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Foto do escritorSónia Ramos

A ignorância de Pedro; lições práticas e evidentes; profundas verdades espirituais

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01/08/2024

Leia João 13.6-15


Os versículos que agora abordamos concluem a história da lavagem dos pés dos discípulos realizada por nosso Senhor naquela noite que antecedeu sua crucificação. Essa história está repleta de cativante influência para os crentes; por algum motivo, os outros evangelistas não a relataram. A admirável condescendência de nosso Senhor em realizar um ato tão servil com facilidade pode atingir a emoção de qualquer leitor. O simples fato de o Senhor Jesus ter lavado os pés de seus servos causa-nos bastante surpresa. Mas as circunstâncias e as afirmações que resultam dessa atitude mostram-se tão interessantes quanto o próprio ato de lavar os pés.

Devemos observar inicialmente a precipitada ignorância do apóstolo Pedro. Em um momento, nós o vemos recusando-se a permitir que seu Mestre realizasse aquele humilde serviço de lavar seus pés: "Senhor, tu me lavas os pés a mim? Nunca me lavarás os pés". Logo em seguida, nós o vemos demonstrar sua característica impetuosidade no outro extremo: "Senhor, não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça". Porém, durante toda a lavagem do pés, percebemos que Pedro não compreendeu o verdadeiro significado do que estava sendo realizado. Ele viu, mas não compreendeu.

Dessa atitude do apóstolo Pedro, devemos aprender que alguém pode ter abundância de fé e amor, mas, infelizmente, estar destituído de um conhecimento nítido. Não devemos reputar essas pessoas como incrédulas e ímpias somente porque não agem com inteligência, sensibilidade e cuidado em sua vida espiritual. É necessário que sejamos tolerantes às deficiências de entendimento, bem como às imperfeições da vontade. Não fiquemos surpresos se percebermos que a capacidade de entendimento, assim como as afeições, de alguns dos filhos de Adão tem sido corrompida pela Oueda. É uma lição que nos humilha e que só aprendemos completamente após longa experiência. No entanto, quanto mais prosseguimos em nossa jornada cristã, mais percebemos que um cristão, tal como Pedro, talvez cometa muitos erros e demonstre falta de compreensão, mas, apesar disso, esse cristão tem um coração reto diante de Deus e, no final, também irá para o céu. Ainda que estejamos no melhor de nossa vida espiritual, perceberemos que, às vezes, é difícil entender a maneira de o Senhor Jesus lidar connosco. O "porquê" de muitas providências frequentemente nos deixará perplexo e admirados, assim como o lavar dos pés causou perplexidade no apóstolo Pedro. A sabedoria, a conveniência e a necessidade de muitas coisas constantemente permanecerão ocultas ao nosso entendimento. Em ocasiões assim, devemos recordar as palavras de Jesus e nelas descansar: "O que eu faço, não o sabes agora; compreendê-lo-ás depois". Algum tempo depois da morte do Senhor Jesus, Pedro compreendeu o pleno significado de tudo que acontecera naquela memorável noite que antecedeu a crucificação. De modo semelhante, haverá um dia em que todos os dias obscuros da história de nossa vida serão explicados e, quando estivermos com Cristo na glória, saberemos tudo a respeito deles.

Em segundo lugar, devemos observar que, nessa passagem, encontramos uma lição prática e evidente, transmitida pelo próprio Senhor Jesus. Ele afirmou: "Eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também".

Sem dúvida, a humildade é um dos aspectos dessa lição. Se o unigênito Filho de Deus, o Rei dos reis, pensou que não seria indigno para ele realizar o humilde serviço de escravo, não existe coisa alguma que seus discípulos possam reputar menos importante ou digna para eles fazerem. Nenhum pecado é tão ofensivo e prejudicial à alma quanto o orgulho. Nenhuma virtude é tão recomendada, por exemplo e preceito, quanto a humildade. "Cingi-vos todos de humildade" (1 e 5.5). "O que se humilha será exaltado" (Lc 18.14). "Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o fato de ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tomando-se obediente até à morte e morte de cruz" (Fp 2.5-8).

