05/05/2024
Leia João 1.19-28
Os versículos que acabamos de ler iniciam a parte histórica do Evangelho de João. Até aqui, lemos declarações profundas e significativas sobre a natureza divina de Cristo, sua encarnação e dignidade. Agora, chegamos à narrativa plena do ministério terreno de Cristo, dos atos e das palavras que ele dirigiu aos homens. Assim como os escritores dos demais evangelhos, João inicia relatando o testemunho de João Batista. Nesses versículos, temos um exemplo de humildade verdadeira. Ele é fornecido pelo próprio João Batista, que era um homem de notável santidade. Poucos nomes se destacam mais do que o dele, entre os bons e grandes homens dos registros bíblicos. O próprio Senhor Jesus declarou: "Entre os nascidos de mulher, ninguém apareceu maior do que João Batista" (Mt 11.11) e "Ele era a lâmpada que ardia e alumiava" (Jo 5.35). No entanto, aqui, esse homem notável é visto em atitude de total modéstia e auto-humilhação. Ele afasta de si mesmo a honra que os judeus de Jerusalém queriam prestar-lhe. Dispensa todos os títulos lisonjeiros que lhe atribuíram. Fala de si mesmo como sendo apenas a "voz do que clama no deserto" e aquele que "batiza com água". Em alta voz, proclama que, entre os judeus, há alguém maior do que ele, cujas correias das sandálias não é digno de desatar. Não busca a própria glória, mas a de Cristo. Sua missão é exaltar a Cristo, e a essa missão ele se atém firmemente.
Em toda a história da Igreja, os homens de Deus mais notáveis foram os que tiveram o espírito semelhante ao de João Batista. Foram bem diferentes quanto a dons, conhecimento e caráter, de maneira geral; mas, em um aspecto, eram bem semelhantes: foram homens que se cingiram de "humildade" (1Pe 5.5). Esses não buscavam a própria honra. Pensavam com modéstia a respeito de si mesmos. Estavam sempre prontos a se diminuir, para que somente Cristo crescesse; a ser nada, para que Cristo fosse tudo. E por isso receberam de Deus a honra. "O que se humilha será exaltado" (Lc 14.11).
Se professamos ser cristãos verdadeiros, procuremos ter um espírito semelhante ao de João Batista. Atentemos para a humildade, que é a virtude imprescindível da vida cristã. Não desfrutaremos uma verdadeira religião pessoal até lançarmos fora os conceitos elevados sobre nós mesmos e reconhecermos que somos pecadores. A humildade é a virtude que deve ser cultivada na vida dos santos, os quais são indesculpáveis por negligenciá-la. Nem todos os filhos de Deus possuem dons, dinheiro, tempo e oportunidades para influenciar muitas pessoas; mas todos devem ser humildes. Essa é a virtude que está acima das outras e que se destacará com mais beleza ao final de nossas vidas. Nunca sentiremos tanto a necessidade de humildade quanto no dia em que estivermos no leito de morte ou diante do trono de Cristo, para o julgamento. Então, nossa vida parecerá uma extensa lista de imperfeições; nós mesmos seremos nada, mas Cristo será tudo.
Podemos observar, nesses versículos, um exemplo lamentável da cegueira do homem não convertido. Esse exemplo é visto nos judeus que vieram interrogar João Batista. Eles professavam estar aguardando o Messias. E, assim como os fariseus, orgulhavam-se de ser filhos de Abraão e o alvo das alianças. Sentiam-se seguros por possuir a lei e se vangloriavam de ter a Deus. Diziam conhecer a vontade dele e crer em suas promessas. Confiavam em ser guias dos cegos e luz para os que se assentavam nas trevas (Rm 2.17-19). Mas, ao mesmo tempo, suas almas se encontravam em trevas profundas. No meio deles, como disse João Batista, estava alguém que não conheciam. O próprio Cristo, o Messias prometido, estava entre eles; contudo, não o viam, não o recebiam, não o reconheciam nem criam nele. E pior ainda: a maioria daqueles homens jamais chegaria a conhecê-lo! As palavras de João Batista foram uma descricão profética de uma situação que perdurou por todo o ministério terreno do Senhor Jesus Cristo. Ele estava no meio dos judeus, mas estes não o conheceram, e a maioria morreu em seus pecados.
É algo sério pensar que, em nossos dias, essas palavras de João Batista se aplicam da mesma maneira a milhares de pessoas. Cristo ainda está no meio de tantos que não o veem, nem o conhecem, tampouco creem nele. Cristo está passando por muitas igrejas e por muitas congregações; a maioria não tem olhos para vê-lo, nem ouvidos para ouvi-lo. Parece pairar sobre eles um espirito de dormência. Conhecem prazeres, dinheiro e o mundo, mas não a Cristo. O reino de Deus está próximo deles, mas estão dormindo. A salvação está ao seu alcance, porém eles dormem. A misericórdia, a graça, a paz e a vida eterna encontram-se tão próximas deles que podem ser tocadas; contudo, dormem. Cristo está no meio deles, mas eles não o conhecem. É triste descrevermos essas coisas, mas todo ministro fiel de Cristo, assim como João Batista, testificará que são verdadeiras.
E, quanto a nós, o que temos feito? Afinal de contas, essa é a grande questão que nos preocupa. Conhecemos a extensão de nossos privilégios espirituais, em nosso país e em nossos dias? Estamos conscientes de que Cristo está passando por todos os cantos de nossa terra, convidando almas a virem até ele e se tornarem seus discípulos? Sabemos que o tempo é curto e que, em breve, a porta da misericórdia se fechará para sempre? Porventura, reconhecemos que o Cristo agora rejeitado logo será inacessível? Felizes os que podem dar boas respostas a essas perguntas e reconhecem a oportunidade de sua "visitação" (Lc 19.44). No último dia, será melhor nunca haver nascido do que ter Jesus Cristo presente entre nós e não tê-lo conhecido.
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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