05/04/2024
Leia Lucas 24.13-35
A história contida nesses versículos não se encontra em nenhum outro dos evangelhos. De todas as onze aparições de nosso Senhor depois de sua ressurreição, nenhuma parece ser tão interessante quanto a descrita nessa passagem.
Inicialmente, devemos observar nesses versículos que existe encorajamento na atitude de um crente falar ao outro sobre Cristo. Dois discípulos caminhavam juntos pela estrada para Emaús e conversavam a respeito da crucificação de nosso Senhor. Então, lemos estas admiráveis palavras: "Enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e ia com eles".
A conversa sobre as coisas espirituais é um dos mais importantes meios da graça. Assim como o ferro com o ferro se afia, assim também a troca de pensamentos espirituais aperfeiçoa a alma de um crente. Produz uma bênção especial para todos os que a praticam. As admiráveis palavras de Malaquias foram proferidas em benefício da Igreja de todas as épocas: "Os que temiam ao Senhor falavam uns aos outros; o Senhor atentava e ouvia; havia um memorial escrito diante dele para os que temem ao Senhor e para os que se lembram do seu nome. Eles serão para mim particular tesouro, naquele dia que preparei, diz o Senhor dos Exércitos" (Ml 3.16-17).
O que nós mesmos sabemos a respeito da conversa cristã com outros servos do Senhor Jesus? Talvez nós leiamos nossas Bíblias, oremos em particular e utilizemos os meios públicos da graça. E isso é muito bom. Mas, se fizermos apenas isso, estaremos negligenciando um grande privilégio e ainda temos muito a aprender. É preciso que consideremos uns aos outros, "para nos estimular ao amor e às boas obras" (Hb 10.24); bem como precisamos exortar e edificar "uns aos outros" (1Ts 5.11). Não temos tempo para conversas sobre verdades espirituais? Pensemos novamente. A quantidade de tempo desperdiçado em conversas frívolas, triviais e sem proveito é terrivelmente grande? Não encontramos nada para dizer sobre assuntos espirituais? Sentimo-nos mudos e temos nossa língua presa no que se refere aos assuntos de Cristo? Com certeza, se for o nosso caso, deve haver algo errado com nosso coração. Um coração correto diante de Deus geralmente encontrará palavras. "A boca fala do que está cheio o coração" (Mt 12.34).
Aprendamos uma lição com os dois viajantes de Emaús, citados nessa passagem. Conversemos sobre Jesus quando estamos assentados em nossos lares e andando pelo caminho, sempre que acharmos um discípulo com o qual poderemos conversar (Dt 6.7). Se cremos que estamos viajando em direção ao céu, onde Cristo será o objeto central de todos os pensamentos, aprendamos o comportamento dos céus enquanto estamos vivendo na terra. Agindo desse modo, frequentemente teremos conosco aquele que agora não podemos enxergar, mas que fará nosso coração arder em nosso íntimo por abençoar nossa conversação.
Em seguida, devemos observar nesses versículos quão fraco e imperfeito era o conhecimento de alguns dos discípulos de nosso Senhor. Os dois discípulos de Emaús confessaram sinceramente que suas expectativas haviam sido desapontadas pela crucificação de Cristo. Afirmaram: "Esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel". Uma redenção temporal dos judeus realizada por um conquistador parece ter sido a redenção que eles aguardavam. Uma redenção espiritual por meio de uma morte sacrificial era uma ideia que suas mentes não podiam assimilar por completo.
Eles demonstraram uma ignorância, à primeira vista, verdadeiramente estarrecedora. Não devemos ficar surpresos com a repreensão severa que saiu dos lábios de nosso Senhor: "O néscios e tardios de coração para crer". No entanto, podemos aprender algo da ignorância deles. O fato nos mostra que temos poucos motivos para ficar admirados diante da obscuridade espiritual que envolve a mente de muitos crentes desleixados. Milhares ao nosso redor ignoram o significado dos sofrimentos de Cristo, assim como esses viajantes de Emaús. Enquanto o mundo existir, a cruz será reputada como loucura para o homem natural.
