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25/06/2024
Leia João 7.40-53
Esses versiculos nos mostram quão inútil e o conhecimento para a vida espiritual se não for acompanhado da obra da graça divina no coração. O texto nos informa que alguns dos ouvintes sabiam exatamente onde Cristo nasceria. Eram pessoas familiarizadas com o conteúdo das Escrituras: "Não diz a Escritura que o Cristo vem da descendência de Davi e da aldeia de Belém, donde era Davi?". Apesar disso, os olhos de seu entendimento não estavam iluminados. O próprio Messias, a quem esperavam, estava bem diante deles, mas não o receberam, nem creram nele, nem obedeceram a ele.
Sem dúvida, é muito importante ter certo grau de conhecimento das coisas espirituais. A ignorância, com certeza, não é a fonte da verdadeira devoção, tão pouco ajuda alguém a chegar ao céu. Um "Deus desconhecido" jamais poderá ser objeto da verdadeira adoração. De fato, seria extraordinário para os cristãos se todos conhecessem as Escrituras tão bem quanto os judeus pareciam conhecer, quando o Senhor viveu na terra.
Entretanto, se, por um lado, valorizamos o conhecimento dos fatos espirituais, por outro, devemos cuidar para não atribuir a esse conhecimento valor excessivo. Não devemos pensar que é suficiente conhecer os fatos e as doutrinas de nossa fé, a menos que nossos corações e vidas sejam inteiramente influenciados por esse conhecimento. Os próprios demônios têm conhecimento intelectual; eles "creem e tremem", mas continuam sendo demônios (Tg 2.19). É possível estar familiarizado com a letra das Escrituras, ser capaz de citá-la corretamente, discutir sobre as doutrinas do cristianismo e, assim mesmo, permanecer morto em delitos e pecados. À semelhança de muitos da geração à qual Jesus pregava, também podemos ter bom conhecimento da Bíblia, mas continuar incrédulos e sem conversão.
Devemos lembrar sempre que conhecer de coração é o que realmente importa. É algo que os seminários e as faculdades não podem nos dar. É um dom de Deus. Reconhecer o mal que existe em nossos corações, odiar o pecado, familiarizar-nos com o trono da graça e com a fonte do sangue de Cristo, sentar diariamente aos pés de Cristo para, com humildade, aprender com ele - esse é o grau mais elevado que nós, homens mortais, podemos atingir. Dê graças ao Senhor todo aquele que compreende essas verdades; mesmo que não conheça grego, latim ou hebraico, ele será salvo.
Esses versículos também nos mostram quão excelente foi o dom do Senhor como Mestre, para ensinar a seu povo. Os próprios oficiais dos principais sacerdotes que foram mandados para prender Jesus ficaram sensibilizados e admirados. Certamente, eles não mostrariam uma disposição favorável para com o Mestre; todavia, afirmaram: "Jamais alguém falou como este homem"
Quanto à maneira como o Senhor Jesus falava em público, podemos formar uma ideia restrita. Os gestos, o tom de voz e o modo de falar são coisas que devem ser presenciadas para que sejam apreciadas. Não temos dúvida de que seu modo de falar ao público era solene, peculiar, arrebatador e impressionante. Talvez fosse algo muito diferente do que os oficiais judeus estavam acostumados a ouvir. Outra passagem das Escrituras nos diz mais: "Ele as ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas" (Mt 7.29).
Quanto aos assuntos abordados nas mensagens públicas de nosso Senhor, podemos formar alguns conceitos a partir dos discursos registrados nos quatro evangelhos. As características principais desses discursos são claras e inconfundiveis. O mundo jamais viu algo semelhante a eles, desde que ao homem foi dado o dom da fala. São discursos que, em geral, contêm verdades profundas, as quais não temos recursos para sondar. Ao mesmo tempo, têm uma simplicidade que até as crianças podem entender. São palavras fortes e francas ao denunciar os pecados nacionais e eclesiásticos, mas sábias e discretas em jamais causar ofensas desnecessárias. São firmes e objetivas em seu papel de alertar, porém amáveis e gentis em seu apelo. Ao vermos tal combinação de poder e simplicidade, de coragem e prudência, de firmeza e ternura, podemos certamente afirmar: "Jamais alguém falou como este homem!".
Muito lucraria a Igreja de Cristo se ministros e mestres procurassem falar com mais dedicação, segundo o padrão que podem ver em Cristo. É bom que se lembrem de que o linguajar impetuoso e o estilo sensacionalista e dramático são totalmente diferentes do modo como seu Mestre falava. É bom reconhecerem que o falar com simplicidade e fervor é o mais elevado objetivo ao se dirigirem ao público. E o Mestre lhes deixou um grandioso exemplo disso. Certamente, eles não precisam envergonhar-se de seguir os passos de seu Senhor.
Por último, esses versículos nos mostram como pode ser lenta e gradativa a obra da graça em certos corações. Nicodemos levantou-se na reunião do conselho dos inimigos do Senhor e, com mansidão, pleiteou que o Senhor merecia um tratamento justo. Ele perguntou: "Acaso, a nossa lei julga um homem sem primeiro ouvi-lo e saber o que ele fez?".
Esse Nicodemos, devemos lembrar, era o mesmo que, dezoito meses antes, em sua ignorância, havia procurado o Mestre, à noite, para interrogá-lo. Evidentemente, àquela altura, ele tinha pouco conhecimento e não ousava ir a Cristo em pleno dia. Porém, depois de um ano e meio, ele progrediu tanto que ousou dizer algo a favor de Cristo. Sem dúvida, ele não falou muito; contudo, foi melhor do que permanecer calado. Além disso, aproximava-se o dia em que ele avançaria mais ainda, pois auxiliaria José de Arimateia a honrar o cadáver do Senhor Jesus quando os próprios discípulos o haviam abandonado e fugido.
O exemplo de Nicodemos está repleto de instruções úteis, ensinando-nos que há diversidade nas realizações do Espírito Santo. Ele conduz as pessoas ao mesmo Salvador, mas nem todas são levadas a Cristo de modo semelhante. A história de Nicodemos nos ensina que a atividade do Espírito Santo não se realiza com a mesma intensidade no coração dos homens. Às vezes, pode ser bastante lenta e, apesar disso, profunda e verdadeira.
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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