03/05/2024
Leia João 1.14
O versículo das Escrituras que agora consideramos é bastante curto, se medido pela quantidade de palavras. Mas, se o avaliarmos pela natureza de seu conteúdo, veremos que é bem extenso.
Seu conteúdo tem tamanha importância que faremos bem em considerá-lo separadamente. Esse único versículo contém assunto mais do que suficiente para uma exposição completa.
A principal verdade ensinada nesse versículo é a realidade da encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo, ou seja, o fato de se ter tornado homem. O apóstolo João diz que "o Verbo se fez carne e habitou entre nós". O sentido claro dessas palavras é que nosso divino Salvador tomou realmente sobre si a natureza humana, a fim de salvar os pecadores. Ele, de fato, tornou-se homem como nós, em relação a todas as coisas, menos quanto ao pecado. Assim como nós, nasceu de uma mulher, embora de maneira miraculosa. Como nós, passou da infância à adolescência e, dessa, à maturidade, tanto em estatura como em sabedoria (Lc 2.52). Como nós, também se alimentou, bebeu, dormiu, cansou-se, chorou, regozijou-se, maravilhou-se, sentiu fome, sede, dor, foi movido pela ira e pela compaixão. Por se tornar carne e possuir um corpo, pôde orar, ler as Escrituras, sofrer ao ser tentado e submeter sua vontade humana à vontade de Deus, o Pai. E, finalmente, nesse mesmo corpo, ele veio a sofrer intensamente e derramar seu sangue; realmente foi morto, sepultado, ressuscitou e ascendeu ao céu. Contudo, em todos os instantes, ele era Deus e, ao mesmo tempo, homem! A união de duas naturezas na pessoa de Cristo é um dos grandes mistérios do cristianismo. É um assunto que deve ser falado com todo o cuidado. Assim como outras, essa é uma grande verdade que deve ser crida reverentemente, e não ser alvo de especulações inúteis. Talvez em nenhum outro lugar encontremos uma declaração mais sábia e criteriosa do que a encontrada no segundo artigo da Igreja Anglicana: "O Filho, que é o verbo do Pai e dele gerado desde a eternidade, o próprio Deus eterno, sendo um com o Pai, assumiu a natureza humana no ventre da bendita virgem; de modo que duas naturezas perfeitas e completas - a divina e a humana - uniram-se indivisivelmente em uma pessoa: Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem". Essa declaração é de grande valor; é uma "linguagem sadia e irrepreensível" (Tt 2.8).
Não temos a pretensão de explicar a união das duas naturezas de nosso
Senhor Jesus Cristo, mas nem por isso deixamos de delinear alguns cuidados específicos sobre o assunto. Se, por um lado, expomos com precisão aquilo em que cremos, por outro lado, não podemos deixar de declarar com ousadia aquilo em que não cremos. Não devemos esquecer que, embora nosso Senhor fosse, ao mesmo tempo, Deus e homem, a natureza divina e a humana nunca se confundiam. Uma natureza não sufocava a outra; as duas permaneciam perfeitas e distintas entre si. Nem por um só momento a divindade de Cristo foi posta de lado, embora às vezes ficasse encoberta. A natureza humana de Cristo, durante toda a sua vida, nem por um momento foi diferente da nossa, ainda que fosse grandemente honrada por causa da união com a natureza divina.
Embora seja perfeitamente Deus, Cristo é perfeitamente homem, desde o primeiro momento de sua encarnação. Aquele que subiu ao céu e está assentado à direita de Deus, a fim de interceder pelos pecadores, é homem e, ao mesmo tempo, Deus. Apesar de ser perfeitamente homem, ele nunca deixou de ser perfeitamente Deus. Aquele que sofreu na cruz pelo pecado, e se fez pecado por nós, era o Deus "manifestado na carne" (1Tm 3.16). O sangue com o qual a Igreja foi comprada é chamado o sangue "de Deus" (At 20.28). Embora ele se tenha tornado "carne" em um sentido mais amplo, quando nasceu da virgem Maria, em nenhum momento deixou de ser o Verbo eterno. Obviamente, seria contrário aos fatos dizer que, durante seu ministério terreno, Cristo manifestava constantemente sua natureza divina. Tentar explicar o porquê de sua divindade algumas vezes estar encoberta e outras vezes, não, enquanto ele viveu aqui, seria aventurar-nos em um terreno que não nos convém. No entanto, afirmar que, em qualquer instante de sua vida, ele deixou de ser plena e completamente Deus seria nada menos que dizer uma heresia.
As admoestações dadas até aqui podem parecer, à primeira vista, desnecessárias, enfadonhas e excessivamente minuciosas. Mas é precisamente por negligenciar essas advertências que muitas almas têm sido levadas à ruína. A união indivisível e constante das duas naturezas da pessoa de Cristo é exatamente o que atribui infinito valor à sua mediação e o qualifica para ser o Mediador que os pecadores carecem ter. Nosso Mediador é alguém que pode identificar-se conosco porque é perfeitamente homem. E, ao mesmo tempo, pode interceder por nós, junto ao Pai, em um relacionamento de igualdade, porque é perfeitamente Deus. Essa é a mesma união que atribui infinito valor à justiça de Cristo, quando imputada aos que creem; a justiça daquele que é Deus e, ao mesmo tempo, homem. É a mesma união que valoriza infinitamente o sangue da expiação, derramado na cruz pelos pecadores; o sangue daquele que é Deus e, ao mesmo tempo, homem. É a mesma união que valoriza imensamente sua ressurreição. Ao ressuscitar, sendo ele o cabeça do corpo dos que creem, ressuscitou não como um simples homem, mas como o próprio Deus. Procuremos guardar essas coisas de modo indelével em nossos corações. O segundo Adão é muito mais grandioso que o primeiro. O primeiro Adão era meramente homem e caiu. O segundo era, ao mesmo tempo, Deus e homem; por isso, foi completamente vitorioso. Ao concluir, recebamos essas verdades com um sentimento de profunda gratidão, pois nelas existe abundância de consolação para todos os que vêm a conhecer Cristo pela fé.
O Verbo realmente se fez carne? Então, ele é alguém sensível às aflições de seu povo, pois ele mesmo experimentou o sofrimento ao ser tentado. Ele é Todo-poderoso, pois é Deus; assim mesmo, identifica-se conosco, pois é homem.
O Verbo realmente se fez carne? Então, ele pode ser um exemplo perfeito para nossa vida diária. Se tivesse andado entre nós como anjo ou espírito, jamais poderíamos imitá-lo. Mas, por ter vivido entre nós como homem, sabemos que o verdadeiro padrão de santidade é "andar assim como ele andou" (1Jo 2.6). Ele é um modelo perfeito, porque é Deus; mas também é um modelo que corresponde perfeitamente às nossas necessidades, porque é homem.
Por último, o Verbo realmente se fez carne? Então, procuremos ver em nosso corpo mortal uma dignidade real e verdadeira, e não o corrompamos pelo pecado. Fraco e vil como pode parecer, é um corpo que o eterno Filho de Deus não se envergonhou de assumir e levar para o céu. Esse simples fato é uma garantia de que ele ressuscitará nossos corpos no dia final e os glorificará junto com seu próprio corpo.
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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