08/05/2024
Leia João 1:43-51
Nesses versículos, observamos quão variados são os modos pelos quais as almas são conduzidas ao estreito caminho da vida. Somos informados sobre um homem chamado Filipe, que foi acrescido ao pequeno grupo dos discípulos de Cristo. Ele não foi atraído pelo testemunho de João Batista, assim como André e seus companheiros, ou pela declaração sincera de um irmão, como Simão Pedro. Foi chamado pelo próprio Cristo; e, em sua chamada, não se recorreu a nenhum homem. No entanto, ele demonstrou o mesmo tipo de vida e fé que os outros, os quais eram discípulos antes dele. Embora tenham vindo por meios diferentes, todos tomaram o mesmo caminho, abraçaram as mesmas verdades, serviram ao mesmo Mestre; e, ao final, alcançaram o mesmo lar.
Esse fato é extremamente importante. Explica a história do povo de Deus, vindo de todas as línguas e de todas as épocas. Há diversas operações na salvação das almas. Todos os crentes verdadeiros são conduzidos por um só Espírito, lavados em um só sangue, servem a um só Senhor, descansam em um só Salvador, creem na Verdade e vivem por uma mesma regra. Mas nem todos são convertidos de uma única maneira. Nem todos passam pela mesma experiência. O Espírito Santo age como soberano na conversão; chama a cada um, individualmente, de acordo com a sua vontade.
Uma cuidadosa reflexão sobre o assunto nos poupará muitos problemas. Devemos ter cautela para não avaliarmos nossa própria experiência pela experiência de outros crentes. Precisamos também tomar cuidado ao negar que alguém possui a graça de Deus apenas porque foi conduzido a ela de um modo diferente do nosso. Tal pessoa recebeu a graça verdadeira, que vem de Deus? Essa é a questão que deve nos preocupar. É uma pessoa arrependida? É crente?
Tem uma vida santa? Se as respostas a essas indagações são satisfatórias, estejamos contentes. Não importa a experiência pela qual a pessoa tenha passado se, ao final, foi conduzida ao caminho certo.
Observemos, também, quanto Cristo está presente no Antigo Testamento.
Lemos que, quando Filipe descreveu Cristo a Natanael, disse-lhe: "Achamos aquele de quem Moisés escreveu na Lei, e a quem se referiram os Profetas". A pessoa de Cristo é a essência do Antigo Testamento. Para ele, apontam as promessas dos dias de Adão, Enoque, Noé, Abraão, Isaque e Jacó. Para ele também aponta cada sacrifício do culto cerimonial, entregue no monte Sinai. Cada sacerdote, cada parte do tabernáculo, cada juiz e cada libertador de Israel eram figuras da pessoa de Cristo. Ele era o profeta semelhante a Moisés, o qual Deus prometera enviar; era o rei da casa de Davi, que veio para ser Senhor de Davi, bem como seu filho. Era o filho da virgem e o cordeiro, preditos por Isaías; o ramo da justiça, mencionado por Jeremias; o verdadeiro pastor, antevisto por Ezequiel; o mensageiro da aliança, prometido por Malaquias; e o Messias que, de acordo com Daniel, haveria de ser morto, embora não em favor de si mesmo. Quanto mais lemos o Antigo Testamento, mais claro se torna o testemunho que ali encontramos acerca de Cristo. A iluminação da qual os inspirados escritores do passado gozavam não é mais do que uma luz fraca em comparação à luz do evangelho. Mas a Pessoa que, de longe, aguardavam e na qual fixavam os olhos era apenas uma. O Espírito que neles estava testificava de Cristo (1Pe 1.11). Será que tropeçamos nessas declarações? Achamos difícil ver Jesus nas páginas do Antigo Testamento porque não encontramos lá o seu nome? Devemos estar certos de que a falta é toda nossa. É a nossa visão espiritual que deve receber a culpa, e não as Escrituras. Os olhos do nosso entendimento precisam ser iluminados. O véu ainda tem de ser retirado. Devemos orar para termos um espírito mais humilde, como o de uma criança, pronto para aprender. Leiamos, novamente, o que Moisés e os profetas escreveram. Cristo está presente nesses escritos, embora talvez nossos olhos ainda não o tenham visto. Não devemos descansar até estarmos de acordo com a afirmação do Senhor Jesus a respeito das Escrituras: "São elas mesmas que testificam de mim" (Jo 5.39).
