A habilidade e a condescendência de Cristo; sua prontidão em perdoar; a excelência de seus dons; a necessidade de estar convicto de pecados; a inutilidade da religião formal; a bondade de Cristo em relação aos grandes pecadores.
15/05/2024
Leia João 4.7-26
A história da mulher samaritana é uma das mais interessantes e instrutivas no Evangelho de João. O evangelista nos mostrou, no caso de Nicodemos, como nosso Senhor abordou um homem formal e cheio
de justiça própria. Agora nos mostra como o Senhor lidou com uma mulher a quem faltava conhecimento e que tinha uma mente carnal, uma mulher cujo caráter era péssimo. Nessa passagem, há lições que devem ser ponderadas pelos ministros e ensinadores do evangelho.
Destaquemos, em primeiro lugar, a condescendência de Cristo ao lidar com uma pecadora indiferente. O Senhor estava assentado junto à fonte de Jacó quando uma mulher de Samaria veio em busca de água. Imediatamente, Jesus lhe disse: "Dá-me de beber". Ele não esperou ser abordado por ela, não iniciou repreendendo-a por seus pecados, embora os conhecesse muito bem. Jesus abriu o canal de comunicação, fazendo-lhe um pedido. Ele se aproximou da mulher, falando a respeito de "água", que era, naturalmente, a maior preocupação para ela naquele momento. Esse pedido pode parecer simples, mas abriu as portas para uma conversa espiritual, serviu de ponte para eliminar a distância que havia entre ambos e culminou na conversão daquela alma.
A conduta do Senhor Jesus, demonstrada naquela oportunidade, deve ser relembrada com especial atenção por todos os que desejam levar benefícios aos ignorantes e indiferentes às coisas espirituais. É inútil esperar que as pessoas venham a nós em busca de conhecimento. Nós é que devemos abordá-las, chegando-nos a elas com um espírito cortês e amigável, sendo, ao mesmo tempo, firmes e ousados. É inútil pensar que estarão preparadas para receber nossa instrução e que entenderão e reconhecerão de imediato a sabedoria que há em tudo o que fazemos. É preciso agir com prudência. Devemos considerar qual a melhor maneira de atingir seus corações e despertar-lhes a atenção. Cada pessoa tem uma chave que dá acesso aos seus pensamentos; nosso objetivo principal deve ser lançar mão dessa chave. E, acima de tudo, devemos ser amáveis e cautelosos, para não demonstrar que somos conscientes de ter um conhecimento superior. Se as pessoas sem entendimento espiritual pensarem que, ao lhes anunciarmos o evangelho, achamos que, com isso, prestamos um grande favor, haverá pouca esperança de estarmos fazendo bem às suas almas.
Notemos, em segundo lugar, a prontidão de Cristo em demonstrar misericórdia pelos pecadores indiferentes. Ele disse à mulher samaritana que lhe daria "água viva" se ela lhe pedisse. Jesus conhecia perfeitamente o caráter daquela pessoa que estava diante dele. Assim mesmo, afirmou que daria a água viva de sua graça, misericórdia e paz se ela lhe pedisse.
A infinita disposição de Cristo em receber os pecadores é uma preciosa verdade, que deve ser guardada como tesouro em nossos corações e transmitida com diligência aos outros. O Senhor Jesus está sempre mais disposto a nos ouvir do que nós a orar; e sempre mais pronto a nos conceder seu favor do que nós a lhe pedir. Continuamente, estende suas mãos ao desobediente e rebelde. Seus pensamentos são de amor e compaixão para com os pecadores mais vis, mesmo que sequer considerem isso. Ele está pronto a conceder misericórdia e graça ao pior e mais indigno dos homens se tão somente clamar a ele. Jamais deixará de cumprir a promessa que bem conhecemos: "Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis". No último dia, os homens perdidos descobrirão que nada tiveram porque nada pediram.
Devemos destacar, em terceiro lugar, o valor incalculável da excelência dos dons de Cristo em comparação às coisas deste mundo. Jesus disse à samaritana: "Quem beber desta água tornará a ter sede; aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede".
A verdade contida nesse princípio pode ser vista claramente por todos os que não estão cegos pelo preconceito e pelo amor a este mundo. Milhares de pessoas possuem todas as coisas passageiras que seus corações desejam; mas, assim mesmo, estão cansadas e insatisfeitas. No tempo presente, sucede o mesmo que no tempo de Davi: "Há muitos que dizem: Quem nos dará a conhecer o bem?" (S1 4.6). Riquezas, posições, prestígio, cultura e diversões são totalmente incapazes de satisfazer a alma. Certamente, a pessoa que bebe apenas desse tipo de água voltará a ter sede. Todo aquele que é semelhante a Acabe encontra, perto de seu palácio, uma vinha difícil de ser adquirida. Todo o que é como Hama vê um Mordecai junto ao portão de entrada. Neste mundo, não é possível encontrar satisfação no coração, exceto por meio da fé em Cristo. Somente Jesus Cristo pode preencher os espaços vazios em nosso homem interior. Somente ele pode dar felicidade real e duradoura. A paz concedida por ele é como uma fonte que, começando a jorrar na alma, jorra por toda a eternidade. As águas dessa fonte poderão diminuir ou aumentar ocasionalmente; mas são águas vivas e nunca secarão por completo. Em quarto lugar, destacamos a absoluta necessidade de haver na alma a convicção de pecados, para que ela seja convertida a Deus. Parece que a mulher samaritana permaneceu inabalada até que nosso Senhor mostrou-lhe que estava transgredindo o sétimo mandamento. "Vai, chama o teu marido" - essas palavras penetrantes de Jesus traspassaram, como uma flecha, a consciência daquela mulher. Daquele momento em diante, embora fosse uma pessoa sem conhecimento, passou a inquirir como alguém que buscava sinceramente a verdade. E a razão era óbvia: pela primeira vez na vida, ela enxergou a si mesma como realmente era.
