07/04/2024
Leia Lucas 24.44-49
Inicialmente, devemos observar nesses versículos o dom que nosso Senhor outorgou aos seus discípulos pouco antes de deixar o mundo. Ele "lhes abriu o entendimento para compreenderem as escrituras."
Não precisamos supor que, até aquela altura, os discípulos nada soubessem a respeito do Antigo Testamento ou que a Bíblia é um livro incapaz de ser compreendido por uma pessoa comum. Temos simplesmente de entender que Jesus mostrou aos seus discípulos todo o significado de muitas passagens que, até aquele momento, estava oculto a eles. Acima de tudo, Jesus lhes mostrou o significado verdadeiro de várias passagens proféticas que se referiam ao
Messias.
Todos nós precisamos de semelhante iluminação em nosso entendimento. "O homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente" (1Co 2.14). O orgulho, o preconceito e o amor ao mundo cegam nossos intelectos e colocam um véu sobre os olhos de nosso entendimento ao lermos as Escrituras. Vemos as palavras, mas não as entendemos por completo, até que do alto sejamos ensinados.
Aquele que deseja ler a Bíblia com proveito tem de, em primeiro lugar, suplicar ao Senhor Jesus que os olhos de seu entendimento sejam abertos pelo Espírito Santo. Os comentários humanos são úteis na devida ocasião. A ajuda de homens bons e entendidos não deve ser rejeitada. Mas não existe qualquer comentário que possa ser comparado ao ensino de Cristo. Um espírito de humildade e oração encontrará milhares de coisas na Bíblia, coisas que o leitor soberbo e presunçoso falhará completamente em discernir.
Em seguida, devemos observar nesses versículos a maneira notável como nosso Senhor falou sobre a sua morte na cruz. Ele não se referiu à sua morte como um infortúnio ou como algo digno de lamentação, mas como um acontecimento necessário. Ele disse: "Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia".
A morte de Cristo era necessária à nossa salvação. Seu corpo e seu sangue oferecidos em sacrifício na cruz eram a "vida do mundo" (Jo 6.51). Sem a morte de Cristo, conforme entendemos, a lei de Deus não poderia ter sido satisfeita, o pecado jamais poderia ter sido perdoado, jamais os homens poderiam ser justificados diante de Deus, o qual jamais poderia ter demonstrado misericórdia ao homem. A cruz de Cristo foi a solução de um grande problema. Desatou um nó imenso. Capacitou Deus a ser "justo e o justificador" do ímpio (Rm 3.26). Capacitou o homem a se aproximar de Deus com ousadia e a sentir que, embora seja pecador, ele pode ter esperança. Cristo, ao sofrer como nosso Substituto, o justo no lugar dos injustos, preparou o caminho pelo qual podemos nos achegar a Deus. Podemos reconhecer sinceramente que, em nós mesmos, somos culpados e merecemos o inferno. Mas, confiantemente, podemos recorrer àquele que morreu por nós e, para sua glória, crendo nele, reivindicar a vida e a absolvição.
Gloriemo-nos sempre na cruz de Cristo, considerando-a a fonte de todas as nossas esperanças e o fundamento de toda a nossa paz. A ignorância e a incredulidade não veem coisa alguma nos sofrimentos do Calvário, exceto o martírio cruel de um inocente. A fé olhará mais profundamente; verá na morte de Jesus o pagamento da enorme dívida do homem a Deus e a completa salvação de todos os que creem.
Também devemos observar nessa passagem quais foram as primeiras verdades que nosso Senhor ordenou que seus discípulos pregassem depois de ele deixar o mundo. "Arrependimento" e "remissão de pecados" deveriam ser pregados em seu nome a todas as nações.
"Arrependimento" e "remissão de pecados" são as primeiras coisas que têm de ser apresentadas com insistência à mente de cada pessoa: homem, mulher e criança, em todo o mundo. Todas as pessoas precisam ser informadas sobre a necessidade de arrependimento. Todos os homens são ímpios por natureza. Sem arrependimento e conversão, ninguém pode entrar no reino de Deus. Todos precisam ouvir sobre a disposição divina de perdoar aqueles que crerem em Cristo. Todos, por natureza, são culpados e estão condenados. Mas qualquer pessoa pode obter, pela fé em Jesus, o perdão gratuito, completo e imediato. Todos precisam ser constantemente lembrados de que o arrependimento e a remissão de pecados estão unidos de maneira inseparável. Isso não significa que o arrependimento possa comprar nosso perdão. O perdão é um dom gratuito de Deus para o crente em Cristo. Mas continua sendo verdade o fato de que todo homem que ainda não se arrependeu é um homem que ainda não foi perdoado.
