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20/07/2024
Leia João 12.1-11
Esse capítulo finaliza uma importante divisão no Evangelho de João. A mensagem pública de nosso Senhor aos judeus incrédulos, em Jerusalém, chega ao fim. Após esse capítulo, o apóstolo relata apenas o que foi dito em particular aos discípulos.
Vemos, em primeiro lugar, nessa passagem, que houve provas abundantes da veracidade dos grandes milagres de Cristo. Lemos a respeito de um jantar em Betânia no qual Lázaro era "um dos que estavam com ele à mesa" - Lázaro fora publicamente ressuscitado dentre os mortos, após quatro dias no sepulcro. Ninguém ousaria dizer que a ressurreição de Lázaro fora uma ilusão ótica e que os olhos dos que a contemplaram haviam sido enganados por um fantasma ou uma visão. Ali estava aquele mesmo Lázaro, após várias semanas, sentado entre seus amigos, em um corpo físico genuíno, comendo e bebendo alimentos verdadeiros. É difícil entender que evidência maior desse fato poderia ser apresentada. Aquele que não for convencido por tal evidência pode afirmar que está decidido a não crer em nada.
Um pensamento confortante é saber que as provas da ressurreicão de Lázaro são as mesmas que comprovam aquele fato ainda mais notável: a ressurreição de Cristo. Lázaro foi visto durante várias semanas pelos habitantes de Betânia, entrando e saindo entre eles? Assim também o foi o Senhor Jesus por seus discípulos. Lázaro comeu alimento físico diante dos olhos de seus amigos? O Senhor Jesus também comeu e bebeu antes de sua ascensão. Ninguém, em seu bom senso, que viu Jesus tomar o peixe assado e o mel e comê-los diante de várias testemunhas duvidaria de que ele tinha um corpo físico (Lc 24.42).
Faremos bem em recordar essa verdade. Em uma época de abundante incredulidade e ceticismo, descobriremos que a ressurreição de Cristo suportará qualquer fardo que lançarmos sobre ela. Assim como Jesus removeu toda incerteza quanto à ressurreição de um discípulo amado nos arredores de Jerusalém, em poucas semanas ele fez o mesmo em relação à sua própria vitória sobre a morte. Se cremos que Lázaro ressurgiu dos mortos, podemos estar certos de que isso também aconteceu a Jesus. Se cremos que ele ressuscitou, não precisamos ter dúvida de que ele é o Messias ou questionar sua aceitação como Mediador e a certeza de nossa própria ressurreição. Cristo realmente ressurgiu dos mortos; os crentes devem regozijar-se, e os ímpios, tremer.
Ainda nessa passagem, vemos a falta de bondade e o desânimo que os amigos de Cristo às vezes recebem dos homens incrédulos. Durante o jantar em Betânia, Maria, a irmã de Lázaro, ungiu com precioso bálsamo os pés de Jesus e os enxugou com
seus cabelos. Essa unção não foi realizada com mesquinhez. Ela o fez com tanta liberalidade e abundância que "encheu-se toda a casa com o perfume do bálsamo". Maria ungiu os pés de Jesus sob a influência de um coração repleto de amor e gratidão. Ela imaginou que nada seria demasiadamente grande e bom para dar ao Salvador. Assentar-se aos pés dele e ouvir-lhe os ensinos, em dias anteriores, levara-a a encontrar paz para sua consciência e perdão para seus pecados. Naquele momento, ela estava contemplando Lázaro vivo e saudável, ao lado de seu Senhor - seu próprio irmão Lázaro, que Jesus ressuscitara e trouxera de volta ao convívio delas. Por ser tão amada, Maria concluiu que não seria capaz de retribuir tanto amor. De graça, recebeu, por isso de graça ela ofereceu o bálsamo ao Senhor.
Mas houve algumas pessoas ali que acharam falta na atitude de Maria e culparam-na de desperdício e extravagância. Em especial um dos apóstolos, de quem deveríamos esperar coisas melhores, declarou que aquele bálsamo teria sido empregado com melhor proveito se o houvessem vendido e o dinheiro, dado "aos pobres". O coração que concebeu tais pensamentos devia ter opiniões superficiais sobre a dignidade de Cristo e pontos de vista insignificantes a respeito de nossos deveres. Coração insensível e mãos avarentas sempre andam juntos.
