberta e que os pecadores poderiam vir ousadamente a Cristo, a fim de ser perdoados lavados e purificados?
Entretanto, essa interpretação merece, de nossa parte, uma meditação séria.
Qualquer que seja nossa opinião a respeito de "sangue e água", estejamos certos de que já fomos lavados "no sangue do Cordeiro" (Ap 7.14). Ter conceitos elevados a respeito das ordenanças não trará qualquer proveito para nós no último dia se nunca viemos a Cristo pela fé e se não tivemos um relacionamento pessoal com ele. A fé em Cristo é a única coisa necessária. "Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida" (1 Jo 5.12).
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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