06/03/2024
Leia Lucas 19.1-10
Em primeiro lugar, esses versículos nos ensinam que ninguém é tão impio que Cristo não possa salvar ou que fique longe do alcance do poder de sua graça. Essa passagem nos fala sobre um publicano rico que se tornou discípulo de Cristo. Não podemos imaginar outro caso que oferecesse menos probabilidade de conversão! Vemos um camelo passando pelo fundo de uma agulha e um rico entrando no reino dos céus. Contemplamos uma prova concreta de que, para Deus, todas as coisas são possíveis. Nesse relato, vemos um avarento coletor de impostos sendo transformado em um cristão generoso.
A porta da esperança, que o evangelho revela aos pecadores, está amplamente aberta. Permitamos que ela permaneça aberta tal como a encontramos. Não procuremos fechá-la com nossa intolerante ignorância. Nunca tenhamos receio de afirmar que Cristo "pode salvar totalmente" (Hb 7.25) e que o pior dos pecadores pode ser completamente perdoado, se vier a ele. Devemos oferecer o evangelho com ousadia ao pior e mais ímpio dos pecadores, dizendo-lhe: "Há esperança. Arrependa-se e creia. Ainda que seus pecados sejam como a escarlate, se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã" (Is 1.18). Talvez seja uma doutrina com aparência de tolice e licenciosidade para as pessoas mundanas. Mas constitui o evangelho daquele que salvou Zaqueu, em Jericó. Os médicos, às vezes, consideram incuráveis alguns casos de pessoas. Mas não existem casos incuráveis para o evangelho. Qualquer pecador poderá ser curado se apenas vier a Cristo.
Em segundo lugar, esses versículos nos ensinam quão poucas e simples são as coisas que frequentemente cooperam para a salvação de uma alma. Zaqueu "procurava ver quem era Jesus, mas não podia [...] por ser ele de pequena estatura". Curiosidade, e nada mais, parece ter sido o motivo de seu coração. Uma vez que a curiosidade brotou em seu íntimo, Zaqueu estava decidido a satisfazê-la. Para ter certeza de que veria Jesus, correu e, "adiante, subiu a um sicômoro". Dessa atitude insignificante, aos olhos dos homens, dependeu a salvação de Zaqueu. Nosso Senhor parou sob aquela árvore e disse: "Desce depressa, pois me convém ficar hoje em tua casa". A partir daquele momento, Zaqueu tornou-se um homem diferente. Naquela noite, ele dormiu como um verdadeiro cristão.
Nunca podemos desprezar o "dia dos humildes começos" (Zc 4.10). Não devemos reputar insignificante qualquer coisa que diga respeito à alma. Os caminhos pelo quais o Espírito Santo leva homens e mulheres a Cristo são maravilhosos e misteriosos. Com frequência, ele inicia em determinado coração uma obra que permanecerá por toda a eternidade, quando aqueles que a observam não percebem nada admirável. Em cada obra, precisa haver um começo; e, na obra espiritual, o começo em geral é muito insignificante. Vemos uma pessoa negligente começando a recorrer aos meios da graça, que, em tempos passados, eram por ela negligenciados? Nós a vemos ir à igreja e ouvir a pregação do evangelho, depois de ter passado muito tempo desprezando o domingo? Quando contemplarmos tais coisas, lembremo-nos de Zaqueu e tenhamos esperança. Não olhemos para tal pessoa com indiferença, imaginando que seus motivos no momento são pobres e questionáveis. Creiamos que é melhor ouvir o evangelho motivado por curiosidade do que não ouvi-lo de maneira alguma. Essa pessoa está agindo à semelhança de Zaqueu! Pelo que sabemos, ela pode tomar outros passos adiante. Quem não pode dizer que um dia ela receberá a Cristo com alegria? Em terceiro lugar, esses versículos nos ensinam a compaixão gratuita de Cristo para com os pecadores e seu poder de mudar os corações. É impossível imaginar um exemplo mais admirável que esse. Sem qualquer convite, nosso Senhor parou e conversou com Zaqueu. Espontaneamente, ele se ofereceu como hóspede para a casa de um pecador. Sem ser solicitado, o Senhor Jesus enviou a graça renovadora do Espírito Santo ao coração de um publicano, transformando-o, naquele momento, em um filho de Deus (Jr 3.19).