Há muitos cristãos professos que têm espírito semelhante em nossos dias. Milhares de pessoas batizadas não conseguem entender qualquer tipo de zelo em favor da honra do Senhor Jesus Cristo. Aconselhe-os a gastar seu dinheiro no desenvolvimento de um comércio e a investir no progresso da ciência, e eles aprovarão esse conselho, reputando-o correto e sábio. Conte-lhes sobre qualquer despesa realizada na pregação do evangelho, em nosso país ou no exterior, a fim de propagar a Palavra de Deus e o conhecimento de Cristo na terra, e eles dirão francamente que consideram isso um desperdício. Eles jamais darão um centavo sequer para tais empreendimentos e reputarão como tolos aqueles que o fazem. E o pior de tudo: com frequência, tais pessoas encobrem sua própria recusa em ajudar objetivos verdadeiramente cristãos por meio de uma pretensa preocupação com os pobres. Por isso, consideram conveniente esquecer este fato notável: os que fazem mais pela causa de Cristo são os mesmos que fazem mais em favor dos pobres.
Jamais permitamos que pessoas com caráter assim nos afastem da perseverança na prática do bem. Se um homem não possui qualquer sentimento de dívida para com Cristo, em vão esperamos que esse homem faça muito por ele. Precisamos ter compaixão da cegueira de nossos críticos impiedosos e continuar trabalhando. Aquele que pleiteou a causa de Maria, dizendo: "Deixai-a", está assentado à direita de Deus e possui um livro de recordações. Virá o dia em que o mundo, espantado, verá que cada copo de água oferecido em nome de Cristo, a exemplo daquele precioso unguento, foi registrado no céu e terá suas recompensas. Naquele grande dia, os que pensavam que alguém pode dar coisas em excesso a Cristo reconhecerão que seria melhor não haver nascido.
Por último, nessa passagem vemos as profundas dureza e incredulidade que existem no coração do ser humano. A incredulidade se manifestou nos principais sacerdotes, que "resolveram matar também Lázaro". Eles não podiam negar que Lázaro havia sido ressuscitado. Vivendo, andando, comendo e bebendo ali perto de Jerusalém, após ter passado quatro dias no sepulcro, Lázaro era uma testemunha da verdade de que Cristo é o Messias. E os principais sacerdotes não poderiam argumentar contra esse fato ou silenciá-lo. Esses homens orgulhosos não desistiriam: pelo contrário, em vez de depor as armas de rebeldia e confessar seu erro, eles cometeriam um assassinato. Não fiquemos surpresos com o fato de que o Senhor Jesus, em certa ocasião, "admirou-se da incredulidade deles". Poderíamos dizer, utilizando uma história conhecida: "Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tão pouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos" (Lc16.31). A dureza de coração manifestou-se em Judas Iscariotes, que, depois de ser um apóstolo escolhido e um pregador do reino dos céus, por fim tornou-se ladrão e traidor. Enquanto houver esse relato, aquele infeliz será uma prova constante da profundidade da corrupção humana. Uma pessoa, na qualidade de discípulo, seguiu Cristo durante três anos, viu todos os milagres realizados por ele, ouviu todos os seus ensinos, recebeu constante bondade de suas mãos, foi contado entre os apóstolos e, no final, provou que seu coração estava corrompido - tudo isso parece inacreditável e impossível à primeira vista! Todavia, Judas Iscariotes revelou claramente que isso pode acontecer. É provável que existam poucas coisas tão mal compreendidas quanto a extensão da queda do homem.
Sejamos gratos a Deus se já conhecemos a fé verdadeira e podemos dizer, apesar de todo o nosso senso de fraqueza e imperfeição: "Eu creio". Oremos para que nossa fé seja genuína, verdadeira e sincera, e não apenas uma impressão temporária, tal como uma nuvem matutina e o orvalho da manhã. Vigiemos e oremos contra o amor ao mundo. Esse amor arruinou aquele que desfrutou todos os privilégios e ouviu o próprio Cristo ensinando a cada dia. Então, "aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia" (1Co 10.12).
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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