Devemos bendizer a Deus, porque a verdadeira graça divina pode estar oculta por trás de muita ignorância intelectual. Um conhecimento nítido e acurado é muito útil, mas não é essencial à salvação; podemos possuí-lo sem ter a graça divina em nosso coração. Um profundo senso de pecado, uma humilde disposição de ser salvo à maneira que Deus requer, uma prontidão para abandonar nossos preconceitos, quando um caminho mais excelente nos for mostrado - essas são as características mais importantes. Os discípulos de Emaús as possuíam; por isso, nosso Senhor foi com eles e os guiou a toda a verdade. Também devemos observar nesses versículos que o Antigo Testamento está repleto de ensinos sobre a pessoa de Cristo. Nosso Senhor, "começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras".
Como podemos explicar as palavras de Cristo? De que maneira nosso Senhor expôs-lhes "o que a seu respeito constava em todas as Escrituras"? A resposta é simples e curta. Cristo era a essência de todos os sacrifícios ordenados na lei de Moisés. Cristo era o verdadeiro Libertador e Rei, do qual todos os juízes e libertadores da história de Israel eram apenas figura; ele era o Profeta vindouro, maior do que Moisés, cujo glorioso advento enchia as páginas dos profetas. Cristo era a verdadeira semente da mulher, que pisaria a cabeça da serpente; ele era o verdadeiro descendente em quem todas as nações seriam benditas. Cristo era o verdadeiro Siló, a quem todo o povo se reuniria; ele era o verdadeiro bode da expiação, a verdadeira serpente de bronze, o verdadeiro Cordeiro, para o qual todos os sacrifícios diários apontavam. Cristo era o verdadeiro Sumo Sacerdote, de quem todos os descendentes de Arão eram apenas figuras. Esses fatos e outros semelhantes certamente foram alguns que nosso Senhor explicou no caminho para Emaús.
Na leitura da Bíblia, devemos ter em mente o firme princípio de que Cristo é o assunto central de todas as Escrituras. Enquanto o mantivermos diante de nossos olhos, jamais cometeremos grandes erros em nossa busca por conhecimento espiritual. Se o perdermos de vista, acharemos a Bíblia inteira um livro obscuro e cheio de dificuldades. Jesus Cristo é a chave do conhecimento bíblico.
Por último, devemos observar nesses versículos quanto Jesus aprecia ser solicitado por seu povo. Quando os discípulos se aproximavam de Emaús, nosso Senhor "fez menção de passar adiante". Ele deseja ver se os discípulos estavam cansados de sua conversa. Mas não estavam. "Eles o constrangeram, dizendo: Fica conosco, porque é tarde, o dia já declina. E entrou para ficar com eles. "Há alguns acontecimentos semelhantes registrados nas Escrituras. Nosso Senhor acha conveniente, para nosso bem, suster suas misericórdias até que por elas imploremos. Ele não nos concede obrigatoriamente seus dons, não buscados e não solicitados. O Senhor Jesus aprecia extrair de nós nossos desejos e compelir-nos a exercitar nossas afeições espirituais, aguardando por nossas orações. Ele agiu dessa maneira com Jacó. "Deixa-me ir", disse ele, "pois já rompeu o dia". Em seguida, temos aquela nobre declaração dos lábios de Jacó: "Não te deixarei ir se me não abençoares" (Gn 32.26). A história da mãe cananeia, a história da cura de dois cegos de Jericó, a história do homem nobre de Cafarnaum, a parábola do juiz iníquo e a do amigo que chegou à meia-noite, todas têm o propósito de nos ensinar a mesma lição; todas demonstram que nosso Senhor aprecia muito ser solicitado e gosta de ser incomodado.
Devemos agir de acordo com esse princípio em todas as nossas orações. Devemos pedir muito e com frequência, não perdendo nada por falta de orarmos. Não sejamos como o rei de Israel que feriu a terra somente três vezes e parou (2Rs 13.18). Pelo contrário, recordemos as palavras do salmo de Davi: "Abre bem a boca, e ta encherei" (S1 81.10). O homem que impõe, em oração, um santo constrangimento sobre a pessoa de Cristo é o que mais desfruta de sua presença.
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
Comments