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19/10/2024
Leia João 17.9-16
Esses versículos, assim como as outras partes desse maravilhoso capítulo, contêm
verdades profundas, "difíceis de entender". Mas existem dois assuntos claros que se sobressaem na passagem e merecem atenção especial da parte de todos os verdadeiros crentes. Observemos com cuidado os dois assuntos, deixando de lado todos os demais.
Em primeiro lugar, aprendemos que o Senhor Jesus faz por seus discípulos algo que não faz em favor dos incrédulos e ímpios. Ele dá assistência às almas dos crentes com uma intercessão especial: " É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste".
Essa doutrina é particularmente odiada pelo mundo. Nada causa tanta ofensa e desperta tantos sentimentos de rancor aos incrédulos quanto a ideia de que Deus faz diferença entre os homens e ama algumas pessoas mais do que a outras. Contudo, os argumentos do mundo contra esse ensino são inconsistentes e desprovidos de lógica. Com certeza, um pouco de reflexão demonstra que um Deus que utiliza igual complacência e favor para lidar com o bem e o mal, a santidade e a impiedade, a justiça e a injustiça seria um Deus muitíssimo estranho! A intercessão de Cristo em favor de seu povo se harmoniza com o bom senso e a lógica.
Naturalmente, assim como outras verdades do evangelho, essa doutrina requer esclarecimento especial e salvaguarda das Escrituras. Por um lado, não podemos minimizar o amor de Cristo para com os pecadores; por outro, não podemos torná-lo muito amplo. É verdade que ele ama todos os pecadores e os convida à salvação; entretanto, também é verdade que ele ama de maneira especial todos os crentes, os quais ele santificou e glorificou. É verdade que Cristo realizou redenção suficiente para todos os homens e a oferece gratuitamente a todos, mas também é verdade que essa redenção é eficaz somente para aqueles que creem. Assim como é verdade que Jesus é o Mediador entre Deus e os homens, também é verdade que ele intercede ativamente somente por aqueles que, por intermédio dele, se achegam a Deus. Por essa razão, está escrito: "É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo".
Essa intercessão especial do Senhor Jesus é um dos grandes segredos da segurança do crente, que diariamente desfruta os constantes interesse, provisão e cuidado daquele que não cochila e não dorme. Jesus "pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles" (Hb 7.25). Os crentes jamais perecem, pois o Senhor Jesus nunca deixa de orar por eles, e as orações de Jesus sempre prevalecem. Os crentes permanecem firmes e perseveram até o fim não por causa de suas próprias forças e bondade, mas porque Jesus intercede por eles. Quando Judas caiu, sem jamais levantar-se; quando Pedro caiu, mas arrependeu-se e foi restaurado, a razão para essa diferença estava nas palavras de Cristo ditas a este: "Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça" (Lc 22.32).
O verdadeiro servo de Cristo pode descansar sua alma nessa verdade e fortalecer-se nela. Esse é um dos peculiares tesouros e privilégios do crente, e precisa ser bem conhecido. Embora os falsos ensinadores e hipócritas lutem contra essa verdade e abusem dela, ela é sustentada com firmeza por todos aqueles que reconhecem a obra do Espírito em seus corações. Com certeza, disse o sábio Hooker: "A condição dos homens não é tão segura quanto a nossa; a intercessão de Cristo é suficiente tanto para nos fortalecer, para que não sejamos fracos, como para vencer todo poder do inimigo, para que este não seja poderoso e capaz". Em segundo lugar, aprendemos que Cristo não deseja que seu povo se retire do mundo, mas que seja protegido do mal. Podemos estar certos de que a onisciência do Senhor detectou no coração de seus discípulos um impaciente desejo de se retirar deste mundo conturbado. Poucos em número e fracos em poder, rodeados por inimigos e perseguidores, os discípulos com razão poderiam desejar ser livres desse ambiente de conflito e ir para o lar. O próprio Davi, em certa ocasião, clamou: "Quem me dera ter asas como de pomba! Voaria e encontraria descanso" (SI 55.6). Levando em conta todas essas coisas, nosso Senhor, com sabedoria, colocou essas palavras em sua oração, em benefício perpétuo de sua igreja. Ele nos ensinou a grande lição de que julga melhor, para seu povo, ser mantido no mundo e preservado nele do que ser retirado do mundo e da presenca de todo mal.
Meditando nesse fato, não é difícil perceber a sabedoria de nosso Senhor tanto nesse como em outros assuntos relacionados a seu povo. Ainda que seja agradável à carne e ao sangue ser removido do conflito e da tentação, facilmente podemos compreender que isso não seria proveitoso. Como o povo de Cristo poderia fazer qualquer bem ao mundo se dele fosse retirado imediatamente após se converterem? Como poderiam demonstrar o poder da graca divina e comprovar sua fé, coragem e paciência, como bons soldados de um Senhor crucificado? Como poderiam ser adequadamente treinados para a eternidade e aprender o valor do sangue, da intercessão e da paciência de seu Redentor, a menos que aprendessem tudo isso por meio de experiências de sofrimento?
Essas perguntas admitem somente um tipo de resposta. Habitar nesse vale de lágrimas, sendo tentado, provado e afligido, mas, apesar disso, ser preservado, essa é a maneira mais segura de promover a santificação do crente e de glorificar a Cristo. Ir para o céu imediatamente após a conversão seria um caminho fácil e nos pouparia muitos problemas. No entanto, o caminho mais fácil não é o caminho do dever. Aquele que deseja ganhar a coroa precisa carregar a cruz e mostrar-se como uma luz no meio das trevas e sal no meio de um mundo corrompido. "Fiel é esta palavra: Se já morremos com ele, também viveremos com ele (2Tm 2.11).
Se realmente somos discípulos de Cristo, fiquemos contentes em admitir que ele sabe melhor do que nós aquilo que contribui para o nosso bem. Deixemos nossas circunstâncias aos cuidados dele e nos contentemos em permanecer onde estamos, não importa qual seja nossa posição, enquanto o Senhor Jesus nos guarda do mal. Não tenhamos dúvida de que seremos guardados, pois ele mesmo orou por isso. Podemos estar certos de que nada exalta tanto a graça divina quanto o fato de que, assim como Daniel na Babilônia e os crentes na casa do imperador romano, vivemos no mundo, mas não somos do mundo; somos tentados por todos os lados, mas vencemos as tentações; não fomos retirados do alcance e do poder do Maligno, porém somos guardados e preservados de seu poder.
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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