Notemos, por último, o bom conselho dado por Filipe a Natanael. Natanael estava cheio de dúvidas sobre o Salvador anunciado por Filipe. "De Nazaré pode sair alguma coisa boa?", perguntou Natanael. E qual foi a resposta de Filipe? "Vem, e vê."
Seria impossível pensar em um conselho mais sábio. Se Filipe tivesse reprovado a descrença de Natanael, provavelmente teria feito com que ele recuasse e se ofendesse. Se tivesse argumentado com ele, talvez tivesse falhado em convencê-lo ou confirmado suas dúvidas. Mas, ao convidá-lo a verificar por si mesmo, demonstrou inteira confiança na verdade que estava afirmando e sua disposição de colocá-la à prova. O resultado desse conselho mostra a sabedoria das palavras de Filipe. Foi por causa do convite franco"Vem, e vê" - que, bem cedo, Natanael conheceu Cristo.
Se nos consideramos crentes verdadeiros, jamais devemos temer falar com as pessoas sobre suas almas, assim como Filipe fez com Natanael. Sejamos ousados em convidá-las a provar o cristianismo que professamos. Com confiança, digamos que não podem saber o real valor do que cremos, até que experimentem por si mesmas. E procuremos assegurá-las de que o verdadeiro cristianismo tem resposta a qualquer inquirição. Nele, não há segredos, nem coisa alguma a ocultar. A fé e a prática da vida cristã são combatidas simplesmente por causa da ignorância que existe a respeito delas. Seus inimigos proferem palavras de maldade sobre coisas que desconhecem. Eles não compreendem o que dizem nem o que afirmam. A forma como Filipe agiu é como devemos promover o bem; podemos estar certos disso. Poucas pessoas são persuadidas por argumentações. Menos ainda são levadas ao arrependimento por sentirem medo. De modo geral, o crente que promove maior bem às almas é aquele que, com simplicidade, diz aos seus amigos: "Encontrei o Salvador; venham e vejam-no!".
Observemos, por último, a descrição feita por Jesus a respeito do caráter de Natanael. Ele o chama de "verdadeiro israelita, em quem não há dolo". Sem dúvida, Natanael era um verdadeiro filho de Deus; um filho que estava passando por tempos difíceis. Ele fazia parte de um rebanho bem pequeno. Quando o nosso Senhor iniciou seu ministério, Natanael vivia pela fé e esperava contritamente o Redentor prometido, assim como Simeão, Ana e outros judeus piedosos. Era possuidor de uma virtude que pode ser concedida somente pela graça: um coração honesto e sem dolo. É provável que seu conhecimento fosse pequeno, e a luz de sua visão espiritual, fraca. Mas ele era um homem que procurava viver de acordo com o que podia compreender. Usava com diligência o conhecimento que possuía. Seu propósito era firme, embora não tivesse uma visão tão ampla. Seu discernimento espiritual era sincero, embora não fosse muito profundo. O que ele pôde enxergar nas Escrituras, a isso se apegou firmemente, apesar dos fariseus, dos saduceus e de toda a religiosidade em voga naqueles dias. Natanael era um crente sincero, que seguia o padrão do Antigo Testamento e se conservava firme. E nisso está o segredo do elogio que Jesus fez. Ele declarou que ali estava um verdadeiro filho de Abraão, um judeu interiormente, circuncidado no espírito, como também segundo a letra da lei; um israelita de coração e um filho de Jacó por nascimento.
Oremos para que sejamos semelhantes a Natanael. É de um valor incalculável possuirmos um coração sincero, sem preconceito; termos a disposição de seguir a verdade, aonde quer que nos conduza; termos o desejo puro e ardente de ser ensinados e conduzidos pelo Espírito; e a plena determinação para pôr em prática cada conhecimento que temos. Um homem que tem um espírito assim poderá viver em meio a trevas profundas e estar rodeado por toda sorte de coisas que trazem prejuízo à alma; mas Jesus cuidará para que esse homem não erre o caminho para o céu. O Senhor "guia os humildes na justiça e ensina aos mansos o seu caminho" (Sl 25.9).
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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