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08/08/2024
Leia João 13.31-38
Aqui vemos o Senhor Jesus sozinho com seus onze discípulos. O traidor, Judas Iscariotes, se retirara para realizar sua ímpia obra das trevas. Livre do perverso companheiro, nosso Senhor abre o coração ao seu pequeno rebanho, fazendo-o de um modo mais amplo do que em qualquer outra ocasião. Dirigindo-se aos discípulos pela última vez antes de sua morte, ele profere um discurso que, em interesse, ultrapassa qualquer outra porção das Escrituras. Esses versículos nos mostram a glória que a crucificação traria ao Pai e ao Filho. Parece impossível evitar a conclusão de que o Senhor estava pensando nisso quando afirmou: "Agora, foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele". Essas palavras transmitem a ideia de que Jesus estava dizendo: "O tempo de minha crucificação está chegando. Meu serviço na terra está acabado. Amanhã acontecerá algo que, embora resulte em tristeza para os que me amam, na realidade muito glorificará tanto a mim como a meu Pai"
Essa afirmativa de Jesus foi misteriosa e obscura para os onze discípulos; acreditamos que eles não a compreenderam. E não devemos ficar admirados! A agonia da morte na cruz, a ignomínia e as afrontas que ele antecipadamente contemplou e ouviu no dia seguinte, o fato de ficar pendurado na cruz durante seis horas entre dois ladrões - nada disso demonstrava qualquer aparência de glória. Pelo contrário, esses acontecimentos encheriam os corações dos apóstolos com vergonha, desapontamento e desânimo. Apesar disso, as palavras de nosso Senhor eram verdadeiras.
A crucificação redundou em glória para Deus, o Pai, exaltando sua sabedoria, fidelidade, santidade e amor. Demonstrou que ele foi sábio em realizar um plano por meio do qual se mostrasse justo e se tornasse o justificador do ímpio. A crucificação revelou a fidelidade do Pai em cumprir sua promessa de que o descendente da mulher esmagaria a cabeça da serpente. Também comprovou a santidade do Pai em exigir que as reivindicações da lei fossem satisfeitas por nosso grande Substituto. A crucificação mostrou o amor do Pai em providenciar seu coeterno Filho para ser o Mediador, Redentor e Amigo do pecador.
A crucificação glorificou o Filho, exaltando sua compaixão, paciência e poder. Demonstrou sua profunda compaixão, ao morrer por nós, sofrendo em nosso lugar, tornando-se pecado e maldição em nosso favor, adquirindo nossa redenção ao preço de seu próprio sangue. A crucificação revelou sua imensa paciência, que não lhe permitiu experimentar a morte comum à maioria das pessoas, mas fazendo-o voluntariamente submeter-se aos horrores e às indescritíveis agonias que não podemos imaginar, embora, com apenas uma palavra, ele pudesse ordenar a seus anjos que o livrassem. A crucificação mostrou seu tremendo poder ao suportar o fardo de todos os pecados dos homens e vencer Satanás, despojando-o de suas vítimas.
Devemos sempre apegar-nos a essas verdades a respeito da crucificação. Não esqueçamos que os quadros e as esculturas não podem contar-nos nem um décimo do que aconteceu na cruz. Os crucifixos e as pinturas revelam-nos, no máximo,
apenas que um ser humano agonizou na cruz, sofrendo uma morte dolorosa. Entretanto, nada nos dizem sobre a transação que se realizou na cruz, a satisfação da lei de Deus, o pecado dos homens sendo carregado por Cristo, a vindicação do pecado assumida por nosso Substituto e a salvação gratuita obtida para o homem. Tudo isso está envolvido na crucificação. Não nos causa admiração que o apóstolo Paulo tenha clamado: "Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo" (G1 6.14).
Esses versículos também nos mostram a grande importância que o Senhor Jesus atribui ao amor fraternal. Logo após o falso apóstolo ter-se retirado do meio dos onze fiéis, o Senhor disse: "Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros". Ele o chamou de "novo mandamento" não porque não houvesse sido dado anteriormente, mas porque seria mais honrado (ou seja, ocuparia posição mais elevada) se fosse alicerçado em melhor exemplo do que o fora antes. Acima de tudo, esse mandamento serviria de teste para autenticar o cristianismo diante dos homens: "Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros".
Estejamos atentos para que essa tão bem conhecida virtude cristã não seja apenas um conceito em nossa mente, e sim uma prática em nosso viver. De todos os mandamentos de nosso Senhor, esse é o mais abordado, porém o menos praticado. No entanto, se pretendemos dizer algo quando afirmamos que somos crentes, isso será percebido em nossa conduta e em nossas palavras, em nossa tolerância e em nossas realizações, em nosso comportamento dentro e fora de casa e em nossas atitudes relacionadas à vida. Em especial, isso se evidenciará em nossa maneira de lidar com os outros crentes. Devemos considerá-los irmãos em Cristo, alegrando-nos em fazer qualquer coisa que promova a felicidade deles. Temos de abominar a inveja, a malícia e os ciúmes em relação a um membro do corpo de Cristo, considerando pecado esse tipo de atitude. Isso é o que o Senhor pretendia dizer ao nos mandar amar uns aos outros.
A obra de Cristo no mundo prosperaria mais rapidamente se obedecêssemos mais a esse mandamento. Não existe outra coisa que o mundo entenda e valorize mais do que o verdadeiro amor. Os homens que são incapazes de compreender doutrinas e nada sabem a respeito da teologia podem apreciar o amor, que atrai a atenção dos homens, fazendo-os refletir. Por amor aos incrédulos, se não por qualquer outro motivo, sigamos cada vez mais o amor.
Por último, esses versículos nos mostram quanta ignorância pode haver no coração de um verdadeiro crente. Simão Pedro declarou que estava pronto para morrer por seu mestre. Mas o Senhor disse que, naquela mesma noite, Pedro o negaria "três vezes". E sabemos que, de fato, isso aconteceu. O Senhor estava certo; Pedro, errado.
Devemos aceitar como um grande princípio de nossa vida espiritual o fato de que existe muita fraqueza em nossos corações; e não temos uma ideia adequada a respeito dessa fraqueza, não sabendo até que ponto podemos cair, se formos tentados. Às vezes, imaginamos, assim como o apóstolo Pedro, existirem coisas que provavelmente não faremos. Afinal de contas, não sabemos nada! A semente de todos os pecados encontra-se dormente em nosso coração e, quando despertada, precisa apenas de uma ocasião, um descuido ou do retraimento da graça de Deus, por um instante, a fim de produzir abundantes frutos. Assim como Pedro, é possível pensar que podemos realizar coisas maravilhosas para Cristo e aprender, por meio de experiências amargas, que não temos capacidade e poder algum.
Os servos de Cristo demonstrarão sabedoria ao se lembrarem dessas coisas. "Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia" (1Co 10.12). O humilde reconhecimento de nossa própria fraqueza íntima, uma constante dependência do Senhor para nos tornar fortes, uma vida de oração diária, porque não somos capazes de permanecer firmes - esses são os segredos da verdadeira segurança. O grande apóstolo dos gentios afirmou: "Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte" (2Co 12.10).
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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