27/03/2024
Leia Lucas 22.54-62
Esses versículos descrevem uma queda do apóstolo Pedro. É uma passagem que humilha o orgulho humano; é especialmente instrutiva para todo crente. A experiência de Pedro relatada aqui tem sido um alerta para toda a Igreja de Cristo e provavelmente
tem preservado da destruição milhares de almas. É uma passagem que fornece abundante prova de que as Escrituras são inspiradas e de que o cristianismo procede de Deus. Se o cristianismo tivesse sido inventado por homens não inspirados por Deus, seus primeiros historiadores jamais nos teriam contado que um de seus principais apóstolos negou três vezes seu Senhor.
Por meio da experiência de Pedro, aprendemos quão insignificantes e graduais são os passos que podem levar os homens a grandes pecados. Os vários passos da queda de Pedro foram ressaltados pelos escritores dos evangelhos. Precisamos sempre observá-los, ao ler essa parte da história do apóstolo. O primeiro passo foi a autoconfiança orgulhosa. Embora todos viessem a negar Cristo, Pedro jamais faria isso. Ele estava pronto para segui-lo até à prisão e à morte. O segundo passo foi uma indolente negligência da oração. Quando seu Senhor ordenou que orasse para não entrar em tentação, Pedro deu ocasião à sonolência e dormiu. O terceiro passo foi uma vacilante indecisão. Quando os inimigos de Cristo chegaram para prendê-lo, Pedro, a princípio, lutou, mas em seguida fugiu; depois retornou e, finalmente, o seguiu "de longe". O quarto passo foi associar-se a más companhias. Ele dirigiu-se à casa do sumo sacerdote e assentou-se entre os criados ao redor do fogo, procurando conciliar seu cristianismo com ouvir e ver diversos tipos de maldade. O quinto e último passo foi a consequência natural dos primeiros quatro. Ele foi vencido pelo temor quando, subitamente, foi acusado de ser discípulo de Cristo. A armadilha estava ao redor de seu pescoço; ele não podia escapar. Precipitou-se no erro mais rápido do que antes. Negou seu bendito Senhor por três vezes. Temos de lembrar que o erro havia sido cometido antes. A negação foi apenas o resultado da doença.
Acautelemo-nos de tomar os primeiros passos em direção à apostasia, embora tais passos sejam pequenos. Nunca sabemos a onde podemos chegar se nos desviarmos do caminho do Senhor. O crente que começa a afirmar a respeito de qualquer pecado "É apenas uma coisinha insignificante" encontra-se em perigo iminente. Está semeando em seu coração sementes que um dia germinarão e produzirão frutos amargos. Existe um ditado popular que diz: "Se uma pessoa cuida bem de seus centavos, os milhões cuidarão de si mesmos". Podemos extrair um preciosa lição espiritual desse ditado. O crente que, com diligência, guarda seu coração diante de coisas pequenas será guardado de grandes pecados.
Em segundo lugar, a história da queda de Pedro nos ensina em que grave pecado o crente pode envolver-se. A fim de percebermos a lição com clareza, precisamos levar em conta todas as circunstâncias relacionadas. Pedro era um apóstolo escolhido; desfrutara privilégios espirituais superiores aos de muitas outras pessoas no mundo. Acabara de participar da Ceia do Senhor e de ouvir aquele maravilhoso discurso registrado em João 14, 15 e 16; fora advertido quanto a seu próprio perigo. Havia protestado em voz forte que estava pronto para enfrentar qualquer coisa que lhe sobreviesse. No entanto, ele negou repetidamente seu gracioso Senhor. Pedro o negou três vezes seguidas, em intervalos, o que lhe deu tempo para reflexão!
