-
19/07/2024
Leia João 11.47-57
Esses ultimos versiculos contem um melancolico retrato da natureza humana. Ao focalizar
as autoridades dos judeus em Jerusalém, deixando de lado o Senhor Jesus e a ressurreição em Betânia, podemos muito bem indagar: "Senhor, que é o homem?".
Nesses versículos, percebemos a desesperada impiedade do homem natural. Um poderoso milagre fora realizado nas proximidades de Jerusalém. Um homem morto havia quatro dias fora ressuscitado à vista de muitas testemunhas. O acontecimento era inquestionável e não podia ser negado; contudo, os principais sacerdotes e os fariseus não acreditavam que o realizador desse milagre deveria ser recebido como o Messias. Em face de evidências tão convincentes, eles fecharam seus olhos e se recusaram a ser convencidos. "Este homem", admitiram, eles "opera muitos sinais". No entanto, em vez de se renderem a esse reconhecimento, apenas levaram adiante sua impiedade e "resolveram matá-lo". Grande, realmente, é o poder da incredulidade.
Guardemo-nos de pensar que os milagres têm o poder de converter as almas dos homens e torná-los cristãos. Essa ideia é uma ilusão completa. É um sonho inútil imaginar, como algumas pessoas fazem, que, se virem algo extraordinário sendo realizado diante de seus olhos, em confirmação do evangelho, elas imediatamente abandonarão toda indecisão e servirão a Cristo. Nossas almas precisam da graça do Espírito em nossos corações, e não de milagres. Os judeus da época de nosso Senhor constituem uma permanente prova à raça humana de que as pessoas podem ver sinais e maravilhas, e ainda permanecer endurecidas como pedras. Esta é uma verdade profunda e genuína: "Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tão pouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos" (Lc 16.31).
Jamais fiquemos admirados por ver tamanha incredulidade em nossos dias, entre aqueles que vivem ao nosso redor. A princípio, parece inexplicável como os homens não percebem uma verdade que é tão clara para nós e não recebem o evangelho que se mostra tão digno de aceitação. Entretanto, a verdade é que a incredulidade do homem é uma doença mais profunda do que costuma ser reconhecida; é uma prova contra a lógica dos fatos, o raciocínio, os argumentos e a persuasão moral. Nada pode desintegrá-la exceto a graça de Deus. Se cremos, jamais poderemos ser suficientemente gratos por isso. Mas não devemos achar estranho quando vemos muitos de nossos amigos tão endurecidos e incrédulos quanto os judeus. Em segundo lugar, devemos perceber nesses versículos a ignorância com que os inimigos de Deus frequentemente agem e raciocinam. Essas autoridades dos judeus disseram entre si: "Se o deixarmos assim, todos crerão nele; depois, virão os romanos e tomarão não só o nosso lugar, mas a própria nação" (Jo 11.48). Nunca, os acontecimentos posteriores comprovaram, houve um julgamento mais equivocado e impreciso do que esse. Eles se precipitaram loucamente no caminho que haviam escolhido, e a única coisa que temiam veio a acontecer. Não deixaram o Senhor Jesus permanecer vivo; crucificaram e mataram-no. O que lhes aconteceu? Após alguns anos, a calamidade que eles temiam se realizou: os exércitos romanos vieram, destruíram Jerusalém, incendiaram o templo e levaram toda a nação em cativeiro.
O crente instruído não precisa ser lembrado de coisas semelhantes na história da Igreja cristã. Os imperadores romanos perseguiram os crentes nos primeiros três séculos e consideraram um dever não os deixarem perseverar. Porém, quanto mais perseguiam os crentes, mais eles aumentavam em número. O sangue dos mártires tornou-se a semente da Igreja. Os papistas ingleses, nos dias da rainha Maria, perseguiram os protestantes e imaginaram que a verdade estava em perigo se os deixassem vivos. No entanto, quanto mais eles perseguiam nossos antepassados, mais confirmavam as mentes do homens em resoluto apego às doutrinas da Reforma.
Em resumo, as palavras do salmista se comprovam neste mundo: "Os reis da terra se levantam, e os príncipes conspiram contra o SENHOR e contra o seu Ungido"; mas "ri-se aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles" (S1 2.2,4). Deus pode fazer os desígnios de seus inimigos cooperarem para o bem de seu povo e levar a ira do homem a louvá-lo. Em dias de tribulação, rejeição e blasfêmia, os crentes podem descansar tranquilamente no Senhor. As coisas que, em certa época, parecem prejudicá-los no final serão confirmadas como proveitosas para eles.
Por último, nesses versículos devemos perceber que importância os homens, às vezes, atribuem a cerimônias, enquanto seus corações estão repletos de pecado. Somos informados de que muitos judeus "daquela região subiram para Jerusalém antes da Páscoa, a fim de se purificar". A maioria deles, devemos recear, não sabia nada nem se preocupava com a pureza de seus corações. Eles deram grande ênfase às purificações, festas e práticas ascéticas que constituíam a essência da religião popular dos judeus na época de nosso Senhor e, apesar disso, estavam dispostos, em alguns dias posteriores, a derramar sangue inocente. Ainda que pareça estranho, esses obstinados defensores da santificação exterior estavam prontos para fazer a vontade dos fariseus e trazer o Messias a uma morte violenta.
Infelizmente, extremos assim na mesma pessoa são muito comuns. A experiência mostra que uma consciência má frequentemente satisfaz a si mesma ao se mostrar por mostrar-se zelosa em favor de uma religião, enquanto as coisas "mais importantes" da fé são completamente negligenciadas. O mesmo homem que se acha disposto a atravessar a terra e o mar a fim de participar de um cerimonial de purificação é também aquele que, se tiver a oportunidade, não se esquivará de ajudar os outros a crucificar Cristo. Essas afirmações parecem causar perplexidade, mas são abundantemente comprovadas pelos fatos. As cidades em que a Quaresma é observada com mais extravagante rigidez são as mesmas em que o carnaval, após a Quaresma, é uma época de deslumbrantes excessos e imoralidade. As pessoas que, em algumas partes do cristianismo nominal, fazem muito no que se refere a jejuns e à absolvicão do sacerdote são as mesmas que, na semana seguinte, não se importarão em matar! Essas coisas são realidades. A abominável inconsistência dos judeus dos tempos de nosso Senhor jamais deixou de ter seus seguidores.
Guardemos firmemente em nossos corações o fato de que a espiritualidade demonstrada em zelo pelas formalidades é completamente desprovida de valor diante de Deus. A pureza que Deus deseja ver não é a pureza da lavagem de partes do corpo e de jejuar, ou a pureza do uso de água benta ou de ascetismo que alguém impõe a si mesmo, mas a pureza de coração. Adoracão falsa e cerimonialismo podem satisfazer a carne, mas não promovem a verdadeira piedade. O padrão do reino de Cristo tem de ser encontrado no Sermão do Monte: "Bem-aventurados os limpos de coracão, porque verão a Deus" (Mt 5.8; C1 2.23).
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
Comments