11/05/2024
Leia João 3.1-8
Essa passagem, que começa relatando a conversa entre Cristo e
Nicodemos, é uma das mais importantes de toda a Bíblia. Em nenhuma outra parte encontramos declarações mais contundentes sobre o novo nascimento e a salvação pela fé no Filho de Deus. Aquele que é servo de Cristo procurará conhecer profundamente esse capítulo do evangelho. O homem pode ignorar muitas coisas na vida espiritual e ainda ser salvo; mas ignorar os assuntos abordados nesse capítulo significa estar no caminho largo, o caminho que conduz à perdição.
Observemos, em primeiro lugar, como o homem pode ter um início frágil e insignificante na vida espiritual e, depois, tornar-se um crente maduro. Lemos sobre um fariseu chamado Nicodemos que, por estar preocupado com sua alma, "de noite, foi ter com Jesus"
Há pouca dúvida de que, nessa ocasião, Nicodemos tenha agido dessa maneira por medo dos homens. Estava com medo do que as pessoas poderiam dizer ou fazer se essa visita a Jesus se tornasse conhecida. Ele foi "de noite" porque não tinha fé nem coragem suficiente para ir durante o dia. Contudo, mais tarde, veio o tempo em que esse mesmo Nicodemos tomou posição em favor de Cristo à plena luz do dia, ao participar do conselho dos judeus. "Acaso, a nossa lei julga um homem sem primeiro ouvi-lo e saber o que ele fez?" (Jo 7.51). E não parou nisso. Veio o tempo em que esse mesmo Nicodemos e mais outro homem foram os únicos a honrar o corpo sem vida do Senhor Jesus. Ele ajudou José de Arimateia a sepultar Jesus quando os apóstolos abandonaram o Mestre e fugiram. Seus últimos atos foram maiores que os primeiros. E, embora ele tenha começado de modo imperfeito, terminou bem.
A história de Nicodemos nos ensina que, na vida espiritual, nunca devemos
desprezar "o dia dos humildes começos" (Zc4.10). Não devemos considerar ninguém destituído da graça somente porque seus primeiros passos em direção a Deus são tímidos e vacilantes ou porque, no início, sua alma se move em direção ao Senhor de maneira incerta, hesitante, marcada por muita imperfeição. Precisamos nos lembrar do modo como Jesus recepcionou Nicodemos. Ele não esmagou "a cana quebrada" nem apagou a cana "torcida" que estava diante de seus olhos (Mt 12.20). E, assim como Jesus, também devemos dar assistência aos que estão se iniciando na fé, tratando-os gentil e amavelmente. Para tudo, há um princípio. Nem sempre os que primeiro professam ardorosamente sua vida de fé são os que resistem às mais intensas provações e demonstram mais firmeza. Judas Iscariotes já era um apóstolo quando Nicodemos estava apenas começando a andar na direção da luz plena. No entanto, tempos depois, quando Nicodemos, com ousadia, ajudava a sepultar o seu Salvador crucificado, Judas Iscariotes já havia praticado a traição e se enforcado. Esse é um fato que não deve ser esquecido.
Vejamos, em segundo lugar, a grande mudança que o Senhor mostra como necessária à salvação e que figura notável usou para descrever essa mudanca. Ele falou sobre o novo nascimento. "Se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus", disse ele a Nicodemos. E, para que ficasse mais claro ao seu ouvinte, Jesus falou a mesma verdade com outras palavras: "Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. Ao usar essa figura, era seu desejo que Nicodemos entendesse que ninguém pode tornar-se seu discípulo a menos que o homem interior seja inteiramente purificado e renovado pelo Espírito, assim como o homem exterior é lavado pela água. Para ter os privilégios do judaísmo, era necessário apenas nascer da semente de Abraão, segundo a carne. Mas, para ter os privilégios do reino de Cristo, o homem precisa nascer de novo, pelo Espírito Santo.
Evidentemente, a mudança que o Senhor afirma ser necessária para a salvação não é leviana ou superficial. Não se trata de uma simples reforma, melhoria, transformação moral ou mudança de comportamento. Trata-se de uma profunda mudança de coração, de vontade e de caráter. É uma ressurreição espiritual, uma nova criação. Significa passar da morte para a vida. É a instauração de uma nova vida celestial em nossos corações inertes. É o surgimento de uma nova criatura, com uma nova natureza, novos hábitos, interesses, desejos, apetites, discernimentos, pensamentos, esperanças e temores. Tudo isso, e não menos do que isso, é o que está envolvido na declaração que o Senhor fez sobre a necessidade que todos nós temos: "Importa-vos nascer de novo".