Levar pessoas a essa condição deve ser o principal objetivo dos pregadores do evangelho. Eles precisam imitar o exemplo dado pelo Mestre naquela ocasião. Bem algum será ministrado a qualquer homem ou mulher até que sejam levados a sentir seu pecado e sua necessidade. A menos que o pecador veja a si mesmo como Deus o vê, continuará indiferente, frivolo e insensível. Devemos procurar convencê-lo quanto ao seu pecado, aguçar sua consciência, abrir seus olhos e mostrar-lhe o que ele realmente é. Com esse alvo em mente, precisamos mostrar-lhe a extensão e a amplitude da santa lei de Deus; e denunciar toda prática contrária a essa lei, mesmo que sejam práticas costumeiras à sociedade. Esse é o único meio de se promover o bem. Ninguém poderá valorizar a cura que há no evangelho até sentir a própria enfermidade. Homem algum pode entender a beleza que há em Cristo, como Salvador que ele é, a menos que enxergue a si mesmo como um pecador perdido e corrompido. A rejeição da pessoa de Cristo está inevitavelmente vinculada à ignorância em relação ao pecado.
Vemos, em quinto lugar, como é inútil qualquer religião que consiste apenas de formalidades. Ao ser despertada para os assuntos espirituais, a mulher samaritana interrogou sobre os méritos da adoração prestada pelos samaritanos, comparando-a ao modo como os judeus adoravam. Jesus lhe disse que a adoração verdadeira e aceitável não depende do lugar em que é prestada, mas do coração daquele que adora. Ele declarou: "A hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai". E acrescentou: "Os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade".
O princípio contido nesses versículos jamais será assimilado por completo pelos que professam fé em Cristo. Somos naturalmente inclinados a transformar a religião em uma simples questão de cerimônia e formalidade exterior, atribuindo excessiva importância à maneira como adoramos a Deus. Devemos ter cuidado com essa atitude, especialmente quando pensamos com seriedade sobre nossas almas. O coração é o aspecto principal em toda a nossa aproximação de Deus. O Senhor olha para o coração (1Sm 16.7). O culto prestado na mais suntuosa catedral será ofensivo aos olhos de Deus se tudo for feito de maneira fria, insensível e inexpressiva. Uma simples reunião de três ou quatro crentes humildes em uma choupana, a fim de ler a Bíblia e orar, é mais aceitável aos olhos daquele que sonda os corações do que uma grande multidão reunida numa catedral idólatra.
Por último, notemos a graciosa disposição de Cristo em se revelar aos mais desprezíveis pecadores. Jesus concluiu sua conversa com a mulher samaritana dizendo-lhe abertamente e sem reservas que era o Salvador do mundo: "Eu o sou, eu que falo contigo". Em nenhuma outra parte dos evangelhos encontramos nosso Senhor fazendo uma declaração mais completa sobre sua natureza e seu ofício do que nessa ocasião. É bom lembrar que essa declaração não foi feita aos escribas eruditos ou aos fariseus moralistas, mas a alguém que, até aquele dia, havia sido uma pessoa imoral, indiferente e sem conhecimento espiritual!
A maneira de abordar pecadores, assim como vemos aqui, constitui uma das grandes peculiaridades do evangelho. Qualquer que tenha sido o passado de alguém, em Cristo há esperança e solução se essa pessoa tão somente ouvir a voz de Cristo e segui-lo. Jesus está pronto para recebê-lo como amigo e derramar-lhe a mais rica porção de sua misericórdia e graça. A mulher samaritana, o ladrão arrependido, o carcereiro de Filipos, Zaqueu, o publicano, todos são exemplos da prontidão de Cristo em demonstrar sua misericórdia e conferir perdão imediato e total. Nesse sentido, a grande glória de Cristo é que, assim como um grande médico, ele traz cura aos que, aparentemente, são incuráveis. Aos olhos dele, não há ninguém tão mau que ele não possa amar e curar. Deixemos essas coisas penetrar em nossos corações. Por mais que tenhamos dúvidas, nunca devemos duvidar de que o amor de Cristo pelos pecadores ultrapassa nosso entendimento e que ele está tão disposto a recebê-los quanto é poderoso para salvá-los.
E, quanto a nós, o que somos? Essa é a pergunta que chama a nossa atenção. Talvez, até agora, tenhamos vivido de modo descuidado, indiferente e pecaminoso, assim como a mulher da história que lemos. Aquele que conversou com a mulher samaritana junto à fonte continua vivo e imutável, à direita de Deus. Se lhe pedirmos, ele nos dará "água viva".
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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