22/03/2024
Leia Lucas 22.14-23
Esses versículos contêm o relato de Lucas sobre a instituição da Ceia do Senhor. É uma passagem que todo crente verdadeiro sempre deve ler com profundo interesse. Quão admirável é o fato de que uma ordenança tão simples, quando foi inicialmente instituída, tenha sido obscurecida e mistificada pelas ideias dos homens! Que triste prova da corrupção humana é o fato de uma das mais desagradáveis controvérsias que perturbaram a Igreja referir-se à Ceia do Senhor. Grande, sem dúvida, é a ingenuidade dos homens em perverter os dons de Deus. A ordenança que deveria resultar em bênção para as pessoas frequentemente torna-se motivo de tropeço. Em primeiro lugar, devemos observar nesses versículos que o principal objetivo da Ceia do Senhor é recordar ao crente a morte de Cristo em favor dos pecadores. Ao instituir a Ceia, Jesus claramente disse aos discípulos que deveriam realizá-la "em memória" dele. Em outras palavras, a Ceia do Senhor não é um sacrifício; é uma ordenança eminentemente comemorativa.
O pão que o crente come na Ceia tem o propósito de recordar o corpo de Cristo morto na cruz em favor do pecador; o vinho bebido na Ceia visa recordar o sangue de Cristo derramado para fazer expiação pelos pecados do crente. Toda a ordenança da Ceia foi designada para manter vivos, na memória, o sacrifício de Cristo na cruz e a satisfação que esse sacrifício proporcionou pelos pecados do mundo. Os dois elementos, o pão e o vinho, são símbolos vivos destinados a proclamar Cristo crucificado como nosso Substituto. Constituem um sermão visível que apela aos sentidos do crente, ensinando a antiga verdade fundamental do evangelho: a morte de Cristo na cruz é vida para a alma do homem. Faremos bem se conservarmos com firmeza em nossa mente um ponto de vista simples a respeito da Ceia do Senhor. Não há dúvida de que encontramos uma bênção especial na correta celebração da Ceia do Senhor, bem como em toda utilização correta das ordenanças designadas por Cristo. Mas temos de recusar com determinação a afirmativa de que, exceto por meio da fé, existe qualquer outro meio pelo qual podemos comer o corpo e beber o sangue de Cristo. Aquele que se aproxima da Mesa do Senhor crendo em Cristo pode esperar com confiança que sua fé crescerá ao receber o pão e o vinho. Entretanto, aquele que se aproxima sem fé não tem o direito de esperar receber qualquer bênção. Vazio ele veio à ordenança, vazio ele sairá.
Quanto menos mistério e obscuridade atribuirmos à Ceia do Senhor, melhor ela será para nossa alma. Devemos rejeitar com desprezo a ideia antibíblica de que a Ceia é uma oblação ou um sacrifício; temos de repelir a noção de que o pão e o vinho se transformam e o conceito de que receber a Ceia de maneira formal trará alguma bênção à alma. Devemos apegar-nos firmemente ao grande princípio estabelecido em sua instituição, ou seja, a Ceia é eminentemente uma ordenança comemorativa, e não obteremos qualquer benefício se a recebermos sem fé e sem uma grata recordação da morte de Cristo. As palavras de um catecismo são verdadeiras e sábias: "A Ceia do Senhor foi ordenada com o propósito de relembrar constantemente o sacrifício da morte de Cristo". E a afirmativa dos artigos desse catecismo é clara e simples: "A fé é o meio pelo qual o corpo de Cristo é recebido". A exortação do Livro de Orações destaca apenas uma maneira pela qual podemos alimentar-nos de Cristo: "Alimentemo-nos dele pela fé, em nosso coração, com ações de graça". Por fim, e não menos importante, a seguinte advertência é muito instrutiva: "Tenhamos cuidado para que o ato memorial não se torne um sacrifício".
Em segundo lugar, devemos observar nesses versículos que a celebração da Ceia do Senhor é obrigação de todos os verdadeiros crentes. As palavras de nosso Senhor quanto a esse assunto são diretas e enfáticas: "Fazei isto em memória de mim. Supor, assim como alguns o fazem, que elas constituem uma exortação dirigida exclusivamente aos apóstolos e a todos os que ministram a Ceia do Senhor é uma interpretação completamente insatisfatória. O sentido óbvio das palavras é um preceito geral para todos os discípulos de Cristo.