Seria bom se a igreja recordasse mais essa verdade e a humildade não fosse tão escassa entre seus membros. Talvez não exista pessoa tão desagradável aos olhos de Deus quanto aquela que professa o cristianismo e, ao mesmo tempo, pensa de maneira elevada a respeito de si mesma, demonstrando autoexaltação, contentamento consigo mesma e orgulho. Infelizmente, esse tipo de pessoa é muito comum na igreja contemporânea. No entanto, as palavras que João registrou jamais foram revogadas; pelo contrário, elas se tornarão uma testemunha contra muitos no último dia, a menos que se arrependam.

O amor é a outra parte evidente dessa lição grande e prática. Nosso Senhor deseja que amemos os outros de tal modo que nos deleitemos em fazer coisas que promovam a felicidade deles. Temos de nos regozijar em fazer o bem, mesmo nas pequenas coisas. Devemos reconhecer como um prazer a atitude de amenizar o sofrimento dos outros e multiplicar-lhes a alegria, ainda que isso exija de nós algum sacrifício e abnegação. Precisamos amar cada pessoa de tal maneira que, se ela estiver na menor aflição, sejamos capazes de fazer algo que a tornará mais feliz e consolada. Devemos alegrar-nos em agir assim. Essa foi a mentalidade do Senhor Jesus e o princípio que governava sua vida na terra. Existem apenas alguns que andam nos passos dele, e esses são homens e mulheres que vivem em harmonia com ele.

Essa lição parece bem simples, porém é importante e nunca deve ser menosprezada. Humildade e amor são exatamente as virtudes que os homens do mundo entendem, ainda que não compreendam as doutrinas cristãs. Há virtudes sobre as quais não existe mistério, virtudes encontradas em pessoas de todas as classes sociais. O crente mais simples e menos instruído pode, a cada dia, descobrir ocasiões em que praticará o amor e a humildade. Para tornar cada vez, mais firme nossa vocação e eleição, e fazer o bem ao mundo, não devemos esquecer esse exemplo de nosso Senhor. Assim como ele, devemos humilhar-nos e amar a todos.

Por último, devemos observar que essa passagem nos ensina três verdades profundas e espirituais. Essas verdades constituem a base da verdadeira religião. Porém, aqui, vamos considerá-las apenas brevemente.

Por um lado, aprendemos que todos precisam ser lavados por Cristo. "Se eu não te lavar, não tens parte comigo". Nenhuma pessoa será salva a menos que seus pecados sejam lavados no precioso sangue de Cristo. Somente esse sangue é capaz de nos purificar e nos fazer aceitáveis diante de Deus. Precisamos ser lavados, santificados e justificados em "nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus" (1Co 6.11). É necessário que o Senhor Jesus nos lave, para que nos assentemos na glória juntamente com os santos. Portanto, asseguremo-nos de que já viemos a ele pela fé, para nos lavar e tornar puros. Somente aqueles que creem nele são realmente lavados.

Por outro lado, aprendemos que mesmo os que já foram lavados e perdoados necessitam diariamente do sangue de Cristo para ser purificados. Não podemos viver neste mundo impuro e permanecer sem contaminação. Não existe um dia sequer de nossas vidas em que não falhemos e pequemos em pequenas coisas, necessitando de renovada misericórdia da parte do Senhor. "Quem já se banhou não necessita lavar senão os pés", e precisa lavá-los na mesma fonte em que, quando creu, encontrou paz para sua consciência. Por conseguinte, devemos começar e prosseguir na vida cristã servindo-nos do mesmo sangue.

Finalmente, aprendemos que nem todos os que andavam na companhia de Cristo e haviam sido batizados como discípulos haviam sido "limpos" de seus pecados. Estas são palavras solenes: "Vós estais limpos, mas não todos". Estejamos atentos quanto a nós mesmos e certos de que não somos falsos discípulos. Se alguns que professam seguir a Cristo ainda não foram purificados e justificados, temos razão para ficar atentos a respeito de nós mesmos. O batismo e o fato de ser membro de uma igreja não provam que fomos justificados diante de Deus.


Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos


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