Aquele que deseja ser um verdadeiro cristão precisa estar, por experiência pessoal, familiarizado com o arrependimento e a remissão dos pecados. Essas são as coisas essenciais no cristianismo que salva. Pertencer a uma igreja que possui sã doutrina, ouvir o evangelho e participar das ordenanças são grandes privilégios. Mas nós somos convertidos? Somos justificados? Caso contrário, estamos mortos diante de Deus. Feliz é o crente que preserva esses dois assuntos constantemente em seus pensamentos. O arrependimento e a remissão não são apenas verdades elementares ou leite para os bebês em Cristo. Um dos fatores para um elevado padrão de santidade consiste em contínuo crescimento no conhecimento prático do arrependimento e da remissão dos pecados. O crente que mais brilha é aquele que possui o mais perscrutador senso de sua própria pecaminosidade e a mais viva consciência de sua completa aceitação em Cristo.
Devemos observar ainda nessa passagem qual era o primeiro lugar no qual os discípulos deveriam começar sua pregação. Deveriam começar em "Jerusalém". Esse é um fato admirável, repleto de instrução. Ele nos ensina que ninguém deve ser considerado tão excessivamente ímpio que não possamos oferecer-lhe a salvação; também nos ensina que nenhum grau de enfermidade espiritual está além do alcance do remédio do evangelho. Jerusalém era a cidade mais ímpia da face da terra quando nosso Senhor deixou o mundo. Foi a cidade que apedrejou os profetas e matou aqueles que Deus enviou para chamá-la ao arrependimento. Era uma cidade cheia de orgulho, incredulidade, justiça própria e excessiva dureza de coração. Foi a cidade que, recentemente, havia coroado todas as suas transgressões por meio da crucificação do Senhor da glória. Apesar disso, Jerusalém era o lugar no qual deveria ser realizada a primeira proclamação de arrependimento e de remissão dos pecados. A ordem de Cristo foi clara: "Começando de Jerusalém".
Nas admiráveis palavras de Cristo, vemos a largura, a altura, a amplitude e a profundeza de sua compaixão para com os pecadores. Não devemos ficar desesperados quanto à salvação de qualquer pessoa, mesmo que ela tenha sido intensamente perversa e devassa. Devemos abrir a porta do arrependimento ao maior dos pecadores. Não devemos ter receio de convidar o pior dos homens a se arrepender, crer e viver. A glória de nosso grande Médico consiste em ser capaz de sarar casos incuráveis. As coisas que parecem impossíveis aos homens são possíveis para Cristo.
Por último, devemos observar nessa passagem a posição especial que os crentes e, em particular, os ministros do evangelho ocupam neste mundo. Nosso Senhor a definiu utilizando uma sentença expressiva. Ele disse: "Vós sois testemunhas".
Se somos verdadeiros discípulos de Cristo, temos de prestar testemunho constante em meio a um mundo perverso. Precisamos testificar a verdade do evangelho de nosso Senhor, a graciosidade do coração de nosso Senhor, a felicidade do servir a Cristo, a excelência das regras de conduta estabelecidas por nosso Senhor e o enorme perigo e a impiedade dos caminhos do mundo. Esse testemunho com certeza trará sobre nós o desagrado das pessoas. O mundo nos odiará, assim como odiou nosso Senhor, porque testemunhamos "que as suas obras são más" (Jo 7.7). Poucos crerão nesse tipo de testemunho, enquanto muitos o reputarão como ofensivo e extremista. Entretanto, o dever de uma testemunha é prestar testemunho, quer seja acreditada, quer não. Se testemunhamos com fidelidade, cumprimos nosso dever, ainda que, assim como Noé, Elias e Jeremias, permaneçamos praticamente sozinhos.
Que tipo de testemunho estamos prestando? Que evidência estamos demonstrando de que somos discípulos de um Salvador crucificado e que, assim como ele, não somos "do mundo"? (Jo 17.14.) Quais marcas estamos mostrando de pertencer àquele que disse: "Para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade" (Jo 18.37)? Feliz é aquele que pode responder satisfatoriamente a essas perguntas e cuja vida manifesta claramente que está "procurando uma pátria" (Hb 11.14).
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
Comments