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05/08/2024
Leia João 13.21-30
O assunto dessa passagem é bastante doloroso. Descreve o último diálogo entre Jesus e Judas
Iscariotes, o falso apóstolo. Contêm as últimas palavras de um para o outro, antes que ambos partissem
deste mundo. Parece que eles não se encontraram mais na terra, exceto no jardim do Getsêmani, quando nosso Senhor foi levado preso. Pouco tempo depois, tanto o Senhor como seu servo traiçoeiro estariam mortos. Jamais se encontrariam novamente na vida física, até que a trombeta soe, os mortos sejam ressuscitados, o tribunal de juízo seja estabelecido e os livros sejam abertos. Que terrível encontro será aquele!
Em primeiro lugar, devemos observar que grande aflição nosso Senhor enfrentou por amor a nossas almas. Somos informados de que, logo após lavar os pés dos discípulos, "angustiou-se Jesus em espírito e afirmou: Em verdade, em verdade vos digo que um dentre vós me trairá".
Toda a amplitude das aflições de nosso Mestre, durante seu ministério terreno, está muito além da compreensão da maioria das pessoas. Sua morte e seus sofrimentos na cruz foram apenas o clímax, a consumação de suas aflições. Durante toda a sua vida, em parte por causa da incredulidade geral dos judeus, por causa do ódio dos fariseus e saduceus e por causa da fraqueza e da imperfeição de seus próprios discípulos, ele foi um "homem de dores e que sabe o que é padecer" (Is 53.3). A angústia descrita nessa passagem foi excepcional, singular. Foi a profunda tristeza de ver um dos apóstolos escolhidos tornar-se voluntariamente um apóstata, um grande traidor. Sem dúvida, essa foi uma angústia que nosso Senhor havia previsto; entretanto, a angústia não se tornou menos dolorosa apenas porque já era conhecida de antemão. É evidente que essa foi uma angústia lancinante, pois nada é tão insuportável para nós quanto a ingratidão. Um poeta contemporâneo afirmou que "nada é mais doloroso do que ter um filho ingrato". A rebeldia de Absalão parece ter sido a maior das aflições de Davi; e a traição de Judas, a maior das aflições do Filho de Davi. Quando percebeu aproximar-se aquele acontecimento, "angustiou-se Jesus em espírito".
Através de passagens como essa, devemos perceber o admirável amor de Cristo pelos pecadores. Quantos cálices de angústia ele bebeu a fim de consumar a obra de salvação, além do imenso cálice de levar sobre si nossos pecados! Tais passagens nos mostram que temos poucos motivos para murmurar quando nossos amigos falham connosco e os homens nos desapontam. Se bebemos do cálice de nosso Senhor, não precisamos ficar surpresos. Acima de tudo, passagens como essa nos mostram a perfeita capacitação de Cristo como nosso Salvador. Ele simpatiza connosco. Ele mesmo sofreu e, por isso, pode entender os sentimentos daqueles que são maltratados e se veem abandonados.
Em segundo lugar, devemos observar nesses versículos o poder e a malignidade de nosso grande inimigo, Satanás. No início do capítulo, o apóstolo dissera que o diabo havia "posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que traisse a Jesus". Agora, João revela que Satanás "entrou" em Judas Iscariotes. Primeiro, Satanás sugere; depois, ele dá ordens à pessoa. Primeiro, ele bate à porta e solicita permissão para entrar; depois que está na casa, ele se apossa completamente e, à semelhança de um tirano, controla todo o íntimo do homem.
Tenhamos cuidado para não ser ignorantes em relação aos desígnios de Satanás (2Co 2.11). Ele ainda está passeando pela terra, procurando alguém para devorar. Ele está seguindo nossos passos, próximo à nossa cama, investigando todos os nossos atos. Nossa segurança está em resistir, logo no início, e não dar atenção à sua primeira investida, pois somos responsáveis por isso. Ainda que ele seja fortíssimo, não tem poder para causar mal aos crentes se clamarem àquele que é Todopoderoso e está nos céus, utilizando todos os meios que ele designou. Um dos permanentes princípios do cristianismo, um princípio do qual sempre podemos comprovar a veracidade, é este: "Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós" (Tg 4.7). Se uma pessoa começa a se intrometer com o diabo, não saberá até que ponto se aprofundará no pecado. Brincar com os primeiros pensamentos de pecado, reputar como insignificantes as ideias más que surgem em nossos corações, permitir que Satanás fale conosco, que nos engane e introduza falsos conceitos em nosso íntimo - muitas pessoas talvez considerem tudo isso uma tolice. É exatamente nesse ponto que se inicia o caminho para a ruína eterna. Aquele que permite a Satanás semear pensamentos injuriosos logo encontrará em seu coração uma seara de hábitos maus. Feliz é aquele que realmente acredita que o diabo existe; bem-aventurado é aquele que vigia e ora todos os dias para ser guardado das tentações de Satanás.
Por último, devemos observar nesses versículos a extrema dureza de coração que existe naqueles que professam ser discipulos de Cristo e apartam-se dele. Essa situação é tristemente ressaltada na vida de Judas Iscariotes. Poderíamos imaginar que, ao contemplar a angústia de nosso Senhor e a solene advertência "Um de vós me traira", a consciência daquele infeliz teria sido aguçada. Mas isso não aconteceu. Poderíamos pensar que as palavras de Jesus "O que pretendes fazer, faze-o depressa" impressionariam Judas Iscariotes e o envergonhariam quanto à sua intenção de trair o Senhor. No entanto, nada mudou seu propósito. Com a consciência morta, cauterizada, insensível, Judas se levantou e retirou-se para consumar sua obra maligna, abandonando o Senhor para sempre.
Um dos mais terríveis fatos de nosso caráter é a extensão em que podemos endurecer nossos corações, por resistirmos à luz e ao conhecimento espiritual. Podemos tornar-nos completamente insensíveis, tal como alguém cujos membros de seu corpo não reagem mais, embora tal pessoa ainda esteja viva. Podemos perder todos os sentimentos de vergonha, temor e remorso, possuindo corações tão endurecidos quanto o mármore, cegos e surdos a todos os avisos e apelos. Essa é uma enfermidade terrível, mas, infelizmente, muito comum entre os que se professam cristãos. Nenhuma outra pessoa se torna tão culpada desse mal quanto aquela que, recebendo bastante luz e privilégios espirituais, voluntariamente vira as costas para Cristo e retorna ao mundo. Provavelmente nada conseguirá inquietar esse tipo de pessoa; somente a voz do arcanjo e a trombeta de Deus.
Vigiemos com intenso zelo nossos corações e tenhamos cuidado para não ceder às primeiras tentações do pecado. Feliz é aquele que sempre teme e anda humildemente com seu Deus (Pv 28.14). Os crentes mais fortes são aqueles que constantemente percebem sua fraqueza e, com frequência, clamam: "Sustenta-me, e serei salvo, e sempre atentarei para os teus decretos" (S1 119.117).
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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