A ordem de Jesus tem sido ignorada em terríveis proporções. Milhares de membros de igrejas cristãs não participam da Ceia do Senhor. Talvez eles se envergonhem de saber que transgrediram algum dos Dez Mandamentos; todavia, não percebem que estão desobedecendo a uma ordem clara do Senhor Jesus! Essas pessoas parecem imaginar que não é um pecado grave não ser um participante da Ceia do Senhor. Parecem completamente inconscientes de que, se vivessem nos dias dos apóstolos, não seriam reconhecidas como verdadeiros cristãos.
Evitaremos cometer erros se tratarmos com cautela o assunto da Ceia do Senhor. Não devemos esperar que toda pessoa batizada receba a Ceia somente por uma questão de formalidade. Trata-se de uma ordenança instituída para aqueles que estão espiritualmente vivos, e não para os que estão mortos em seus pecados. Mas, quando percebemos que um grande número dos membros das igrejas não participa da Ceia do Senhor, tornase evidente que existe algo bastante errado na condição espiritual de nossas igrejas. Existem evidências de uma ampla ignorância ou uma apatia insensível em relação a um preceito divino. Quando milhares de pessoas batizadas desobedecem à ordem de Cristo, podemos estar certos de que estão desagradando a Cristo.
Nossa atitude para com a Ceia do Senhor é um assunto que deve preocupar-nos. Deixamos de participar da Ceia do Senhor, fundamentados no conceito vago de que não existe uma grande necessidade para a recebermos? Se admitimos essa opinião, é melhor que a abandonemos imediatamente. Não devemos brincar dessa maneira com um preceito claro do próprio Filho de Deus. Não participamos da Ceia do Senhor porque não estamos preparados para recebê-la? Se essa é a nossa situação, devemos entender plenamente que estamos despreparados para morrer. Se não estamos preparados para receber a Ceia do Senhor, isso significa que estamos despreparados para o céu, para o Dia do Juízo e para o encontro com Deus! Com certeza, essa é uma situação muito séria. Mas as palavras de Jesus são evidentes. Ele nos deu um mandamento claro. Quando, voluntariamente, desobedecemos a ele, estamos em perigo de perder nossa comunhão com ele. Se não estamos prontos para participar da Ceia do Senhor, temos de nos arrepender sem demora.
Por último, observamos nesses versículos quem eram os participantes quando houve a instituição da Ceia do Senhor. Eles não eram todos santos; tampouco eram todos crentes. Lucas nos mostra que Judas Iscariotes, o traidor, estava entre eles. As palavras de nosso Senhor não admitem outra interpretação. Ele disse: "A mão do traidor está comigo à mesa".
Aqui, a lição transmitida é profundamente importante. Ela no mostra que não devemos considerar todos os que recebem a Ceia crentes verdadeiros e sinceros servos de Cristo. O bem e o mal podem achar-se lado a lado na realização dessa ordenança. Nenhuma disciplina eclesiástica pode impedir que isso aconteça. A lição nos revela que é tolice deixar de participar da Ceia do Senhor porque alguns que a recebem não são convertidos, e que é imprudência abandonar a comunhão da igreja somente porque alguns de seus membros não se mostram sadios na fé. O trigo e o joio crescerão juntos até à colheita. O próprio Senhor Jesus tolerou Judas Iscariotes quando realizou a primeira Ceia. O servo de Deus não pode desejar ser mais exclusivista do que seu Senhor. Ele deve julgar seu próprio coração e deixar que os outros respondam por si mesmos a Deus. E, se não participamos da Ceia do Senhor, perguntemos a nós mesmos: "Porque não?". Que motivo satisfatório podemos apresentar para negligenciarmos um mandamento claro do Senhor Jesus? Não descansemos até que sejamos capazes de encarar essa indagação.
Se participamos da Ceia do Senhor, tenhamos cuidado para que a estejamos recebendo com dignidade. "As ordenanças de Cristo têm um efeito e um resultado saudável naqueles que os recebem com dignidade." Com frequência, devemos perguntar a nós mesmos se nos arrependemos, se cremos em Jesus e se estamos nos esforçando para viver em santidade. Vivendo desse modo, não precisamos ter receio de comer o pão e beber o cálice dos quais nosso Senhor ordenou que participássemos.
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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