12/05/2024
Leia João 3.9-21
Nesses versículos, temos a segunda parte da conversa entre o Senhor Jesus Cristo e Nicodemos. Logo após o ensino sobre a regeneração, o Senhor apresenta ensinamentos a respeito da justificação. Toda
essa passagem deve sempre ser lida com grande reverência. Nela, estão contidas palavras que têm concedido vida eterna a um número incontável de pessoas.
Inicialmente, observamos como os homens importantes e eruditos podem apresentar grande ignorância espiritual. Vemos aqui um "mestre em Israel" que desconhecia os elementos básicos da fé salvadora. Ao ser informado sobre o novo nascimento, imediatamente Nicodemos exclama: "Como pode suceder isso?". Se o entendimento de um mestre dos judeus estava assim obscurecido, como deveria estar a condição do povo judeu? Era realmente o tempo apropriado para a vinda de Cristo! Os pastores de Israel haviam cessado de alimentar com conhecimento o povo. Um cego guiava outro cego, e ambos caíam no barranco (Mt 15.14).
Infelizmente, ignorância como a de Nicodemos é muito comum na Igreja de Cristo. Não devemos ficar surpresos se encontrarmos a mesma espécie de ignorância em muitos daqueles em quem esperávamos encontrar conhecimento. A erudição e a posição eclesiástica não são provas de que o ministro de Cristo é instruído pelo Espírito. Em todas as épocas, os sucessores de Nicodemos têm sido muito mais numerosos do que os sucessores de Pedro. Em nenhum outro ponto é tão comum haver ignorância espiritual do que no assunto relacionado à obra do Espírito Santo. Essa antiga pedra na qual Nicodemos tropeçou tem servido de tropeço para milhares de pessoas nos dias de hoje, assim como nos dias de Cristo. "Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus" (1Co 2.14). Feliz é aquele que sabe julgar todas as coisas segundo as Escrituras e a ninguém sobre a terra chama de mestre (1Ts 5.21; Mt 23.9).
Em segundo lugar, a passagem nos indica a fonte natural de onde procede a salvação do homem. Essa fonte é o amor de Deus, o Pai. Nosso Senhor disse a Nicodemos: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna".
Foi com razão que Lutero chamou de "Biblia em miniatura" esse versículo maravilhoso. As primeiras palavras talvez sejam as mais importantes: "Deus amou o mundo de tal maneira". O amor aqui mencionado não se refere àquele amor especial com que o Pai contempla seus escolhidos, mas, sim, à grande compaixão e misericórdia com que ele olha para toda a raça humana. O alvo desse amor não é somente o pequeno rebanho que, desde a eternidade, ele concedeu a Cristo, mas também o "mundo", constituído por todos os pecadores, sem exceção. Em certo sentido, Deus ama profundamente este mundo. Com misericórdia e compaixão, contempla todos os que por ele foram criados. Deus não ama os pecados dos homens, mas, sim, suas almas. "O SENHOR é bom para todos, e suas ternas misericórdias permeiam todas as suas obras" (S1 145.9). Cristo é a graciosa dádiva de Deus para o mundo inteiro.
Vigiemos para que nossa compreensão do amor de Deus seja escriturística e bem definida. Existem erros abundantes quanto a essa questão.
Por um lado, devemos ter cuidado com opiniões vagas e exageradas. Precisamos afirmar, com segurança, que Deus odeia a impiedade e que o fim de todos os que nela persistem será a destruição. Não é certo dizer que o amor de Deus torna o inferno desnecessário; assim como não é correto dizer que Deus amou o mundo de tal maneira que todos os seres humanos acabarão sendo salvos. É correto afirmar que ele amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho para ser o Salvador de todos os que creem. Seu amor é oferecido de maneira gratuita, inteira, sincera e irrestrita; mas unicamente por meio da redenção que há em Cristo. Aquele que rejeita Cristo exclui a si mesmo do amor de Deus e perecerá eternamente. Por outro lado, precisamos ter cuidado para não assumir uma posição extremista a esse respeito. Não devemos hesitar em dizer a qualquer pecador que Deus o ama. Não é verdade que Deus se importa apenas com seus eleitos ou que Cristo é oferecido somente aos que estão ordenados à vida eterna. Em Deus, há "bondade e amor" para todos os homens. Foi por causa desse amor que Cristo veio ao mundo e morreu na cruz. Não procuremos ser sábios além do que está escrito, nem mais sistemáticos em nossas afirmativas do que a própria Escritura. Deus não tem prazer na morte do ímpio. Não deseja que qualquer um deles pereça; antes, deseja que sejam salvos. Deus ama o mundo (Jo 6.33; Tt 3.4; Jo 4.10; 2Pe 3.9; 1Tm 2.4; Ez 33.11). Em terceiro lugar, vemos o plano através do qual o amor de Deus trouxe salvação aos pecadores. Esse plano foi a morte expiatória de Cristo na cruz. Jesus disse a Nicodemos: "E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo o que nele crê tenha a vida eterna".
Por "seja levantado", nosso Senhor referia-se a nada menos que sua morte na cruz. Ele nos fez saber que sua morte estava designada por Deus para ser a "vida do mundo" (Jo 6.51). Foi ordenada, desde a eternidade, para ser a propiciação pelo pecado do homem e a satisfação da justiça divina. Era o pagamento efetuado pelo sublime substituto e representante do enorme débito que o homem tinha para com Deus. Quando Cristo morreu na cruz, nossos muitos pecados foram colocados sobre ele, que foi feito "pecado" (2Co 5.21) e "maldição" por nós (GI 3.13). Por sua morte, ele obteve o perdão e a completa redenção para os pecadores. A serpente de bronze levantada no acampamento de Israel trouxe saúde e cura, ao alcance de todos os que haviam sido picados pelas serpentes. Da mesma forma, Cristo crucificado trouxe vida eterna, que está ao alcance da humanidade perdida. Ele foi levantado na cruz; e o homem é salvo ao contemplá-lo pela fé.