Levando em conta o relato dessa passagem, podemos dizer que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo jamais será exaltada em excesso. Não existem palavras para que possamos expressar, com intensa firmeza, a infinita prontidão de nosso Senhor para receber e sua infinita capacidade para salvar os pecadores. Acima de tudo, essa passagem nos habilita a afirmar com segurança que a salvação não vem das obras, mas, sim, da graça. Se houve alguém que foi buscado e salvo, sem ter feito nada para merecê-lo, essa pessoa foi Zaqueu. Apeguemo-nos com vigor a essas doutrinas e nunca as abandonemos. Elas valem muito mais do que rubis. A graça, a graça gratuita, é o único pensamento que concede aos homens descanso na hora da morte. De modo confiante, proclamemos essas doutrinas a todos com quem falarmos sobre as coisas espirituais. Exortemo-los a virem a Cristo, assim como estão, e a não demorarem na esperança vã de que podem preparar a si mesmos e tornar-se dignos de virem a ele. Devemos proclamar-lhes que Jesus Cristo os espera e deseja vir e habitar em seus infelizes corações pecaminosos, se eles apenas quiserem recebê-lo. Ele declara: "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo" (Ap 3.20).
Por último, esses versículos nos ensinam que pecadores convertidos sempre manifestarão evidências de sua conversão. Zaqueu, em sua casa, "se levantou e disse ao Senhor: Senhor, resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais". Houve veracidade nessas palavras; essa foi uma prova inconfundível de que Zaqueu era uma nova criatura. Quando um crente rico começa a distribuir sua riqueza e um extorquidor começa a fazer restituições, certamente podemos crer que as coisas velhas já passaram e tudo se fez novo (2Co 5.17). Houve determinação nessas palavras de Zaqueu. Ele disse: "Resolvo dar [...) restituo". Ele não estava falando de intenções futuras. Ele não afirmou: "Resolverei [...] restituirei". Tendo sido perdoado gratuitamente e ressuscitado dos mortos à vida, Zaqueu sentiu que poderia começar a demonstrar imediatamente quem ele era e a quem estava servindo agora.
Aquele que deseja provar que é um crente deve andar nos mesmos passos de Zaqueu, ou seja, tem de renunciar completamente aos pecados que antes o assediavam com facilidade; precisa seguir as virtudes cristãs que, no passado, ele habitualmente desprezava. Em todos os aspectos, um crente deve viver de tal modo que todos saibam que ele é um crente genuíno. A fé que não purifica o coração e a vida não é fé verdadeira. A graça que não pode ser vista, tal como a luz, e experimentada, assim como o sal, não é graça, mas hipocrisia. O homem que professa conhecer a Cristo e crer nele, enquanto se apega ao pecado e ao mundo, está se encaminhando para o inferno, com uma mentira bem ao seu lado. O coração que provou de fato a graça de Cristo odiará instintivamente o pecado.
Ao terminar nossa meditação sobre essa passagem, permitamos que o último versículo esteja sempre ecoando em nossos ouvidos: "O Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido". É como Salvador, mais do que como Juiz, que Cristo deseja ser conhecido. Certifiquemo-nos de que o conhecemos dessa maneira. Cuidemos em verificar se nossa alma está salva. Se estivermos convertidos, então diremos: "Que darei ao Senhor por todos os seus benefícios para comigo?" (Sl 116.12); e não reclamaremos que a autorrenúnica de Zaqueu foi uma exigência severa.
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
Muito Bom