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20/11/2024
Leia João 18.12-27
Nessa parte da narrativa dos sofrimentos de Cristo, três coisas maravilhosas se destacam. Vamos considerá-las.
Em primeiro lugar, devemos observar a admirável dureza de coração das pessoas incrédulas. Nós a percebemos na atitude dos homens que prenderam nosso Senhor. Alguns deles eram soldados romanos, mas outros eram judeus que serviam aos sacerdotes e fariseus. Em um aspecto, eles eram semelhantes: todos contemplaram uma demonstração do divino poder de nosso Senhor quando "recuaram e caíram por terra". De acordo com o evangelho de Lucas, todos viram um milagre quando Jesus tocou a orelha de Malco e o curou. Apesar disso, todos continuaram na mesma situação: frios, indiferentes e insensíveis, como se não tivessem visto qualquer coisa fora do comum. Continuaram com frieza em sua odiosa realização: "A escolta, o comandante e os guardas dos judeus prenderam Jesus, e o amarraram (...)".
É terrível e estarrecedor o grau de insensibilidade e dureza de consciência que os homens podem atingir quando vivem muitos anos sem o menor contato com as verdades espirituais. Deus e as coisas espirituais parecem fugir e desaparecer do entendimento desses homens. Toda a atenção deles parece concentrar-se no mundo e em suas coisas. Nesses casos, podemos estar certos de que milagres não produzirão qualquer resultado, assim como no caso dos homens que prenderam Jesus. Sem qualquer impressão em seus corações, os olhos dessas pessoas contemplarão tais milagres da mesma forma que um animal selvagem contempla uma paisagem romântica. Se alguém imagina que um milagre o tornará um verdadeiro cristão, essa pessoa tem muito a aprender.
Não fiquemos admirados se, em nossa própria geração, encontrarmos pessoas que manifestam dureza de coração e incredulidade. Elas sempre existirão entre aqueles que, por causa de sua posição e daquilo que professam ser, estão completamente destituídos dos meios da graça. Vinte ou trinta anos sem a influência do culto dominical, da Bíblia e de seus ensinos farão com que o coração de um homem se torne tão duro quanto a pedra inferior de um moinho.
Em segundo lugar, devemos observar nesses versículos a admirável condescendência de nosso Senhor Jesus Cristo. Vemos o Senhor Jesus sendo preso, levado como um malfeitor, conduzido à presença de juízes ímpios e injustos, insultado e tratado com desprezo. Mas, se esse prisioneiro tivesse desejado, imediatamente seria liberto. Precisaria apenas ordenar, e seus inimigos logo ficariam confusos. Além disso, ele sabia que um dia Anás e Caifás e todos os seus companheiros estarão diante de seu trono de juízo e receberão a eterna condenação. Ele sabia de tudo isso, mas aceitou ser tratado como um malfeitor, sem resistir. Um fato é bastante claro nesse acontecimento. O amor de Cristo pelos pecadores "excede todo entendimento" (Ef 3.19). Sofrer por aqueles que amamos e, em algum aspecto, são dignos de nossas afeições é um tipo de sofrimento que podemos entender. Nossa submissão passiva aos maus-tratos, quando não temos poder para resistir-lhes, é uma atitude sábia e graciosa. No entanto, sofrer voluntariamente, quando temos o poder de impedir isso, em favor de homens incrédulos e ímpios, que não pediram tal coisa e não demonstram gratidão - essa é uma atitude que ultrapassa o entendimento humano.
Ao lermos acerca da maravilhosa história da paixão e morte de Cristo, jamais esqueçamos que isto constitui a glória de seus sofrimentos: ele foi levado preso e apresentado diante do tribunal de julgamento do sumo sacerdote não porque fosse incapaz de impedir isso, mas porque todo o seu coração estava determinado a salvar os pecadores, levando seus pecados e sendo ele mesmo tratado como um pecador e punido no lugar deles. Ele se tornou um prisioneiro voluntário para que nós fôssemos libertados. Foi voluntariamente preso e condenado, para que fôssemos absolvidos e declarados inocentes. "Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus" (1 e 3.18). "Pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tomásseis ricos" (2Co 8.9); "Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus" (2Co 5.21). Com certeza, a substituição voluntária de Cristo é uma doutrina que precisa ser conhecida com bastante clareza. Ele sofreu e morreu voluntariamente, sem resistir, porque sabia que viera para ser nosso Substituto e, por meio da substituição, adquirir nossa salvação.
Por último, devemos observar nesses versículos o admirável grau de fraqueza que pode ser encontrado em um verdadeiro cristão. Isso se encontra ilustrado de maneira notável na conduta do apóstolo Pedro. Vemos esse famoso discípulo abandonando seu Senhor e agindo como um covarde; fugindo, quando deveria permanecer ao lado dele; envergonhando-se de pertencer a ele, quando deveria tê-lo confessado; e, por fim, negando três vezes que o conhecia. E isso aconteceu logo depois de Pedro ter participado da Ceia do Senhor, ocasião em que ouviu o mais comovente sermão e a mais profunda oração que algum mortal já ouviu, tendo sido claramente avisado disso e não se encontrando sob pressão de qualquer tentação muitíssimo grave. "Senhor", com certeza poderíamos indagar, "que é o homem, que dele te lembres?" (S1 8.4). "Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia" (1Co 10.12).
Sem dúvida, essa queda de Pedro constitui uma lição para toda a Igreja de Cristo. Foi narrada para o nosso ensino, a fim de que sejamos guardados de tropeços infelizes, semelhantes a este. É um alerta colocado nas Escrituras para que outros não cometam o mesmo erro; mostra-nos o perigo do orgulho e da autoconfiança. Se Pedro não houvesse demonstrado tanta segurança de que, embora outros viessem a negar Jesus, ele não o faria, provavelmente jamais teria caído. Esse acontecimento nos revela o perigo da indolência. Se Pedro tivesse orado e vigiado quando nosso Senhor o ordenou, teria achado graça e socorro em ocasião oportuna. Esse acontecimento nos mostra, pelo menos, a dolorosa influência do temor dos homens. Talvez poucos estejam cientes de que temem mais aos homens, que eles veem, do que a Deus, a quem não podem ver. Essas coisas foram escritas para nossa advertência. Recordemo-nos de Pedro e sejamos sábios. Acima de tudo, devemos concluir nossas considerações sobre essa passagem com o revigorante pensamento de que temos um misericordioso e compassivo Sumo Sacerdote, que se comove com nossas fraquezas e "não esmagará a cana quebrada".
Sem dúvida, Pedro sentiu-se envergonhado e levantou-se somente depois de se ter arrependido com todo o coração e derramado muitas lágrimas. Mas ele se levantou; não teve de colher as consequências de seu pecado e ser rejeitado para sempre. A mão compassiva que o salvou de afundar nas águas do mar foi mais uma vez estendida para erguê-lo quando caiu no pátio da casa do sumo sacerdote. Podemos duvidar de que Pedro levantou como um homem melhor e mais sábio? Se a queda de Pedro faz com que os crentes vejam com maior clareza sua própria imperfeição e a grande compaixão de Cristo, essa queda não foi narrada em vão.
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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