Essa verdade que acabamos de considerar é a pedra fundamental do cristianismo. A morte de Cristo é a vida do crente. A cruz de Cristo confere ao crente o direito ao céu. O Cristo "levantado" e submetido à vergonha no Calvário é o acesso pelo qual os crentes adentram o "Santo dos Santos e chegam finalmente à glória. É verdade que somos pecadores, mas Cristo sofreu por nós. É verdade que merecemos a morte, mas Cristo morreu por nós. É também verdade que somos devedores e culpados, mas Cristo pagou nossos débitos com seu próprio sangue. Esse é o evangelho autêntico! Essas são as boas-novas! Enquanto vivermos, dependamos dessas verdades e a elas nos apeguemos na morte. Cristo foi "levantado" na cruz e abriu completamente os portões do céu a todos os que creem.
Em quarto lugar, notamos a maneira pela qual os benefícios de Cristo tornam-se nossos. Para isso, é necessário simplesmente depositar em Cristo nossa fé e confiança. Ter fé significa crer. Por três vezes, o Senhor repetiu essa verdade gloriosa a Nicodemos. Por duas vezes, ele disse: "Para que todo o que nele crê não pereça"; e também uma vez afirmou: "Quem nele crê não é julgado".
Ter fé em Cristo é a chave para a salvação. Aquele que tem fé em Cristo tem a vida eterna, enquanto o que não crê nele não a tem. Nada mais é necessário, além dessa fé, para nossa completa justificação; porém, nada mais nos dará direito aos benefícios de Cristo a não ser essa fé. Podemos jejuar e nos lamentar por nosso pecado, fazer muitas coisas corretas, cumprir ordenanças religiosas, dar todos os nossos mantimentos para alimentar os pobres e, ainda assim, não sermos perdoados e perdermos nossa alma. Mas, se tão somente viermos a Cristo como pecadores culpados e nele crermos, seremos imediatamente perdoados e nossas iniquidades serão inteiramente removidas. Sem fé, não há salvação; todavia, por meio da fé em Jesus Cristo, o mais vil dos pecadores pode ser salvo.
Se queremos ter uma consciência em paz, no que se refere à vida espiritual, cuidemos para que nossa compreensão sobre a fé salvadora seja clara e bem definida. Devemos tomar cuidado para não considerarmos a fé que traz justificação nada mais que uma simples confiança do pecador no Salvador, assim como um homem que está se afogando segura na mão que se estende em seu auxílio. No assunto da justificação, tenhamos cautela para não mesclar a fé com nenhuma outra coisa. Quanto a isso, devemos sempre lembrar que somente a fé é necessária. Não há dúvida de que o homem justificado será sempre um homem santo. A verdadeira fé sempre será acompanhada por uma vida santa.
Mas o que desperta no homem o desejo pelas coisas de Cristo não é a vida do homem, e sim sua fé. Se quisermos saber se nossa fé é genuína, fazemos bem em ver como estamos vivendo. Mas, se quisermos nos certificar de que somos justificados por Cristo, há somente uma pergunta a ser feita: "Nós realmente cremos em Cristo?"
Por último, vemos nesses versículos a causa verdadeira para a alma do homem se perder. Nosso Senhor disse a Nicodemos: "O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más". Essas palavras formam uma conclusão adequada para o assunto grandioso que estivemos considerando. Por meio delas, vemos que não há qualquer injustiça da parte de Deus quanto à condenação dos pecadores. Em termos simples e inconfundíveis, esse versículo mostra que, embora a salvação do homem dependa inteiramente de Deus, a ruína do homem, caso se perca, depende inteiramente dele mesmo. O homem colherá o fruto de sua própria semeadura. A doutrina aqui exposta deve ser cuidadosamente lembrada. Nela, há resposta para uma objeção comum feita pelos inimigos da verdade divina. Não existe um decreto de rejeição que exclua do céu quem quer que seja. "Deus enviou seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele." Não há falta de vontade, da parte de Deus, em receber qualquer pecador, seja qual for a gravidade dos pecados cometidos. Deus enviou "luz" ao mundo, e, se o homem não vem para a luz, a ele pertence toda a culpa. Seu sangue cairá sobre sua própria cabeça, caso leve sua alma à perdição. Sua culpa estará diante de si mesmo, se errar o caminho do céu. A miséria eterna que lhe sobrevirá será o resultado de sua própria escolha. Sua destruição será fruto do trabalho de suas próprias mãos. Deus o amou e estava pronto para salvá-lo, mas ele amou "mais as trevas"; portanto, as trevas deverão ser a sua porção eterna. Ele não quis vir a Cristo, portanto não pôde ter a vida (Jo 5.40).
As verdades que estamos considerando são solenes e significativas. Porventura, demonstramos em nosso viver que cremos dessa maneira? Hoje, está próxima de nós a salvação pela morte de Cristo. Nós temos abraçado essa salvação e nos apropriado dela? Não descansemos enquanto não conhecermos a Cristo como nosso Salvador. Sem demora, busquemos nele o perdão e a paz, se ainda não fizemos isso. Continuemos a crer em Cristo, se nele já confiamos. "Para que todo o que nele crê", conforme graciosamente ele afirmou, "não pereça, mas tenha a vida eterna".
Leituras diárias compiladas para o Ministério das Mulheres IESBR por Sónia Ramos
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