25/03/2024
Leia Lucas 22.39-46
Nesses versículos, Lucas descreve a agonia de nosso Senhor no jardim. Convém sempre nos aproximarmos dessa passagem com reverência especial. A história aqui descrita é uma das "profundezas de Deus" (2Co 2.10). Enquanto a lemos, as palavras de Êxodo devem estampar-se em nossa mente: "Tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa" (Êx3.5).
Inicialmente, vemos aqui um exemplo do que os crentes devem fazer em tempos de aflição. O supremo Cabeça da Igreja nos fornece o padrão. Quando ele chegou ao monte das Oliveiras, na noite que antecedeu a crucificação, "se afastou [...] e, de joelhos, orava".
É notável que tanto o Antigo Testamento como o Novo Testamento ofereçam a mesma receita para alguém que se encontra em aflição. O que diz o Livro dos Salmos? "Invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei" (S1 50.15). O que afirma o apóstolo Tiago? "Está alguém entre vós sofrendo? Faça oração" (Tg 5.13). A oração foi o instrumento que Jacó utilizou quando estava receoso de seu irmão, Esaú. A oração foi a prescrição que Jó empregou quando as propriedades e os filhos lhe foram repentinamente tirados. A oração foi o recurso que Ezequias usou quando lhe chegou às mãos a carta ameaçadora da parte de Senaqueribe. A oração foi a receita que o Filho de Deus não se envergonhou de utilizar nos dias de sua carne. Na hora de sua misteriosa agonia, ele "orou". Tenhamos cuidado em nos servir do remédio de nosso Senhor, se desejamos receber consolo na aflição. Ainda que utilizemos outros meios de receber alívio, devemos orar. Deus tem de ser o primeiro Amigo ao qual recorremos. Ao Trono da Graça é que devemos enviar nossa primeira petição. Não podemos permitir que nenhuma depressão nos impeça. Nenhuma tristeza profunda deve tornar-nos mudos. Uma das principais armas de Satanás é fornecer ao coracão aflito falsos motivos para se manter em silêncio diante de Deus. Acautelemo-nos da tentacão de nos preocupar melancolicamente com nossas próprias aflições. Se não podemos falar qualquer outra coisa, então digamos: "Ó Senhor, ando oprimido, responde tu por mim" (Is 38.14).
Em segundo lugar, vemos nesses versículos que tipo de súplica o crente precisa fazer a Deus nos tempos de aflição. Novamente, o próprio Senhor Jesus oferece o modelo para seu povo. Ele disse: "Pai, se queres, passa de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, e sim a tua". Aquele que fez esse pronunciamento, não devemos esquecer, possuía duas naturezas distintas em uma só pessoa. Ele teve uma vontade humana e, ao mesmo tempo, uma vontade divina. Quando ele orou: "Não se faça a minha vontade", pretendia mostrar que era sua vontade humana, visto que possuía carne, ossos e um corpo semelhante ao nosso.
A linguagem de nosso bendito Senhor demonstra exatamente qual deve ser a essência da oracão de um crente nos momentos de angústia. Assim como Jesus, o crente deve revelar abertamente seus desejos e contar sem reservas seus anseios diante de seu Pai celestial. Porém, assim como Jesus, o crente deve fazer tudo manifestando completa submissão de sua vontade à de Deus, nunca esquecendo que existem motivos sábios e corretos para suas aflicões. Cada súplica do crente em favor da remoção do sofrimento precisa ser qualificada com a seguinte cláusula: "Se for a tua vontade". Ele deve terminar sua oração com a humilde confissão: "Não se faca a minha vontade e sim a tua"
A submissão da vontade é uma das mais brilhantes virtudes a adornar o caráter do crente É uma virtude que o filho de Deus deve almejar em todos os aspectos de sua vida, se deseja ser como Cristo. Todavia, em nenhuma outra circunstância essa virtude é tão necessária quanto no dia da tristeza; e ela não se mostra tão resplandecente quanto nas orações de um crente suplicando por alívio. Aquele que, de coração, pode dizer, quando tem um cálice amargo diante de si: "Não se faça a minha vontade, e sim a tua", atingiu um elevado grau na escola de Deus.
Em terceiro lugar, vemos, nesses versículos, um exemplo das excessivas culpa e pecaminosidade. Apreendemos esse fato ao considerar a agonia do Senhor Jesus, as gotas de sangue em seu suor e todas as misteriosas aflições que sofreu no corpo e na mente, descritas nessa passagem. A princípio, essa lição pode não ser clara para um leitor que não atenta às Escrituras, mas ela se encontra nesse relato.
Como podemos explicar a profunda agonia que nosso Senhor sentiu no jardim? Que motivo pode justificar o intenso sofrimento, físico e mental que, evidentemente, ele suportou? Existe apenas uma resposta satisfatória. Foi causado pelo fardo de pecado dos homens que lhe foi imputado, um fardo que, a partir daquele momento, começava a pesar sobre ele de maneira sobrenatural. Ele assumira o compromisso de ser feito "pecado por nós" (2Co 5.21), de se tornar "maldição" em nosso lugar (Gl 3.13) e de aceitar que nossas iniquidades fossem lançadas sobre si mesmo (Is 53.6). Foi o enorme peso de nossas iniquidades que o fez sofrer tal agonia. Foi o sentimento da culpa dos homens pressionando o eterno Filho de Deus que o levou a suar gotas de sangue e extrair dele "forte clamor e lágrimas" (Hb 5.7). A causa da agonia de Cristo foi o pecado do homem Com intenso zelo, precisamos acautelar-nos do conceito moderno de que a vida e a morte de nosso bendito Senhor não passaram de um grande exemplo de autossacrifício. É um conceito que traz confusão e lança trevas sobre todo o evangelho. Desonra o Senhor Jesus, retratando como uma pessoa menos resignada do que muitos dos mártires modernos, no dia de sua morte. Temos de nos apegar com toda firmeza à antiga doutrina de que Cristo estava "carregando [...] os nossos pecados", tanto no jardim como na cruz. Nenhuma outra doutrina pode explicar essa passagem do evangelho de Lucas ou satisfazer a consciência do homem culpado.
Queremos ver a pecaminosidade do pecado em suas verdadeiras cores? Desejamos aprender a odiar o pecado com um ódio santo? Pretendemos saber algo a respeito da intensa miséria das almas no inferno? Temos o desejo de entender algo do indizível amor de Cristo? Desejamos compreender a capacidade de Cristo em simpatizar com aqueles que passam por aflições? Então, tenhamos com frequência em nossos pensamentos a agonia no jardim. A profundeza da agonia de Jesus pode fornecer-nos alguma ideia de quanto somos devedores a ele.
Por último, vemos um exemplo da fragilidade dos melhores crentes. Quando nosso Senhor estava em agonia, seus discípulos estavam dormindo. Apesar da exortação para que orassem e da clara advertência contra a tentação, a carne venceu o espírito. Enquanto o Senhor Jesus suava gotas de sangue, seus apóstolos dormiam !Passagens como essa são bastante instrutivas. Devemos agradecer a Deus por terem sido escritas para nosso ensino. Têm o propósito de nos ensinar a humildade. Se os apóstolos comportaram-se dessa maneira, o crente que imagina estar de pé precisa ficar atento para não cair. Passagens como essa tencionam levar o crente a aceitar a morte e a ansiar por aquele glorioso corpo que receberá quando Cristo voltar. Somente então, seremos capazes de esperar em Deus, sem nos cansarmos fisicamente, e servi-lo dia e noite em seu templo.
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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