Para que haja salvação, essa mudança interior é absolutamente necessária, devido à natureza corrompida com que todos nós, sem exceção, somos nascidos. "O que é nascido da carne é carne." Nossa natureza é inteiramente decaída. "O pendor da carne é inimizade contra Deus" (Rm 8.7). Viemos a este mundo sem fé, sem amor e sem temor a Deus. Não temos qualquer inclinação natural para servi-lo ou obedecer a ele, nem qualquer prazer natural em fazer a sua vontade. Nenhum filho de Adão se voltaria para Deus se fosse deixado por sua própria conta. A expressão "novo nascimento" é a figura mais adequada para descrever a mudança necessária a todos nós, a fim de que sejamos crentes verdadeiros.
Nunca esqueçamos que não podemos proporcionar a nós mesmos tão grande mudança. O nome que o Senhor atribuiu a esse acontecimento - nascer de novo - é uma prova convincente do que acabamos de afirmar. Nenhum homem é o autor de sua própria existência, nem pode dar vida à sua própria alma. É tão impossível um cadáver dar vida a si mesmo quanto um homem natural tornar-se espiritual por suas próprias forças. Para isso, é preciso ser posto em ação o mesmo poder que criou o mundo (2Co 4.6). O homem pode realizar muitas coisas, mas não pode dar vida a si mesmo nem a outros. Conceder vida é uma prerrogativa peculiar de Deus. Com razão, o Senhor declarou que precisamos "nascer de novo".
Acima de tudo, devemos lembrar que, sem essa grande mudança, não entraríamos no céu; e, se entrássemos, não sentiríamos prazer em estar ali. Quanto a esse assunto, Jesus foi claro e objetivo ao dizer que, se alguém não nascer de novo, "não pode ver" nem "entrar no reino de Deus" (vv. 3, 5). O céu pode ser alcançado sem dinheiro, posição ou conhecimento humano; mas está absolutamente claro que, sem o novo nascimento, ninguém entrará no céu.
Vejamos, por último, a instrutiva comparação que o Senhor usou para explicar o novo nascimento. Ele viu que Nicodemos ficara perplexo e admirado pelas coisas que acabara de ouvir. E, de bom grado, esclareceu a confusão que estava em sua mente, utilizando a ilustração sobre o vento. Seria impossível conceber uma ilustração mais bela e adequada em relação à obra do Espírito.
Muitas coisas a respeito do vento são misteriosas e inexplicáveis. "Não sabes donde vem, nem para onde ele vai", disse o Senhor. Não podemos vê-lo ou segurá-lo em nossas mãos. Quando o vento sopra, não somos capazes de apontar o lugar exato no qual seu primeiro fôlego foi percebido, nem prever a que distância se estenderá. Mas, apesar de tudo isso, não negamos a sua presença. O mesmo acontece quanto à obra realizada pelo Espírito no homem, por ocasião do novo nascimento. Trata-se de uma operação misteriosa, soberana e incompreensível para nós, em muitos aspectos. Mas é tolice tropeçarmos nesse assunto, por haver nele muitas coisas que não podemos entender.
Por mais que existam mistérios em relação ao vento, sua presença pode ser notada pelo som que produz e por seus efeitos. "Ouves a sua voz", disse Jesus. Quando ouvimos o seu barulho, ao soprar pela janela, e vemos as nuvens sendo empurradas por ele, costumamos dizer: "Está ventando hoje!". Ocorre o mesmo na operação do Espírito Santo no novo nascimento efetuado no homem. Por mais admirável e incompreensível que seja essa obra, sempre pode ser vista e notada. O novo nascimento é algo que não pode ser ocultado. Sempre haverá frutos visíveis do Espírito naquele que é nascido dele.
Porventura sabemos quais são as marcas do novo nascimento? Para o nosso aprendizado, podemos encontrá-las na primeira carta de João. O que é nascido de Deus "crê que Jesus é o Cristo" (1Jo 5.1); "não vive na prática do pecado" (1Jo 3.9); "pratica a justiça" (1Jo 2.29); ama "os irmãos" (1Jo 3.14); "vence o mundo" (1Jo 5.4); Cristo "o guarda, e o Maligno não lhe toca" (1Jo 5.18). Assim é o homem nascido do Espírito! Na vida em que esses frutos podem ser vistos, houve o novo nascimento, do qual o Senhor Jesus falou. Aquele que não possui essas marcas ainda está morto em delitos e pecados.
Perguntemos com seriedade a nós mesmos se já experimentamos essa grande mudança sobre a qual estivemos lendo. Já nascemos de novo? É possível os sinais do novo nascimento serem vistos em nós? A voz do Espírito Santo pode ser ouvida em nossas conversas no dia a dia? É possível notar, em nossa vida, as marcas da presença do Espírito? Feliz é o homem que pode dar respostas satisfatórias a essas questões! Virá o dia em que aqueles que não nasceram de novo desejarão nunca ter nascido.
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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