O mais nobre e ilustre dos crentes é apenas uma criatura frágil, até mesmo em seus melhores momentos. Quer saiba, quer não, ele carrega em seu íntimo uma capacidade quase irrestrita para o mal, embora sua conduta exterior seja decente e correta. Não existe um pecado tão grande que ele esteja impedido de cometer, se não vigiar e orar e se a graça de Deus não sustentá-lo. Quando lemos sobre a queda de Noé, Ló e Pedro, apenas estamos lendo aquilo em que possivelmente alguns de nós cairemos. Não sejamos presunçosos; jamais alimentemos pensamentos elevados em referência à nossa própria firmeza e nunca menosprezemos os outros. Entre os assuntos pelos quais oramos, devemos suplicar diariamente que andemos "humildemente com [...] Deus" (Mq6.8). Em terceiro lugar, a história da queda de Pedro nos ensina a infinita misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo. É um ensino fortemente ressaltado por um fato relatado somente no Evangelho de Lucas. Quando Pedro negou a Jesus pela terceira vez e o galo cantou, o Senhor voltou-se e "fixou os olhos" nele. Que palavras comoventes! Mesmo cercado por inimigos injuriosos, que desejavam muito a sua morte, e contemplando as horríveis afrontas que receberia, um tribunal injusto e uma morte dolorosa, o Senhor Jesus ainda achou tempo para pensar amavelmente a respeito de seu apóstolo errante. Mesmo naquela hora, Jesus desejava que Pedro soubesse: ele não o havia esquecido. Embora estivesse triste, mas não furioso, o Senhor voltou-se e "fixou os olhos" em Pedro. Havia um profundo significado naquele olhar. Foi um sermão que Pedro jamais esqueceu.
O amor de Cristo por seu povo é semelhante a uma fonte profunda e inesgotável. Nunca o avaliemos por compará-lo ao amor de qualquer pessoa, visto que ultrapassa todos os outros tipos de amor, assim como o sol excede qualquer luz opaca. Nesse amor, existe uma fonte inesgotável de compaixão, paciência e disposição para perdoar pecados. Temos um ínfimo conceito sobre as riquezas desse amor. Não fiquemos receosos de confiar nele quando percebermos o primeiro sinal de nossos pecados. Nunca tenhamos medo de continuar confiando nesse amor, depois de começarmos a fazê-lo. Ninguém precisa desesperar-se, mesmo que tenha cometido graves pecados, se tão somente arrepender-se e entregar-se a Cristo. Se o amor dele se mostrou tão gracioso, quando estava preso na sala de julgamento, com certeza não precisamos imaginar que será menos gracioso agora, quando está assentado à destra de Deus.
Por último, a história da queda de Pedro nos ensina quão doloroso para o crente é quando ele cai em pecado e reconhece essa queda. Trata-se de uma lição claramente ressaltada nesses versículos. Quando Pedro recordou a advertência que recebera e percebeu como havia caído em pecado, "saindo dali, chorou amargamente". Ele descobriu, por experiência própria, a verdade anunciada por Jeremias: "Tudo isto não te sucedeu por haveres deixado o Senhor, teu Deus, que te guiava pelo caminho?" (Jr 2.17). Pedro sentiu profundamente a verdade das palavras de Salomão: "O infiel de coração de seus próprios caminhos se farta" (Pv 14.14). Sem dúvida, ele poderia ter dito, assim como Jó: "Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza" (Jó 42.6).
Muita tristeza, devemos sempre lembrar, acompanha de maneira inseparável o verdadeiro arrependimento. Nisso, está a grande distinção entre o "arrependimento para a salvação" e o remorso inútil. O remorso é capaz de tornar um homem miserável, assim como Judas Iscariotes, porém não pode fazer nada além disso. O remorso não leva o homem a Deus. O verdadeiro arrependimento abranda o coração do homem e enternece sua consciência, manifestando-se em verdadeira conversão ao Pai celestial. Os pecados em que se envolvem aqueles que apenas confessam ser crentes e não possuem a graça divina são pecados dos quais essas pessoas não se levantam. Mas a queda no pecado de um verdadeiro servo de Cristo sempre termina em contrição profunda, auto-humilhação e mudança de atitude.
Ao findar nossa meditação sobre essa passagem, tenhamos o cuidado de sempre utilizar corretamente o relato sobre a queda de Pedro. Jamais a utilizemos como desculpa para o pecado. De sua triste experiência, aprendamos a vigiar e a orar, para não cairmos em tentação. E, se cairmos, devemos crer que há esperança para nós, assim como houve para o apóstolo. No entanto, acima de tudo, lembremos que, se cairmos de modo semelhante ao de Pedro, temos de nos arrepender, assim como ele, ou jamais seremos perdoados.
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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